domingo, 3 de junho de 2012

Uma dica ao Sporting Clube de Portugal

Curta declaração de interesses. Sou do Benfica, mas preocupa-me a situação actual do Sporting. Simplisticamente olho para o Sporting como clube e vejo a Grécia como país. Poderia regozijar-me do facto enquanto benfiquista, mas não o faço por entender o quão importante é para o desporto nacional, e o football em particular, ter um Sporting forte em termos desportivos e em termos financeiros.

O problema do Sporting consiste na apresentação sistemática de prejuízos e a consequente acumulação de uma dívida gigantesca quando comparada com a receita potencial. Isto é o cenário da Grécia nos dias que correm. No entanto, e ao contrário da Grécia, o Sporting tem uma solução. E é este ponto que me faz escrever estas linhas.

Ao que parece o actual presidente do Sporting fez umas deslocações pela China e Índia com o objectivo de encontrar investidores que queiram investir no Sporting. A esta ideia voluntarista falta aquela dose de realismo que se impõe nesta altura. Haja consciência que a probabilidade de sucesso desta investida pelas bandas asiáticas é nula, senão contraproducente, pois falar em football português por aquelas bandas poderá trazer interessados… mas para o Benfica. Basta para isso olhar para os relatórios da Deloitte de 2011 e 2012 sobre o football. O potencial de aumento de receitas do Benfica no curto prazo é tremendo (renegociação dos contractos televisivos e muito boas perspectivas de participação continuada na liga dos campeões), pelo que se algum milionário quiser brincar ao football em Portugal atirar-se-á muito mais depressa ao Benfica.

O que o Sporting deve fazer é tentar arranjar investidores depois de limpar uns 200 milhões de euros no seu passivo. Um investidor meio maluco, e há muitos deles com imenso milhões disponíveis pelas arábias, índias e chinas, talvez arrisque investir no Sporting se entrar com dinheiro para investir, não para limpar passivos. Esses investidores olham para o football como uma criança olha para um brinquedo. A sua relação é maioritariamente ditada pela componente lúdica. Ora neste momento não há nada de lúdico que o Sporting tenha para oferecer, a não ser uma tremenda novela grega que aí vem. Ao invés do Manchester City, que não ganhava um campeonato Inglês desde 1968, mas que sempre tem como atractivo o jogar na liga inglesa, o que não é despiciendo, e ser o clube da “terra” já que possui uma massa de adeptos em Manchester superior à do Manchester United (penso que relação de 60/40).

Assim, a direcção do Sporting se quiser realmente salvar o Sporting tem que dizer aos seus sócios e simpatizantes o seguinte. “Olhem, nenhum dos milionários nos quer como brinquedo para brincar aos campeonatos e taças. Para que isso possa eventualmente vir a acontecer, mas acima de tudo para que sobrevivamos como clube, é preciso que limpemos o nosso passivo nuns 200 milhões de euros. A proposta é a seguinte. Efectuar um aumento de capital nesse montante para amortizar dívida em igual montante. O propósito não é ganharem dinheiro com o investimento. O propósito é não perderem um clube. E, quiçá, um dia, talvez algum árabe meio embriagado venha a gostar de nós e se permita torrar por aqui uns milhões para comprar a sua equipa de football. Ha, esse aumento de capital até poderá ser feito ao longo de 4 anos à razão de 50 milhões de euros por ano, o que para um universo de 100.000 sportinguistas subscritores daria 500 euros por ano. O que é que acham? Vamos a isso?”

Eu sei que pode parecer uma proposta meia tola, mas quando as coisas apertarem à séria (e está quase…) e se colocar em cima da mesa a falência do clube e a sua respectiva liquidação, então todas as soluções, como a que acima indiquei, passarão a ser consideradas muito plausíveis. E esta até pode bem ser das melhores que se arranjam, especialmente se alguém vier com uma alternativa do estilo “Imploda-se o estádio de Alvalade, vendam-se os terrenos, e aluguemos um dos estádios de Lisboa para lá se fazerem os jogos”.

Isto não é do domínio do surreal. Surreal é a situação actual.

Nenhum comentário:

Postar um comentário