terça-feira, 8 de setembro de 2009

Debate entre Jerónimo de Sousa e Paulo Portas

O debate entre JS e PP foi dos debates mais elucidantes de quão dramática é a situação do nosso país. Pensar que ambos os partidos de que são líderes têm à volta do mesmo número de votos nas eleições recentes é coisa para nos fazer desesperar. JS, que julgo ser pessoa de bom fundo e de carácter, é desesperadamente curto no confronto e na ideia. Confrangedor mesmo. Dou mesmo por mim a pedir ao adversário para começar a dizer disparates de modo a encurtar a distância. PP, que julgo pessoa de respeito, não explorou, e bem, a situação de debater com alguém de calibre inferior. A condescendência de quem está em vantagem relativamente ao “outro” é virtude dos tolerantes, nomeadamente quando se discutem ideias. Quando Louçã debateu com JS não resistiu em mostrar aquele ar sobranceiro e de pena a JS. Não o atacou, evidentemente por mero calculismo eleitoral, mas revelou o que pensa sobre o “outro”. Eu, simples “mirone”, estou livre destes julgamentos e com liberdade e frieza maligna sorria com cinismo da situação que me entrava pelo ecrã quando JS ia sendo cilindrado. Depois de muito me interrogar, percebo agora porque é que JS caiu no goto dos portugueses no debate há uns anos em que ficou afónico.

Ainda sobre JS, achei ternurenta a invocação do nome “Mellos”. Deliciado pelo facto, torno para o meu filho de 6 anos e pergunto-lhe: Lourenço, ouviu ele a dizer os “Mellos”? Lourenço, meio estremunhado, acorda e diz: “o quê Pai”? Desolado, mas ainda esperançado, tentei forçar que ele tinha ouvido dizendo-lhe para ele não esquecer o que queria que lhe ficasse gravado na memória como registo do “Antigamente”. Em retrospectiva, lembrava-me deliciado os tempos em que Cunhal invocava com um tom de temor, como quem assusta crianças com o papão ou o homem do saco, os ditos “Mellos”, “Champalimauds” e “Espírito Santos”. Magnífico. O meu obrigado a JS.

Este debate mostrou bem que é complicado pôr Portugal no caminho. Isto está a demonstrar ter gente a mais que se sente bem em não deixar outros seguirem em frente. Há demasiada gente a pôr o pé no travão e poucos a pôr o pé no acelerador. E considerando que quem tem ido ao volante nem a carta deve ter há que contar com cenários aterradores.

Hoje existe um fenómeno singular. As pessoas não têm ideia para onde estão a ir, e não querem ouvir as vozes menos exaltadas. Pior, respondem da pior maneira, ouvem quem não lhes indica o caminho e quem somente diz o que está mal. Não ouvem quem, com algum método, ponderação e detalhe, procura enumerar as causas dos males e tenta construir um sistema que nos possa dar esperança. Neste ponto a moleza* actual das almas é pouco receptiva à análise de sistemas. O vulgo, na sua visão torpe e no facilitismo intelectual a que foi recentemente habituado, sem estímulo digno de nota para ganhar o que outrora exigia esforço, dedicação e brio, agora no seu sofá, e enquanto fala ao telemóvel, entretém-se gratuitamente e com alegria a destruir um sistema inteiro com um pequeno sofisma ou uma máxima. Dotado de alguma formação restrita à sua área profissional, com diploma e com muita informação disponível, julga-se cheio de sapiência. Arrogante por esse facto, e com pouca apetência para utilizar a argumentação como arma para jogar o jogo da abstracção, faz ruir sem pudor o que outros procuram construir com método, razão e seriedade. Um pequeno sofisma ou uma máxima de ocasião serve para destruir todo um sistema. Muito contente por conseguir sempre apresentar uma qualquer dificuldade, quase nunca contra argumentando, confunde a enumeração de dificuldades com qualidade no argumento. Contente por saltar de tópico em tópico, sem se deter em nenhum pelo simples desejo de querer viver a excitação da última dificuldade levantada, a ralé satisfaz-se vendo o edifício dos grandes soçobrar ao mesmo tempo que se sacia com o poder de veto que conquistou, achando-se importante por puder travar sem o ónus de ter de acelerar. É assim que a mediocridade ganha terreno. O tema sobre o cheque educação ilustra bem este fenómeno. Este assunto está em construção... superficialmente e enquanto falo ao telemóvel, e será apresentado um dia.

*o seu a seu dono, mil obrigados ao meu amigo Arquitecto Saldanha por trazer este conceito às lides da opinião

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