Tem sido engraçada a nova
infantilidade política em curso por muito dos corredores de poder desta Europa.
O Sr. Hollande, bastião da boa nova do crescimento económico como boia de salvação
da Europa e de todos os males que nos desassossegam, parece acreditar que o
crescimento económico pode ser tratado como uma opção passível de ser decretada.
Esta ingenuidade até será aceitável para alguém que ande a sofrer seriamente
com a crise em curso, mas é ridícula em alguém que se encontra num posto de
comando.
Crescimento económico não é algo que se decrete. O crescimento económico sustentado e saudável ocorre quando as bases para o seu aparecimento são edificadas e solidificadas. E para quem ainda não se tenha apercebido, o que se está a tentar construir nos países meridionais é precisamente as bases para que mais tarde se possa crescer. O problema na economia é que estas coisas demoram alguns anos. E o problema das pessoas nos dias de hoje é que querem tudo já, à boa maneira do faça já, compre já, ou ainda do emagreça já.
Como a cabeça do vulgo tem sido massajada há décadas na infantilidade, a superficialidade e a ilusão tomaram conta das percepções. Assim, a distância destas para a realidade assumiu dimensões gigantescas. A chegada desta última traduziu-se inicialmente pela negação, e mais recentemente transformou-se em frustração quando a sua inevitabilidade foi finalmente percepcionada. E é neste ponto emocional em que nos encontramos, que mais não é do que um terreno fértil para a astúcia e o ludíbrio.
O Sr. Hollande querer agora capitalizar a posição menor da França face à Alemanha à custa da insatisfação emocional de parte da massa ignara e infantil. Evidentemente que o seu aparente sucesso inicial mais não é que o resultado de um desabafo momentâneo das massas, como um gordo que vai na sua terceira semana de forte dieta e que se deleita à sucapa com dois pastéis de nata: sossega-lhe o corpo e a gula mas perturba-lhe o processo. A vontade e a acção conflituam, e a doçura da última torna-se mais forte que a razão da primeira. E é isto que o Sr. Hollande representa face à Sra. Merkel. Vontade. Uma vontade danada que tudo passe depressa, que a realidade não seja, e que o erro não tivesse acontecido.
Acontece que o Alemão tem
provado saber bem do que fala. Para além disso é um povo a quem foi dada a conhecer a amargura quando
tomou opções em conformidade com estados de alma. Hoje o meridional está confuso e com pouco discernimento, e a verdade diz que ele
precisa de austeridade de modo a eliminar o hiato entre as suas percepções e a
realidade. Quando esta aliança for feita, então o crescimento brotará, não por
decreto, mas por vias das forças naturais da própria sociedade. Não há nenhuma
evidência, tão pouco histórico, de que poderá existir crescimento e desenvolvimento
numa sociedade que vive dissociada da realidade, pelo que, lidar de frente com
esta é condição necessária para a obtenção daqueles. Enquanto uns dedicam-se na
compreensão e relacionamento com a realidade, outros preocupam-se com a
existência da mesma. Em posições de comando é isto que distingue o sabedor do
ignorante.