A fuga de cérebros é excelente para o país. A emigração de jovens
qualificados, provocada pelo sufoco da economia portuguesa, onde as
oportunidades escasseiam e as condições salariais são magras, é cada vez mais
uma realidade. Noutros tempos o perfil era diferente: quem fazia as malas era
tipicamente gente com pouca educação, pessoas humildes, fechadas em comunidades
pequenas, sem ambição. Os novos emigrantes possuem, no entanto, certas qualidades
que os antigos não tinham e é nessas qualidades que reside a base do que vai
ser Portugal amanhã. Ter os melhores portugueses a viver e a trabalhar fora de
portas é ter melhores embaixadores de Portugal no mundo. É criar uma imagem nova
para o país, é atrair turismo e investimento. E mais que isso: ter uma rede de
portugueses com valor no mundo é a base para o impulso de um país que precisa
inevitavelmente de exportar.
A partir de 1974 criou-se a sensação que a população precisava de
carinho e por isso pediram-se sucessivos empréstimos e investiu-se em obras
públicas. Construímos auto-estradas para irmos de férias, centros comerciais
para os fins-de-semana, pontes e linhas de ferro, rotundas, muitíssimas
rotundas, e estádios de futebol. Investimos dinheiro que não tínhamos em
projectos sem retorno. Até que em 2008, com a crise internacional, a bolha
rebentou. E agora somos governados por políticos verdadeiramente pitorescos que
se gastam em esforços quase inócuos para pagar a dívida à custa da população. E
assim sendo a solução possível para a nossa economia só pode partir da
iniciativa privada.
A exportação tem que ser o desígnio nacional, mas ao contrário da
tradição portuguesa desta vez não podemos fazer tudo em cima do joelho. É
preciso uma estratégia. A agricultura é a minha sugestão. Se pensarmos um bocadinho
percebemos que não podemos competir em custos produtivos, mas temos sérias vantagens
competitivas na capacidade de diferenciação. Temos um clima invejável, uma
exposição solar única, uma zona marítima maior que ninguém, rios limpos, todo o
tipo de solos e muitos anos de experiência. E esta é uma estratégia que faz
especial sentido agora, num momento em que o consumidor está cada vez mais
consciente e por isso disposto a pagar um extra pela qualidade e origem dos
produtos.
Chegou o momento de criar marcas
fortes e começar a vender pão, vinho, azeite, queijo, fruta, doces, peixe,
legumes – toda a nossa gastronomia. Há milhares de restaurantes chineses no
mundo, milhares de trattorias, bares de tapas, bistrôs, etc. Agora é a nossa
vez. Sempre houve gente com boa capacidade para ficar em casa a produzir os
melhores produtos daquém e dalém mar. Agora, com a fuga de cérebros, vamos
finalmente ter quem os venda. A crise não vai passar tão cedo, mas vai passar.
Acredito nisso.
Um comentário:
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