domingo, 26 de fevereiro de 2012

Notícias positivas

As exportações totais de vinho em 2011 cresceram 3,6% em valor. Descontando os vinhos licorosos, que obtiveram um decréscimo de 3,6%, a subida foi de 10,5% em valor, e uns impressionantes 21,2% em quantidade. Saliente-se as excelentes taxas de crescimento em valor de mercados como Angola (30,6%), Brasil (18,7%), e China (91,7%).

É bom que continuemos a exportar mais para compensar os fatais decréscimos de importações. Assim manteremos a economia a funcionar e ao mesmo tempo tornamo-la muito mais robusta e equilibrada.

Embora o total das exportações de vinho somente represente 1,6% das nossas exportações totais, sempre ajudam o barco a remar na direcção certa. E é isso de que a nossa economia necessita: muitos pequenos sinais correctamente direccionados.

Fonte dos dados: Instituto da Vinha e do Vinho

sábado, 25 de fevereiro de 2012

O Sr. Seguro não percebe

O Sr. Seguro tem demonstrado recentemente estar longe de entender o enredo que envolve Portugal e os capítulos que se vão seguir. Faltando-lhe o discernimento para entender o mundo e o momento histórico que vivemos, conveniência básica para um candidato a Primeiro-Ministro, vem demonstrando ainda grande inabilidade política, facto surpreendente se tomarmos em consideração a escola partidária que possui. A escola mediática do PS acredita que é frutuosa a demarcação do partido relativamente ao acordo da troika apostando na exploração da insatisfação popular. Ora nada mais errado. O povo Português de hoje anda muito avisado e sabe perfeitamente que existe um acordo assinado onde também consta a assinatura do PS.

Não é necessário ser-se um génio para saber o quanto os Portugueses adoram ser elogiados por estrangeiros. Ora sabendo-se, ou sentindo-se, que o episódio Grego vai acabar mal, que melhor prato pode ser dado aos portugueses ter todos os holofotes do mundo em cima deles. Sabendo o Português (ou talvez sentido, o que é suficiente) que a sua situação e atitude não é a mesma da Grécia, e sabendo a EU, o BCE, e o FMI que precisam de um caso de sucesso após a tragédia Grega, que melhor casamento poderá haver entre um que deseja ardentemente ser elogiado e outro que está sedento de ter razões fundamentadas para emanar elogios. Para esta celebração ocorrer só falta um elemento: tempo, elemento que como sabemos não pára e anda sempre à mesma velocidade.

Ora o Sr. Seguro não percebe que quando este momento ocorrer, coisa que “caprichosamente” ocorrerá um pouco antes das próximas eleições legislativas, lá por 2015, o PS não estará na fotografia de corpo e alma se entender iniciar agora um processo de desatino político com o acordo Troika. E ainda que apresente o seu corpo para a foto o povo julgá-lo-á por se apresentar sem alma. Tal qual o soldado com evidente défice de esprit de corps mas que quer fazer-se passar por herói na fotografia do pelotão.

Estou certo que Portugal e os Portugueses irão saborear a vitória, embora esta não vá ser representada por um El Dourado à Guterres, idealismos à Barroso, ou loucuras à Sócrates. Vai antes ser uma vitória que, embora se apresente um pouco difusa, terá luz suficiente para vislumbrarmos que Portugal é viável dentro da zona Euro e que iniciou uma nova vida com novas regras com as quais pode perfeitamente ser um vencedor no futuro. E que afinal tudo pode depender de nós, da nossa vontade, do nosso saber, e da nossa capacidade de empreender e enfrentar as mudanças. Em 2015 o Sr. Seguro não representará nada disto.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Da Língua Portuguesa

O colega Frederico Salema enuncia no seu «post» que as razões para se discordar do acordo ortográfico são múltiplas. Eu aproveito o ensejo para tomar o fio de uma só dessas meadas - aquela de que eu gosto mais, que pela sua dimensão literária me diverte mais do que as outras todas: o aspecto da herança cultural.

