O recente manifesto dos 74, outorgado por muitos que têm mais voz do que
visão, constitui o grito de capitulação de uma geração que falhou na influência
que teve nos destinos de Portugal. Se nos colocarmos no lugar dessas
personagens e na grande maioria dos que apoiam a iniciativa, não será difícil
de adivinhar as pequenas parcelas de responsabilidade que a cada uma delas cabe
na condução do país até ao pedido de resgate. Tendo em conta a provecta idade de
muitos, é natural que individualmente se iniciem os trabalhos de fecho para
balanço das suas responsabilidades públicas. Aos outros, embora mais novos, mas
já com “currículum” de responsabilidades públicas, o exercício será mais
comprido, e por isso mais doloroso, pois terão o tempo suficiente para
compreender os erros que cometeram e ainda bastante tempo para cruelmente
verificarem que a terapia que vilipendiam vai/está a funcionar.
Parece evidente
que o assunto não é do domínio económico, tão pouco político. É do domínio da
psicologia. E quando a este nível se chega, a racionalidade e a frieza,
conceitos que tanto aprecio na assistência à boa governação, provam ser
totalmente irrelevantes. De psicologia sei pouco, mas sei o suficiente para
saber que a compreensão e o tempo são a melhor terapia para ajudar aqueles que
realmente querem fazer balanços justos de fim de vida. Recentemente tivemos em
Otelo Saraiva de Carvalho o inesperado exemplo de reconhecimento em como as
ocupações de terras nos idos anos de 1975 foi uma má decisão (In DN 26.03.2014 - "Era necessário tomar decisões, mesmo que elas fossem más. Tinham de ser
tomadas. Depois logo se via. Foi o que aconteceu inúmeras vezes, uma delas com
a reforma agrária, quando mandei ocupar as terras”). Obviamente que
seria estéril tentar convencer a personagem do seu contrário durante os anos
subsequentes, o que indicia que o encontro dos (ir)responsáveis políticos com a
realidade e o reconhecimento público dos seus erros é um acontecimento incerto
e, a ter lugar, a ocorrer somente no futuro longínquo.
Assim, façamos a nossa parte. Compreendamos agora os nossos concidadãos no
seu drama pessoal de introspecção, e não melindremos com análises frias e
racionais esses espíritos que somente necessitam de calor e ajuda para carpir a
mágoa que sentem mas não entendem. O tempo fará o resto.
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