Portugal está num processo de mudança muito grande. Poucos andarão a dar
conta disso, mas esta crise está a modificar aos poucos os alicerces sobre o
qual montámos a nossa vida nos últimos 25 anos. Julgámos ser possível trilhar
um caminho para que nos levasse a um nível de vida Nórdico aplicando práticas
Meridionais naquilo que as mesmas têm de mais funesto. A falácia alimentou-se
pela cegueira voluntária do indígena e pelo desregrado contínuo aumento do endividamento
geral.
Em todos estes anos a sociedade pouco se sensibilizou para se questionar
sobre os fundamentos que levaram os Nórdicos a gozarem o nível que hoje têm.
Como que ocultando um medo de uma qualquer evidência reveladora de que determinado
tipo de alicerce tivesse de ser erigido. Impor limites ao endividamento
público? Tratar da nossa Justiça? Tratar de ter um mercado de arrendamento
imobiliário normal? Tratar de cuidar na construção de uma sociedade mais
independente do Estado? Tratar de criarmos mecanismos que premeiem o mais
produtivo? Tratar de exigir muito mais de quem não quer fazer nada, ou fazer
muito pouco, e de ainda quer viver à conta dos outros? Tratar de ser implacável
para com o aldrabão e espertalhão de meia-tigela?
Em todos estes domínios falhámos, e num grau muito superior ao razoável. E
é em todos que somos agora obrigados a mexer de modo a encarrilarmos e podermos
continuar no mesmo comboio que os tais Nórdicos. Em 1 ano já fizemos o mesmo do
que outros fariam em 2 ou mais anos. Mas o caminho é muito longo, e falta ainda
muito para modificar em elevado grau o que tem de ser modificado de modo a gozarmos
o mesmo nível de vida daqueles com que nos comparamos. Em muitas matérias a
política pode fazer muitas coisas. E eu não duvido que irá fazê-lo. Noutras,
dependeremos da humildade em nos questionarmos bastante sobre alguns traços da
nossa cultura e da predisposição para organizar a nossa sociedade e comunidades
locais de outra forma. Não será fácil, mas o prolongar dos tempos difíceis que
teremos fatalmente de percorrer ir-nos-á alertar para a necessidade de dobrarmos
um pouco a nossa maneira de ser. A ver se a humildade e o querer serão
suficientes.
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