Uma língua, como várias vezes afirmou Jorge Luís Borges, é uma comodidade intelectual, e o conceito de «país», uma abstracção em que o escritor argentino acreditava pouco. À maneira do grego Sócrates («Não sou grego nem ateniense, sou cidadão do Mundo»), Borges era ferozmente independente (mas também tímido e de algum modo misantropo). Preferia portanto certamente o indivíduo ao grupo.

Aparentemente, quando a Argentina ganhou à Holanda no Mundial de futebol de 1978, Borges ficou perplexo com os festejos, recusando a noção de que 11 homens vestidos de igual vencendo uma partida desportiva contra outros 11, pudessem significar que um país tivesse vencido outro. Bem vistas as coisas – se um país é uma abstracção, uma «selecção nacional» é uma abstracção sobre uma abstracção. Regressemos, contudo
à «língua»:

Mesmo a língua, para Borges, tinha as suas limitações. Em «Das alegorias aos romances» (Outras Inquirições, 1952), cita com humor:

Chesterton, para reabilitar o género alegórico, começa por negar que a linguagem esgote a expressão da realidade. «O homem sabe que há na alma matizes mais desconcertantes, mais inumeráveis e mais anónimos do que as cores de uma selva outonal. No entanto, julga que esses matizes, em todas as suas fusões e transformações, são representáveis com precisão por um mecanismo arbitrário de
grunhidos e de guinchos. Julga que de dentro de uma bolsa saem realmente ruídos
que significam todos os mistérios da memória e todas as agonias do desejo.»

Naturalmente, sendo escritor e, sobretudo, leitor, a língua, sobretudo sob a forma escrita, era algo que ele amava mais que tudo. Erudito que era, conhecia-lhe as raízes históricas e culturais, e saberia, como nós, que a língua não é uma ferramenta utilitária que se troca por uma nova quando avaria. A língua é um artefacto imaterial construído na passagem dos séculos. Assim por exemplo, os ingleses (e os franceses) não abdicaram do «Ph» para pronunciar o fonema «F»: topography,philosophy, pharmacy… Estamos aqui nos domínios greco-romanos, onde a letra F não existia – portanto, a persistência em conservar certos fonemas linguísticos aproximam-nos do nosso passado colectivo. Acresce que a escrita nos aproxima, neste casos, da natureza daquilo que a palavra descreve: Philo (amor) + Sophia (conhecimento), ou Phila (amor) + Delphia (irmandade)= amor fraternal. Do mesmo modo que acção, deriva do latim actionis. Os romanos não usavam do C cedilhado – o T fazia o seu lugar. Ou já agora, o C da palavra «acta», que em latim se escrevia tal-e-qual,mas que agora o acordo converteu em ATA. O mesmo com «fracção», de «fractionis». Se para mais nada servir,o C mudo estavam lá para nos lembrar de mais 2 milénios de história - que, quando retiramos o C mudo estamos de golpe a renegar.

Tudo isto para dizer que além de legado histórico, a língua é também aproximação possível do conhecimento da História. O acordo ortográfico, pelos vistos, não tem qualquer interesse por isso.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A Grécia passada e Portugal futuro



O jogo das diferenças entre Portugal e Grécia continua a ser uma das melhores matérias-primas das gentes que têm a ingrata tarefa de estudar e descrever a economia e a política nacional. O assunto não é novo – é conhecido, por exemplo, o parágrafo em que Eça de Queiroz compara Portugal à Grécia, apontado os mesmos defeitos a ambos os povos, mas lembrando que os portugueses não criaram um religião, não têm uma literatura universal, nem criaram o museu humano da beleza da arte. A tautologia, no entanto, avança nos dias de hoje como se fosse absolutamente necessária para salvaguardar as honras da pátria e garantir a salvação da economia portuguesa. É discutível se existem honras ou economia para salvar, é certo, mas parece haver unanimidade em apontar a instabilidade social como principal diferença entre os dois países.

