quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Experiências sobre despedimentos e segurança no trabalho (1)

QUARTA-FEIRA, 29 DE JUNHO DE 2011

Corria o ido ano de 2002 quando vivi pela primeira vez, na empresa onde trabalhava na altura, um ambiente de redução de número de colaboradores. Na primeira vaga de despedimentos, 12 pessoas para um total de 200, o critério foi razoavelmente fácil de seguir. Foram despedidos aqueles que efectivamente tinham menos jeito para a “modalidade” e/ou tinham provado no passado serem de difícil trato nas relações de trabalho. Lembro-me de, entre o grupo onde me inseria, não existir receio por parte de qualquer um dos membros. E assim ocorreu um processo de despedimento pacífico. O facto mais positivo é que foi passada a mensagem do porquê das escolhas e de que as mesmas foram aceites como válidas pelos escolhidos.

Ainda em 2002 (ou já em 2003, não me recordo), ocorreu a segunda vaga de despedimentos. Aqui a coisa fiou mais fino. Foi, ao que me recordo, veiculada uma redução de 30 pessoas para um universo de 190. Pela dimensão, lembro-me de ter ficado inquietado, sendo aliás o sentimento generalizado. Todos colocávamos a hipótese de sermos escolhidos. E, com fundamento, percebíamos que desta vez as cunhas iriam funcionar. No meu grupo ninguém tinha cunhas, mas comentávamos sobre quem as teria e de como seria interessante observar os critérios de escolha. Recordo-me de sair do trabalho preocupado se seria eu um dos escolhidos, embora secretamente soubesse que as minhas possibilidades eram boas por possuir conhecimentos numa determinada área que mais ninguém possuía. Facto que se confirmou. Essa foi uma bela lição para mim, o quão importante é estarmos protegidos por uma boa escolha de competências.

Nesta segunda vaga de despedimentos, retive duas experiências. Uma de que as cunhas funcionam na prática e de que existe mais apetência por despedir soldados que os ocupantes da gestão intermédia (dada a natureza desta actividade os soldados estão ao mesmo nível, ou ainda acima, da gestão intermédia; mais ou menos como os futebolistas podem estar acima dos directores desportivos). Enfim, nada de novo.

A segunda experiência foi ter observado a reacção de uma pessoa a quem momentos antes tomou a notícia de que fora despedido. Ao entrar na zona do café o “pobre” só dizia: eles enganaram-se, eles enganaram-se. Em atitude fraternal, e quiçá até cristã, esforcei-me por atenuar a suposta dor do despedido. O despedido então olhou para mim como quem sabe algo que eu não sabia e diz: tu não estás a perceber, eles enganaram-se. Arrumei a fraternidade e o cristianismo por momentos e perguntei racionalmente sobre os fundamentos do suposto queixoso. Ele disse-me com um ar frio e divertido: vão-me pagar uma “pipa” de indemnização; estou cá a trabalhar há 15 anos pois comecei como estafeta ainda muito novo (vim posteriormente a saber que entretanto tirara o curso e evoluíra como consultor); e mais, até tenho tido convites apesar da crise. Vim a saber que a administração de facto enganara-se e que quisera voltar atrás com o despedimento. Ele não quis, ficou com a belíssima indemnização, e 15 dias depois estava noutra empresa a ganhar mais. E soube também que ele era um excelente profissional e um óptimo colega de trabalho. A lição que aprendi é que é bom ter uma rede que viabilize sair de um lado e entrar de imediato noutro, e que não há nada como ser bom no que se faz pois isso aumenta as nossas possibilidades de nos manter a “nadar” em momentos mais turbulentos (confirmei pessoalmente esta lição em 2009).

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