quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Era uma vez os Nunes...

DOMINGO, 27 DE FEVEREIRO DE 2011

Era uma vez um casal que vivia em Portugal em 2014. Ele, António Nunes, empregado bancário, auferindo um rendimento bruto de 1200 euros por mês. Ela, Sónia, empregada numa petrolífera, ganhava 1500 euros por mês. Tinham dois filhos, o pequeno Ruben e a endiabrada Luísa. Sónia e António eram considerados um bom casal. Bons pais com bons princípios, parcimoniosos nos gastos, e até de visão de longo prazo.

O seu rendimento médio mensal líquido rondava os 2350 euros mês (pressuposto de 15% de IRS, 11% de segurança social, 14 meses de vencimento). Este casal vive num T3 que lhes custou cerca de 160.000 euros e para os quais até deram uma entrada de 60.000 euros. Pediram ao banco os restantes 100.000 euros. Andam num carro de baixa gama que já está pago e que lhes custa mensalmente (seguros, gasolina, manutenção, etc) 200 euros por mês.

Para uma prestação de casa de 450 euros mês, os Nunes conseguem poupar todos os meses 350 euros. Tem gastos de uns bravos nestes tempos que correm onde a embriaguez ainda faz doutrina. Grosso modo as suas despesas distribuem-se, em média, da seguinte forma:

Prestação da casa e condomínio 500 euros
Alimentação 450 euros
Electricidade 50 euros
Gás 50 euros
Telefone / Internet / Cabo 100 euros
Carro 200 euros
Saúde e farmácia 200 euros (inclui seguro de saúde de 100 euros)
Passes sociais 50 euros
Outros 150 euros

Os Nunes em 2012 foram convocados a votar. Um dos partidos tina uma receita para o país algo insólita, mas que até lhes fazia sentido. Só que, entre outras coisas, falavam de um aumento do IVA máximo para 30%, coisa que a Sónia achava muito injusto. No entanto, e à semelhança de muitas outras pessoas, este casal não fazia as contas sobre o impacto desse aumento. Na verdade, esse aumento, significava um decréscimo na sua poupança de cerca de 55 euros no pressuposto de que manteria todos os gastos como até agora. Os Nunes tinham dificuldade em compreender o quanto a descida do IRS entretanto proposta os iria beneficiar. Mas tinham a certeza que nunca chegaria aos ditos 55 euros. Aliás, esse partido bem o dizia. A verdade era mesmo uma das suas armas eleitorais.

Os outros partidos continuavam na sua senda de mentira e ilusão. Mas os Nunes, bem como o resto da população, não percebiam bem o que estava a acontecer a Portugal, e por isso resolveram abster-se no dia das eleições.

Um dos outros partidos ganhou as eleições e o desnorte de Portugal continuou. Em 2014 a União Europeia resolveu expulsar Portugal da Zona Euro devido ao montante total da dívida de Portugal e à total impossibilidade de esta ser controlada com Portugal na Zona Euro. A vida dos Nunes sofreu bastante. O rendimento dos Nunes até se manteve, mas agora denominados em Escudos. Passou a ser de 470 contos. O drama foi a prestação da casa. De 100 contos passou para 200 contos (em euros correspondeu a um aumento de 500 euros). Sónia não percebeu porquê, e o pobre António lá lhe explicou que isso se deveu à desvalorização do Escudo face ao Euro em 30% e ao aumento significativo da taxa de juro. Para além disso, a inflação bateu à porta resultante dessa desvalorização, implicando um acréscimo de cerca de 15% em todas as rubricas das suas despesas.

A Sónia nem queria acreditar. Considerava-se uma boa gestora da casa e agora toda uma turbulência financeira entrava-lhe pela casa dentro. Achava também que a sua atitude de consumo parcimoniosa não fora compensada pelos ventos da história. Só o aumento da prestação da casa mais do que “comeu” a sua orgulhosa poupança. Sem contar com os restantes aumentos. De uma penada acabara-se a poupança. E mais, cortou-se em despesas como os Nunes nunca tinham pensado. O novo carro que os Nunes pensavam em comprar passou a ser algo completamente fora de questão. Os preços dos mesmos subiu cerca de 30% em virtude da desvalorização do Escudo e as taxas de juro rondavam agora os 10%. Proibitivo.

Por essa altura os Nunes, bem como a maioria do Portugueses viam muitos programas de televisão onde escutavam destacadas personalidades da vida económica. E aí perceberam o erro que fizeram em se abster nas ditas eleições. E os ditos 55 euros de penalização respeitantes ao aumento do IVA pareceu-lhes então um Oásis. Pareceu-lhes então muito tonto não quererem escutar o partido que na ocasião apresentava um pacote de saída para Portugal. Perceberam que a falta de fibra que assolava os Portugueses em 2012 teve consequências bem funestas. Muito mais do que se poderia pensar.

Nunes deste Portugal, cuidai-vos no futuro e evitai que o céu vos caia em cima da cabeça. Deixai a razão funcionar e afastai a ignorância do caminho.

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