Em dia de aprovação de mais um pacote de austeridade, as imediações do parlamento grego voltaram a transformar-se num palco de batalha marcado por gritaria, pedras, fogo e destruição, tudo e mais alguma coisa, enfim, o panorama completo. Isto é dramático porque representa a não existência de condições básicas para o desenvolvimento daquilo em que os gregos são realmente bons. Não há espaço para as artes ou para a filosofia quando é preciso arranjar forma de pôr comida na mesa para sobreviver. E a triste ironia que se abateu sobre os gregos reside nessa impossibilidade de continuar o processo de civilização e refinamento que os próprios gregos iniciaram.

O problema da instabilidade social não é tão grave cá no burgo e a economia parece encaminhada (desde que se consiga resolver o desafio do pastel de nata e se aumente as exportações). O problema, aliás, é o oposto: mesmo que se consiga a difícil tarefa de garantir condições básicas de existência, o país parece ter muito poucas hipóteses de cumprir o sonho de Pessoa e construir uma arte plural e representativa. E é por isso que nos melhores momentos da nossa produção artística actual se exclama: «Portugal está para acabar; é deixar o cabrão morrer». O mais certo, no entanto, pela minha curta experiência de vida portuguesa, é que tudo continue exactamente como está.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Envelhecer no futuro

Está bem de ver que com a dinâmica demográfica em curso em Portugal veremos no futuro novas formas de vida do idoso como poucos terão imaginado. O suicídio demográfico em vigor trará consigo novos fenómenos sociais difíceis de interiorizar nos dias de hoje, tal a diferença do que se experimenta agora e do que experimentaremos no futuro. O cidadão comum, e não só, tem uma dificuldade tremenda em projectar a vida e o mundo para além da realidade actual que o cerca. Principalmente quando do exercício mental resultam cenários menos favoráveis que podem forçar acções no presente um tanto incómodas. Vejamos o fenómeno do aumento da esperança de vida quando associado com uma baixíssima taxa de fecundidade somada a uma emigração crescente.

Como sabemos suicidamo-nos demograficamente por andarmos com taxas de fertilidade na casa dos 1,35 quando se exige cerca de 2,05 para manter o nível populacional. Associando o facto de andarmos a exportar pessoas, os tais emigrantes que aqui não andam satisfeitos, e algum retorno aos seus países de origem da recente vaga de imigração, não é difícil de adivinhar que as perspectivas são de acentuado declínio demográfico. E neste momento não existem sinais sólidos, ou menos sólidos, que a taxa de fecundidade suba muito mais, ou que a emigração pare.

De acordo com o estudo demográfico levado a cabo pelo INE no início deste século, no caso do cenário pessimista se verificar, que é aquele que se vem verificando, a população de Portugal em 2050 será de 7.500.000 de habitantes. O estudo não conta com os movimentos migratórios. Ora, não será difícil de adivinhar que cerca de 500.000 a 1.000.000 de Portugueses poderão emigrar durante os próximos 40 anos, sendo que quem emigra é, por natureza, a camada mais jovem. Ora esta dinâmica demográfica resultará numa população com idade superior a 65 anos que provavelmente não andará longe dos 40% da população total, ou mesmo superior. Em 1991 essa percentagem era de 13,61%, em 2001 de 16,35%, e em 2011 de 19,15% (fonte: Pordata).

