quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Apreciar o momento histórico que vivemos

DOMINGO, 10 DE OUTUBRO DE 2010

O momento histórico que atravessamos é extraordinário. Vivemos numa época de extrema liberdade individual, com um acesso muito facilitado à informação e educação, com facilidade de partilha e gozo do que o mundo tem para nos oferecer, seja em termos materiais ou culturais. Vivemos numa fase em que centenas de milhões de pessoas foram retiradas do estado de extrema pobreza, nomeadamente na China e Índia (vão lá os esquerdistas botar discurso anti-globalização e vão ver o pontapé que levam), e a perspectiva é que muitas outras centenas de milhões possam ver as suas condições de vida serem melhoradas, nomeadamente na América do Sul e África.

A Globalização tem dado a oportunidade de muitos outros povos se sentarem à mesa do bem-estar, coisa que pensávamos estar só ao alcance dos EUA, Europa do Norte, e alguns outros países (como a Austrália ou a Nova Zelândia). Para isso muito contribuíram as empresas multinacionais, verdadeiros predadores de cérebros por esse mundo fora, independentemente da raça, cor, ou qualquer outro atributo passível de discriminação negativa.

O Conhecimento vê assim, finalmente, e pela mão das multinacionais, ver-lhe reconhecido o papel fundamental que tem como recurso económico, para além da Terra, do Capital, e do Trabalho manual. A sua característica intrinsecamente democrática, porque baseada na meritocracia, potencia a mobilidade social, e consequentemente alimenta justamente a esperança de melhoria das condições de vida dos menos afortunados economicamente.

A mobilidade geográfica nunca foi tão fácil, permitindo que a classe média usufruísse daquilo que anteriormente estava somente ao alcance dos ricos. Inúmeros aeroportos, viagens baratas, e proliferação de hotéis acessíveis, permitem o gozo e a beleza de conhecer de perto outros povos e outras culturas. É uma maravilha ter a possibilidade de fazer escapadas de fim-de-semana por essas cidades europeias. Nem os Reis sonhariam em gozar estas facilidades há 100 anos atrás.

Claro que todas estas facilidades nos impõem novos desafios, nomeadamente na gestão do nosso tempo, tão arduamente disputado por tanta oferta disponível, e na gestão da nossa vida espiritual, que nos querem vender ser de impossível conciliação com o bem-estar material. Mas até nisso o desafio pode ser maravilhoso no caso de considerarmos que ter um desafio é algo positivo. Por mim não duvido de que necessitamos bastante de equilíbrio espiritual para melhor discernir sobre a abundância material. Aliás, os últimos 25 anos em Portugal são uma excelente prova em como o abandono da vida espiritual foi pernicioso face às novas abundâncias materiais proporcionadas pelos juros baixos e pela facilidade na contracção de dívida.

Mas talvez o maior desafio resida no discernimento em decidir sobre quem devemos ouvir. Há demasiado ruído nos media (televisão, jornal, blogosfera, etc.). A ignorância e o soundbyte falam muito alto deixando pouco espaço para o pensamento maduro e responsável. É extraordinariamente difícil nos dias de hoje passar a mensagem ponderada, fruto da reflexão e da seriedade, como que estas características sejam de combinação impossível com os meios em vigor e com os responsáveis dos mesmos. Talvez em épocas de crise muito profunda haja mais espaço para a razão pois os espíritos nas épocas de crise necessitam de ser conduzidos.

Para tornar este momento histórico mais aprazível tratemos de ouvir a razão dos que reflectem seriamente e tratemos de afastar os inconscientes e marotos dos microfones.

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