quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A família vem aí outra vez

SÁBADO, 30 DE OUTUBRO DE 2010

Como já foi interiorizado por todos nós, iremos viver nos próximos 10 a 15 anos um contínuo e longo declínio de nível de vida económico e financeiro. Económico porque a tendência geral é de declínio dos salários reais e porque mais impostos virão a caminho (o corte na massa salarial da função pública está longe de ser suficiente). Financeiro porque daqui a uns 2 ou 3 anos os juros começarão a subir de novo, pelo que, quem tem empréstimos à habitação vai assistir a uma subida da prestação da casa.

A febre de materialismo e dívida que nos assaltou a partir de 1995 fez-nos perder um pouco a noção de como a sobrevivência económica é um bem fundamental da vida conjunta. A imagem de sucesso nesta vida que nos quiseram vender passava por um individualismo desmesurado e com uma envolvência de afluência típica de solteirões e solteironas bem abonados. Este estrelato do marketing criou modelos de sucesso baseados no individualismo.

Em conversa com um amigo que trabalha em marketing, ele veiculava-me que as empresas vendem “sonhos” e as pessoas compram “esperança”. Quem compra esperança tem em mente a possibilidade de escalar na cadeia de consumo e com isso satisfazer certos desejos de bem estar material e bem estar social (neste último ponto cabe praticamente o que quisermos).

Em ambiente de “overdose” de dívida a atitude é de constante pontapé para a frente. Credor e devedor são grandes amigos e parceiros de uma corrida para o abismo.

Ora se analisarmos a história de vida do Homem não será difícil perceber que a sobrevivência económica é o estado em que se encontra a maioria da população em qualquer momento histórico. E que a vida em conjunto é a forma mais sensata de ultrapassar as dificuldades económicas naturais. Falo em vida conjunta e não em família porque a vida conjunta ultrapassa o conceito de família.

O retorno a uma certa sensatez quanto às possibilidades vai fazer com que valorizemos bem aquilo que sempre foi, é, e irá ser, o principal objectivo de qualquer ser humano nesta passagem terrena: a sua sobrevivência económica enquanto ser com coração palpitante. E consequentemente a vida conjunta fará de novo sentido como um meio natural de ultrapassar essa restrição que nos quiseram vender como fracassada.

Neste sentido penso que o conceito de família irá de novo ressurgir. Que não se duvide que a família é a principal e a mais sólida célula de qualquer sociedade. Quer concordemos ou não com isso, e por mais profundidade que queiramos emprestar à razão. É que na família, para além da união espiritual, a principal, temos também uma união económica, secundária, mas de uma importância imensa e que o pragmatismo da realidade vai fazer com que volte a fazer parte de toda a equação de como devemos encarar a sociedade e a família.

Assim, e pela vertente económica, o conceito de família voltará de novo a ser apreciado e valorizado. Digo “também” porque temos ainda a vertente espiritual como outra variável da equação, e que tem sido muito esquecida. Mas para esta variável há quem saiba discorrer melhor.

Nota: este texto aplica-se a cerca de 70% da nossa população. Os outros 30% nunca tiveram fôlego sequer para levitar, mesmo no auge da bebedeira consumista.

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