Viver sozinho é caro. Com pensões médias ao nível de metade das dos dias de hoje, com rendas de 37,82 Euros por mês inexistentes, com o filho longe, e com a esperança de vida a subir, o modo de viver do idoso do futuro será muito mais partilhado do que hoje imaginamos. Os filhos, ou melhor, o filho, pois isto agora anda à velocidade média de pouco mais de um filho por casal, ou viverá um pouco mais longe do ascendente, ou mesmo viverá no estrangeiro (sim, ele emigrou em 2010, lembram-se?). Por isso o apoio aos ascendentes vai ser uma coisa muito vaga. Não nos espantemos pois que vejamos, lá por 2040 ou 2050, inúmeros centros espalhadas pelo país atulhados de idosos. Ou então apartamentos vocacionados para regime de partilha de espaço, com 3 a 4 idosos por divisão. Ou seja, qualquer figurino que implique partilha de custos.

Ainda no que respeita a custos, não será difícil de adivinhar que derivado do facto da população idosa ser em muito maior número relativamente à população activa, existirá uma escassez grande de pessoas para tratar dos idosos, o que poderá inflaccionar um pouco o preço da assistência. Claro que se pode sempre recorrer à imigração, mas a dúvida é se a economia produz para isso. Por isso mecanismos de assistência em cadeia terão que ser implementados, qualquer coisa que potencie a obtenção de economias de escala na assistência ao idoso, qual fábrica de produção em massa. Tudo de modo a reduzir o custo de sobrevivência ao mínimo preço possível.

Este cenário, aos olhos de hoje, é aterrador. De certa forma ele já existe, mas é só uma pequena amostra. No futuro será a regra. Ilustrar hoje como isso configurará a sociedade é difícil, mas todos os elementos que assistem ao raciocínio já existem. Por isso utilizemos a nossa imaginação. Mas cuidado, não nos iludamos, qualquer que seja o devaneio da nossa razão o resultado será sempre pouco risonho.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A nova imposição ortográfica

Frederico Salema escreve de acordo com a antiga ortografia. Esqueci-me de avisar, espero que me perdoem, mas nem sequer tenho um daqueles mecanismos de conversão automática. Se tivesse, no entanto, ordenaria a desinstalação do mesmo após aprovar a decisão por maioria absoluta apenas com o meu voto. A nova imposição ortográfica pretende antepor a fonética à ortografia de forma a simplificar e facilitar a aprendizagem. Ou seja, preocupados com as crianças do futuro, que não serão capazes de aprender a ler e a escrever como foram todas as outras antes delas, os doutorados da imposição ortográfica pretendem que se escreva como se fala – com uma lógica sublime que pretender unir todos os países de língua portuguesa do mundo, com todas as suas pronúncias e dialectos.

A união conseguida até agora pode ser observada nas contradições da imprensa nacional, que se desdobra como pode entre notícias escritas ao abrigo do nova imposição e textos de opinião escritos maioritariamente “de acordo com a antiga ortografia”. Mas o exercício de acompanhar a imprensa nacional é sobretudo hilariante: lemos sobre a queda do número de «espetadores» nas salas de cinema, sobre um país chamado «Egito» habitado por egípcios, sobre coisas «cor-de-rosa» e outras «cor de laranja», etc. E ainda há o caso genial das palavras com grafia múltipla: um hipotético curso de «Electrotecnia e Electrónica», por exemplo, passaria a ter 32 formas correctas de ser expresso.

Mais interessante ainda é comparar a nossa imprensa com a brasileira. Por cá escreve-se agora «aceção» e «abjeção», enquanto no Brasil se escreve «acepção» e «abjecção»: a consoante suprimida é muda em Portugal e pronunciada no Brasil. Ou seja, é a própria fonética que não permite a uniformização que se ambiciona alcançar. Em conformidade com este princípio da transcrição fonética, a imposição até podia ir mais longe e imaginar uma ortografia para Cascais e outra para o Porto. Isso é que era giro. Em Cascais, suponhamos, passar-se-ia a escrever «mas que ideia tão piquena», enquanto no Porto se registaria um «absurdo que debia acabar».

