quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Tempo

Os Portugueses, Portugal, os Europeus, os bancos, os mercados financeiros, os desempregados, todos eles precisam de tempo. Em épocas de grande mudança e instabilidade o tempo é o melhor estabilizador dos contínuos sobressaltos. O tempo concede a todos eles o elemento intemporal de que eles necessitam para relativizarem os dramas que percepcionam.

Assim, os Portugueses precisam do tempo para interiorizarem que ambicionaram alcançar muito mais do que aquilo que despenderam em educação formal e de que vão ter que começar a aceitar trabalhos que até agora desdenharam. Com o tempo perceberemos que existe uma relação directa entre estudo / esforço e poder de escolha sobre os trabalhos que gostaríamos de ter.

Assim, Portugal irá precisar de tempo para criar uma economia voltada para a exportação e para iniciar um ciclo de excedentes crónicos de modo a amortizar a sua dívida acumulada. Com o tempo perceberemos que teremos que viver ao nível das nossas possibilidades.

Assim, os Europeus precisam de tempo para equacionar que o seu modelo social se baseia em premissas que já há muito deixaram de se verificar. Com o tempo perceberemos que ou ajustamos os nossos direitos às novas premissas ou então rebentamos com o nosso sistema de protecção social.

Assim, o bancos precisam de tempo para paulatinamente tratarem de se desalavancar e de perceberem que a banca existe para financiar a economia e não para criar lucros fictícios baseados em processos de crescimento de consumo auto induzido. Com o tempo perceberemos que teremos que avaliar melhor a relação entre crédito e risco.

Assim, os mercados financeiros precisam de tempo para perceber que existem para servir a economia e não esta os servir a eles. Com o tempo perceberemos que temos que regular convenientemente este sector e de melhor compreender as suas limitações.

Assim, os desempregados precisam de tempo para compreender que se aceitam os trabalhos que existem e não os que se querem. Com o tempo os desempregados começarão, por força da necessidade, a aceitar os trabalhos disponíveis que existem.

Nestes últimos tempos habituámo-nos a desdenhar o tempo como factor que faz parte da mudança e como elemento influenciador do dia de amanhã. O “faça já”, “emagreça já”, “vá já”, “compre já”, incutiu nas nossas percepções que tudo tem de ter uma “solução já” na justa proporção de eficácia daquilo que visa corrigir. Assim, descurámos a terapia providencial do tempo como elemento natural dos processos de ajustamento.

Mas a realidade das coisas não se altera somente porque dela não fazemos a interpretação correcta. É bom portanto que entendamos que o tempo terá uma palavra em todo o processo. A nós resta somente forçar os mecanismos de mudança necessários e monitorizar que a tendência a imprimir não é adulterada. Monitorizemos que os bancos desalavancam, que os portugueses aceitam os trabalhos que existem, que exportamos mais e importamos menos, etc. O tempo fará o resto… e, no final, veremos que as coisas não eram tão dramáticas quanto isso.

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