domingo, 14 de outubro de 2012

Definição de objectivos, prescrições e dosagens

Parece que o Governo de Portugal se anda a precipitar na prescrição a aplicar e nas dosagens da medicina. Começa a ser evidente que a austeridade anda a ser um pouco aplicada à toa. Tão evidente quanto a evidência de que precisamos de austeridade. Todos, ou quase todos, sabemos que precisamos de austeridade, mas só alguns parecem entender onde é que a mesma deve ser realmente aplicada. Aos outros, a grande maioria, é-lhes reservado um lugar na bancada onde, por direito, podem escrutinar da competência da medicina a aplicar. E à falta de competência para efetuar o julgamento, o feeling e o benefício da dúvida poderão ser bons substitutos do discernimento sobre a matéria macro económica em causa.
 
O problema nesta fase é que as mais recentes medidas não estão em sintonia com nenhuma estratégia que antecipadamente se deveria ter explicitado aos Portugueses. Ou seja, são medidas a martelo. E isso preocupa, com fundamento, as pessoas. Se desde o início houvera o Governo explicitado que haveria que montar uma economia voltada para a exportação por contraponto de uma economia montada para o consumo interno, seria bem mais fácil de implementar todas as medidas em prol desse objectivo. Por exemplo, a população aceitaria muito mais políticas de aumentos de impostos sobre o consumo e alívio de impostos sobre a produção, ainda que isso prejudicasse, pela ordem natural das coisas, alguns segmentos específicos da população.
 
Por o Governo não ter delineado uma missão específica sobre a economia, ficamos agora ao sabor do livre arbítrio de medidas financeiras avulsas e desconexas com uma estratégia. Ora isto perturba a população, tal como um paciente ficaria perturbado por ver que o seu médico não persegue nenhuma estratégia para a cura da sua maleita. Fatalmente o curador começa a errar nas prescrições e nas dosagens, o que deteriora a confiança do doente.
 
Mais uma vez os Governos não compreendem que deverão, à semelhança de qualquer organização, ter missões específicas, objectivos claros, e estratégias calendarizadas que conduzam ao alcance desses objectivos. Este Governo sabe muito bem qual a sua missão: tornar Portugal um país viável dentro da zona euro. Sabe razoavelmente bem que estratégias seguir: é o documento da Troika. Só anda um bocadinho falho nos seus objectivos, que de entre outros, tem como dos mais importantes o construir uma economia voltada para a exportação, construir uma sociedade meritocrática e positivamente discricionária.
 
Uma vez bem definidos, compreendidos, e explicitados estes objectivos, será muito mais fácil a população aceitar as medidas correspondentes para alcançar esses objectivos. E em paralelo será muito mais fácil ao Governo acertar as medidas adequadas e as dosagens correctas.

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