Não pretendo enunciar aqui todos os argumentos contra a imposição ortográfica, claro, sobretudo porque tenho tempo limitado de vida, mas também porque eles já andam por aí, na internet e em vários artigos de opinião. O que pretendo é expor o ridículo a que chegou este grupo de legisladores, supostamente preocupado com a unidade da língua, mas que acabou por tomar uma decisão meramente política e económica. A verdade é que não há unidade possível e vai continuar a ser diferente falar e escrever em cada país e até em cada região. Mais que isso, a unidade não é desejável - porque onde o valor de uma língua reside verdadeiramente é na partilha da sua diversidade. Os espanhóis e os ingleses perceberam isso. Nós não.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Pirataria online

Comecei com um erro. Na verdade até este blog pode ser apanhado nas malhas da lei de combate à pirataria online. A lei pretende proteger os direitos de autor, combatendo o tráfico propagado na internet. Em risco estão os sites de downloads e também todos os outros que de algum modo lhes facilitem o acesso. No fundo, o problema é que a internet massifica um fenómeno que já ocorria antes: a partilha de ficheiros. Enquanto os meus pais gravavam em cassetes o que ouviam na rádio e emprestavam aos amigos, eu tenho basicamente toda a produção musical do mundo à distância de um clique. Não é preciso inveja, é só o progresso a funcionar.

As grandes empresas da internet, entretanto, juntas em protesto, conseguiram o adiamento da votação da lei. Mas a verdade é que o Megaupload, que era um dos maiores sites de downloads, já foi fechado e os donos encontram-se agora atrás das grades. No limite fecha-se a internet e somos todos presos por pessoas que também elas vão ser posteriormente presas por assobiarem canções com direitos de autor enquanto nos prendem. E assim sucessivamente.

A juntar aos protestos, multiplicam-se pela internet os ataques cibernéticos de hackers anónimos. Anuncia-se a primeira guerra virtual, o fim do mundo, o pânico, o caos, enfim, a treta do costume. Quanto a mim, a realidade é esta: os piratas nunca vão perder a guerra e a partilha de ficheiros vai continuar infinitamente. Fecha-se um site, abre-se outro. No fundo, as grandes editoras estão é com dificuldade em assumir que têm um modelo de negócio à beira da ruptura e precisam, isso sim, é de encontrar outras formas de fazer dinheiro.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Por onde andavam os exportadores?

Nunca tive a oportunidade de conhecer muitos exportadores. Desde a minha infância até aos dias de hoje, quase todas as pessoas do meio onde me insiro (zona de Cascais) estão maioritariamente associadas a actividades ligadas ao consumo interno ou ligadas a importações. Nunca ninguém era conhecido por andar a exportar.

Lá por 1991, aquando a minha saída da Universidade, e onde cursei Gestão de Empresas, reparei que íamos todos parar a todo o lado menos a empresas exportadoras. Assim, aos poucos, sentia crescer em mim uma curiosidade enorme sobre a “empresa exportadora”, essa coisa invisível e que tão bem compusera as fórmulas dos equilíbrios macro económicos que aprendera. Fisicamente continuava sem conhecer nenhuma, nem por dentro, nem por fora. A sua existência limitava-se à minha capacidade de conceptualizar camiões a serem carregados, à porta das fábricas, de camisas e demais tecidos com destino algures numa previsível Alemanha ou numa improvável Aústria. E eu lá via toda a mole humana do meu meio universitário ir trabalhar para bancos (em Portugal os bancos servem basicamente de suporte ao consumo interno), seguradoras, corretoras, importadores de automóveis, telecomunicações, centros comerciais, escritórios de advogados, e construtoras. Empresas exportadoras? Nicles, nada, 0, niente. Nem sequer 1. E aqueles que não cursaram também iam parar aos bancos e seguradoras, sem contar com o eterno stand automóvel. Mas também restaurantes, intermediação imobiliária e outros serviços. Mas nunca nada que se assemelhasse a qualquer coisa que exportasse. Ou seja, verdadeiramente cercado por um mar de não exportadores.

