domingo, 16 de fevereiro de 2014

Cuidado com as ilusões


Anda neste momento por aí alguma excitação pelo PIB ter crescido um pouco mais no terceiro e quarto trimestre de 2013. Isso deve-se maioritariamente à subida do consumo privado que tem estado a subir para gaudio de quem não deveria vangloriar-se com o facto. Como infelizmente a taxa de poupança tem vindo a descer desde meados de 2013, porque no entender de algumas famílias há muito bem duradouro a ser reposto (automóveis, etc), os nossos políticos não resistem em dar nova vida à visão de curto prazo que vai dominando sempre que encontra uma oportunidade, e ao invés de desincentivarem o consumo de bens duradouros, ainda celebram o facto.

Que se perceba uma coisa de uma vez por todas. A taxa de poupança não deve descer. Inclusivamente deve ainda subir. De entre outras razões destaco as seguintes. Primeiro para se poder diminuir a nossa dependência externa quanto ao financiamento da dívida pública. Se esta a prazo entrar na curva descendente em percentagem do PIB, o que vai ter de acontecer através de excedentes (já agora, só oiço o Sr. Passos Coelho proferir a palavra EXCEDENTE. Pergunta: quando é que no CDS essa palavra entra no léxico?), e se cumulativamente o crescimento da poupança interna substituir parcialmente o financiamento externo, então caminharemos a prazo para um cenário à italiana ou japonesa onde os credores são menos os mercados e mais a própria população, com todo o impacto positivo no nível das taxas de juro com que rolamos o stock de dívida.

Segundo, para dar mais graus de liberdade ao decisor político no que respeita à grande reforma que o nosso sistema de segurança social vai ter de sofrer. Este problema, que de pequena reforma em pequena reforma vai coxeando cada vez mais por imperativos da nossa dinâmica demográfica, necessita de ser repensado de raíz, pois só quem anda muito distraído é que não percebe que o drama de quem hoje se queixa que as pensões são baixas não é mais do que o sonho dos pensionistas de amanhã. E porque a passagem do modelo actual para um modelo futuro irá necessitar de um período de transicção que seguramente será complexo, quanto maior for a taxa de poupança mais hipóteses teremos de proceder a essa transicção.

Só quem anda muito embrenhado em calendários políticos e calculismos partidários não percebe que estes pífios foguetes, que são do interesse partidário, de nada valem quando comparados com os dois pontos acima descritos, que são do interesse de Portugal. Que o PS seja assim ainda é como o outro, agora que o CDS pratique esta modalidade de socratismo é que já custa mais a aceitar. Senhores doutores do CDS, lembrem-se que somos de direita, e que discutir décimas de crescimento com origem no decréscimo da poupança e fazer disso depender uma saída à irlandesa não é mais do que estar à altura daqueles que nos trouxeram até ao programa de resgate. Percebem e concordam? Ou nem sequer percebem?

Que tristeza percepcionar que politicamente Portugal entrou de novo numa fase de curto prazo… ou não estivessem eleições à porta.
 

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