A Portugal foi permitido testemunhar desde Julho do ano
passado ao desmoronar do maior castelo de cartas da nossa economia e finanças.
Falo do GES/BES e da PT. A derrocada em si é desprezível em termos de impacto
para a economia real, que é ínfima se atendermos ao quase pavor que nos
quiseram vender por quem de perto convivia com o desmoronar das ilusões. O que
não é desprezível é a análise do modelo em que o sistema estava montado no que
respeita ao modus operandi e às
crenças de quem habitava no círculo e de quem dele beneficiava directa ou
indirectamente.
Esse grupo falido continha muito daquilo que marcou Portugal
nos últimos 40 anos. O pensar que se é mais do que aquilo que se é, a prostituição
intelectual das chefias ao subjugarem a ética aos proveitos financeiros e à
carreira, o agachamento da vulgata corte por troca de dividendos e outros pequenos
“benefícios”, e a suprema ilusão de todos os participantes e aspirantes a
participar de que funcionar em circuito fechado é condição de sucesso desde que
para isso se socorra de conhecimentos interesseiros e outras influências.
Como em qualquer sistema dominante que se desenvolve em
circuito fechado, as vozes que nele habitam e de que dele beneficiam acham-se a
voz, ou seja, acham-se possuidores de autoridade absoluta na emissão de doutrina
sobre os credos, trilhos, e ritmos que todos devem seguir. Consequentemente, e
com o passar do tempo, os enviesados modelos de sucesso deste circuito fechado
passam a ser o modelo único e rígido dos que dele fazem parte, ou anseiam fazer,
e dos que dele beneficiam, com todas as nefastas consequências para a ética e sanidade
mínima que devem caracterizar as organizações de sucesso. As tristes figuras na
comissão parlamentar dos participantes máximos da ilusão mais não fez do que
colocar a nu a qualidade do barro sobre o qual todo o sistema estava edificado
e a consequente podridão da seita, e que de certa forma modelizava o conceito
nacional de sucesso, explicando em boa parte de uma forma fria e literal porque Portugal
não se desenvolveu muito nos último 20 anos.
É um facto inequívoco que nos dias de hoje as palavras e os
discursos dos executivos de topo em Portugal são muito mais esmiuçados. Por
sorte, a rapaziada (a expressão não é gratuita pois a infantilidade é
característica nestes sistemas fechados) que funciona em circuito fechado ou já
se extinguiu, ou a pouca que ainda sobra perdeu a motivação de expor a sua
vacuidade a escrutínios mais severos. Muito proveito Portugal irá beneficiar a
prazo, pois quem hoje marca o ritmo funciona tendencialmente em circuito aberto,
ambiente que por definição tende a retirar o melhor de cada participante do
sistema.
Há no entanto ainda um domínio que funciona basicamente
em circuito fechado: os partidos. O que explica porque as maiores alarvidades
que ecoam pelo país sejam maioritariamente vociferadas por altos dirigentes partidários,
de A a Z. Os mercados, com todas as suas imperfeições, a seu tempo sempre vão derrubando
as organizações mais podres por via das regras do próprio mercado. Na política criaram-se
outras regras, misteriosas para quem joga o jogo pelo jogo, mas vantajosas para
quem delas se utiliza para se movimentar como modo último de sobrevivência,
tornando a regeneração partidária um fenómeno mais complexo. Os que “acham-se”
na política nos dias de hoje e que blindaram o sistema que lhes serve e que
lhes permite proferirem estupidez e ignorância, estão para a política como para
a economia e finanças estiveram os que fizeram triste figura na Comissão
Parlamentar do caso GES. Esses são aqueles que é preciso extrair da política
para que Portugal possa respirar melhor e viver num ambiente mais arejado.
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