Assim fui crescendo e vivendo, até que lá pelo meio do primeiro (des)governo do Sr. Guterres comecei a ler uns artigos de opinião de uns economistas que falavam em desequilíbrios macro económicos. Diziam que o crescimento em curso não era nada virtuoso porque era somente induzido pelo crescimento da procura interna através do recurso ao crédito. Este facto veio mais uma vez despertar à minha consciência o meu deserto de conhecimento sobre a “empresa exportadora”, essa coisa cada vez mais longínqua e que agora parecia que se ia malogradamente afundando pelo vale do Ave ou que ia ainda vivendo de mão-de-obra infantil por terras de Felgueiras. Tudo coisas passadas bem longe da indolência da Linha de Cascais e de Lisboa, o que de certa forma ia aconchegando a consciência do moralista local. Parece que a gravidade e dimensão do mal variam em dependência da distância onde o mesmo se verifica. Por isso o Norte que tratasse do assunto que pelo Sul o regime palaciano ia dando largas.

Já no decorrer deste século, e depois de perceber que o Sr. Barroso por mais que falasse em tangas não percebera nada do que se passava, e de que o Sr. Sócrates afinal era um kamikaze disfarçado de ocidental, verifiquei que a “empresa exportadora” ficara entregue aos carolas e excêntricos. Só os loucos se aventurariam em embarcar em projectos onde é difícil recrutar pessoas, obter financiamento, arranjar sócios, e ainda ter que batalhar pelo mercado.

Agora que a macro economia veio ao de cima, descobrimos afinal que andámos todos enganados durante uma porção de tempo demasiado superior ao que era razoável. E agora fala tudo em empresas exportadoras e de como é importante exportar, que o futuro do nosso bem-estar económico depende do bom desempenho do sector exportador, de que o pastel de nata pode ser um embaixador de primeira água por esse mundo fora, que os nossos vinhos têm imenso potencial por estarem carregadinhos de carácter, e que o valor médio de exportação dos nossos sapatos está em segundo lugar a uns escassos 1,5 euros dos líderes italianos que os exportam à média de 21,5 euros.

Eu por mim tenho um feeling que agora a nossa cabeça está realmente a ir ao lugar. Pelo menos a avaliar pelas verdades inscritas por Samuelson, Galbraith, Keynes, Friedman, e outros que tais. Mas secretamente contínuo ainda com uma curiosidade dos diabos sobre como é a dita “empresa exportadora”. Em rigor essa verdade já foi mitigada, pois enquanto consultor de IT tive a oportunidade de mergulhar em duas por um largo período de tempo. Curiosamente ambas sitiadas no tal Norte que eu sempre ouvira falar e que só conhecia por uma ou outra incursão mais ou menos furtiva, como por exemplo uma ida às Antas a acompanhar o Benfica. Mas acabo sempre por sentir que, como agente económico, cresci e modelei-me numa familiaridade desequilíbrada em termos macro económicos.

Agora que o mau humor da macro economia anda por aí por havermos ignorado a sua doutrina durante demasiado tempo, vamos experimentando o seu impiedoso e brutal poder de fogo. Parte da tormenta passa necessariamente por uma viragem do tecido económico para a exportação. A avaliar pelas estatísticas, isso está em franco progresso pois as exportações andam a portar-se muito bem. Imagine-se que até no meu meio já vou encontrando pessoas que trabalham na famosa “empresa exportadora”. Um amigo, com vasto calibre de formação e lucidez quanto baste, trabalha agora como financeiro num grande escritório de arquitectos que parece exportar que se farta. Antes geria muito, muito dinheiro numa seguradora. Outro, também muito bem calibrado e muito bem atestado de formação, e que outrora leccionava Física numa universidade, é agora empresário e anda todo contente com o crescimento das suas exportações da sua pequena fábrica. No Verão passado um outro dizia-me que comprou uma pequena empresa com umas quantas fábricas e que não faz outra coisa senão viajar pela Europa a exportar.

