sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Envelhecer no futuro

Está bem de ver que com a dinâmica demográfica em curso em Portugal veremos no futuro novas formas de vida do idoso como poucos terão imaginado. O suicídio demográfico em vigor trará consigo novos fenómenos sociais difíceis de interiorizar nos dias de hoje, tal a diferença do que se experimenta agora e do que experimentaremos no futuro. O cidadão comum, e não só, tem uma dificuldade tremenda em projectar a vida e o mundo para além da realidade actual que o cerca. Principalmente quando do exercício mental resultam cenários menos favoráveis que podem forçar acções no presente um tanto incómodas. Vejamos o fenómeno do aumento da esperança de vida quando associado com uma baixíssima taxa de fecundidade somada a uma emigração crescente.

Como sabemos suicidamo-nos demograficamente por andarmos com taxas de fertilidade na casa dos 1,35 quando se exige cerca de 2,05 para manter o nível populacional. Associando o facto de andarmos a exportar pessoas, os tais emigrantes que aqui não andam satisfeitos, e algum retorno aos seus países de origem da recente vaga de imigração, não é difícil de adivinhar que as perspectivas são de acentuado declínio demográfico. E neste momento não existem sinais sólidos, ou menos sólidos, que a taxa de fecundidade suba muito mais, ou que a emigração pare.

De acordo com o estudo demográfico levado a cabo pelo INE no início deste século, no caso do cenário pessimista se verificar, que é aquele que se vem verificando, a população de Portugal em 2050 será de 7.500.000 de habitantes. O estudo não conta com os movimentos migratórios. Ora, não será difícil de adivinhar que cerca de 500.000 a 1.000.000 de Portugueses poderão emigrar durante os próximos 40 anos, sendo que quem emigra é, por natureza, a camada mais jovem. Ora esta dinâmica demográfica resultará numa população com idade superior a 65 anos que provavelmente não andará longe dos 40% da população total, ou mesmo superior. Em 1991 essa percentagem era de 13,61%, em 2001 de 16,35%, e em 2011 de 19,15% (fonte: Pordata).

Viver sozinho é caro. Com pensões médias ao nível de metade das dos dias de hoje, com rendas de 37,82 Euros por mês inexistentes, com o filho longe, e com a esperança de vida a subir, o modo de viver do idoso do futuro será muito mais partilhado do que hoje imaginamos. Os filhos, ou melhor, o filho, pois isto agora anda à velocidade média de pouco mais de um filho por casal, ou viverá um pouco mais longe do ascendente, ou mesmo viverá no estrangeiro (sim, ele emigrou em 2010, lembram-se?). Por isso o apoio aos ascendentes vai ser uma coisa muito vaga. Não nos espantemos pois que vejamos, lá por 2040 ou 2050, inúmeros centros espalhadas pelo país atulhados de idosos. Ou então apartamentos vocacionados para regime de partilha de espaço, com 3 a 4 idosos por divisão. Ou seja, qualquer figurino que implique partilha de custos.

Ainda no que respeita a custos, não será difícil de adivinhar que derivado do facto da população idosa ser em muito maior número relativamente à população activa, existirá uma escassez grande de pessoas para tratar dos idosos, o que poderá inflaccionar um pouco o preço da assistência. Claro que se pode sempre recorrer à imigração, mas a dúvida é se a economia produz para isso. Por isso mecanismos de assistência em cadeia terão que ser implementados, qualquer coisa que potencie a obtenção de economias de escala na assistência ao idoso, qual fábrica de produção em massa. Tudo de modo a reduzir o custo de sobrevivência ao mínimo preço possível.

Este cenário, aos olhos de hoje, é aterrador. De certa forma ele já existe, mas é só uma pequena amostra. No futuro será a regra. Ilustrar hoje como isso configurará a sociedade é difícil, mas todos os elementos que assistem ao raciocínio já existem. Por isso utilizemos a nossa imaginação. Mas cuidado, não nos iludamos, qualquer que seja o devaneio da nossa razão o resultado será sempre pouco risonho.

Um comentário:

Kruzes Kanhoto disse...

Está carregado de razão, o problema é que os políticos têm achado que o tema não dá votos. Daí que prefiram esturrar dinheiro a fazer escolas em terras onde quase não há crianças em lugar de fazer lares onde só há velhos...

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