Há pouco tempo atrás, durante a tomada de posse do Conselho para o
Empreendedorismo e Inovação, Passos Coelho dizia que o desemprego deve
representar uma oportunidade. Uma oportunidade para procurar emprego, calculo
eu, porque não quero nem pensar que o primeiro-ministro estava a propor aos
desempregados o empreendedorismo como uma espécie de última instância depois de
tudo o resto ter falhado. Como quem diz: estão desempregados, mas têm sempre a
hipótese de abrir uma empresa e portanto não me chateiem. Muito pelo contrário,
montar um negócio de sucesso não é propriamente fácil e este devia ser o
desafio número um para os jovens licenciados. A rapaziada da minha idade, no
entanto, continua mais interessada em banca de investimento e consultoria; uma
pena, a meu ver, porque seria melhor para a sociedade se estes jovens,
motivados e inteligentes, estivessem mais focados em descobrir novas formas de
criar valor.
Ainda por cima, entre business angels e capitais de risco, «nunca
houve tanto dinheiro para apoiar empreendedores». A frase é do presidente da
Associação Europeia de Business Angels. O português, claro, é um visionário e
Portugal é um dos países com maior taxa de natalidade empresarial. O problema,
infelizmente, é que também temos das maiores taxas de mortalidade; apesar de se
criar muitas empresas, os projectos são pouco estruturados e ao fim de dois
anos apenas metade sobrevive. Ou seja, ideias originais há muitas, o que falta
é gente que as implemente efectivamente e com sucesso, que crie novos empregos, mais valor para a sociedade. E para isto é essencial que se
mudem mentalidades e que se ponha os jovens de hoje em dia mais interessados no
empreendedorismo e menos na banca de investimento e consultoria.
Tem que haver uma aposta séria na coisa. E nós, jovens licenciados, na flor da idade, com bom corpo e força nas pernas, até falamos nisto, imaginamos empresas novas, mil e um projectos possíveis, mas depois acabamos por adormecer, na antemanhã ainda, ou falhamos na execução, exaustos, quase sempre, como se nada pudéssemos contra a carapaça burocrática de uma sociedade com poucas estruturas de apoio e uma educação redutora. Pois sim. Agora a sério: é preciso juntar nisto os melhores de nós e pôr esta porra a andar.
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