Se a onda exportadora que agora se iniciou pega da mesma maneira da onda importadora que já acabou, ainda acabarei por um dia ver o meu filho perguntar onde é que mora a “empresa importadora”. Veremos o que a macro economia tem a dizer no futuro.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Quem esteve pior? O Sr. Cavaco Silva, ou o absurdo da não acumulação de pensão com ordenado?

Estará o nosso Presidente em bom estado? O que é que importa aos Portugueses se o que o Presidente ganha lhe cobre as despesas ou não. Ninguém tem que ver com as despesas que cada um faz ou deixa de fazer, conquanto, obviamente, o despesista não esteja sobre endividado e/ou com problemas de solvência. Por isso afirmo que qualquer cidadão no seu perfeito estado de sanidade mental se está rigorosamente nas tintas para o orçamento privado do Sr. Cavaco Silva.

Mas acima de tudo, tudo está mal feito. Senão vejamos. O Sr. Cavaco Silva trabalhou e descontou durante a sua vida enquanto trabalhador do Banco de Portugal, professor universitário, e como Primeiro-Ministro. Como qualquer outro Português que o tenha feito e chegado à idade da reforma, tem todo o direito de passar a receber uma pensão. A pensão mais não é do que o resultado dos cálculos do que uma pessoa descontou, do número de anos de desconto, da idade com que se reforma, e da regra de cálculo em vigor. Poder-se-á questionar, e talvez com alguma veemência, sobre a questão de acumulações, já que consta que há por aí muita sabujice com indevida cobertura legal. Mas isso pertence a outro rosário.

Agora porque diabo é que uma pessoa no exercício de um cargo público tem que optar por receber, ou a pensão a que tem direito, ou o salário como retribuição do seu trabalho? Está bem de ver que a situação é ridícula, como aliás a realidade agora vem atestar. Temos um Presidente a trabalhar de borla, o que é um péssimo sinal passado para a sociedade. O trabalho é algo que deve ser remunerado. É uma questão de princípio. Parece que vai continuando a fazer doutrina não valorizar o trabalho.

Será que é difícil perceber o quão absurdo é tudo isto.

EDP e REN

O Estado Português decidiu pela venda de participações significativas na EDP e REN. Fê-lo no intuito de encaixe financeiro decorrente do acordo com a Troika. E fê-lo bem, a um preço muito superior ao preço de mercado. Mas acima de tudo escolheu bem os parceiros. A China, pela importância que vai tendo no mundo, é um parceiro com quem é conveniente aprofundar relações. Por outro lado é um parceiro (é assim que a China deverá ser considerada) não Europeu, o que por si reforça a nossa vocação global e simultaneamente diminui a nossa dependência europeia.

Como já tenho defendido a Globalização deve ser considerada uma vantagem de Portugal comparativamente à grande maioria dos países. Está no nosso código genético a facilidade de relação com o outro independente da sua origem, facto que provavelmente poderá ser imputado à nossa história. Não vejo ninguém melhor que o Português para potenciar o fluir de relações de interesse entre Chineses, Angolanos, Brasileiros, e quem mais se dignar juntar ao grupo. Ou será que para relações de partenariado económico alguém ousará propor, nesta sui generis comparação, um Suiço, Finlandês, Alemão, ou Francês como melhor pivot para colocar o grupo a valsar a bom ritmo?

Há um outro ponto muito importante em toda esta questão: o acesso ao mercado Chinês. Não necessariamente para a própria EDP e REN, mas acima de tudo para todo o nosso sector exportador, que como se sabe vai ser o nosso barómetro económico. Seria uma óptima diversificação do destino das nossas exportações. Oxalá os nossos responsáveis políticos saibam potenciar esta aproximação.

Nota: não esquecer que a Omã Oil ficou também com 15% da REN. Melhor não poderia ser. Valsemos com árabes também.