Eis um misterioso
conceito que tão mal interpretamos em Portugal, Liderança. Muitos portugueses, com
pouca confiança e auto estima por jogarem num tabuleiro muito estreito, e
portanto sempre tementes quanto ao seu futuro, preocupam-se com demasia em
encontrar o iluminado que lhe indicará o caminho a seguir, ou aquele que tomará conta de
si. Esses portugueses estão sempre prontos a endossar o seu destino a um qualquer
vendilhão vazio na ideia e rico na prosa desde que isso incendeie as suas
pequenas ilusões. A nossa política produziu muito desta variante em democracia.
Não espanta, aliás, a factura que temos para pagar…
O novo ciclo em que
Portugal já se encontra vai exigir um tipo de liderança completamente diferente
daquela que julgamos ser a necessária. Por força das circunstâncias, não só as
derivadas do pagamento da dívida acumulada, mas acima de tudo pelo facto de
forçosamente termos de jogar num tabuleiro muito maior, o do mercado mundial,
reserva pouca margem para os vendilhões da ideia fácil, mais familiarizados com
contração de dívidas e venda de ilusões. Consequentemente, e em definitivo,
Portugal precisa de melhor compreender o que é Liderança, ou seja, precisa de perceber
que o seu sucesso não passa por encontrar um líder, antes passa por perceber
que é no conjunto, no grupo, na capacidade associativa, na partilha, na
produção e comunhão de ideias, projectos e sua execução, que consegue vencer no
mundo, e que os melhores resultados não se obtêm com o trabalho de um líder, mas
antes na capacidade de diferentes líderes trabalharem em conjunto.
Nesse sentido, os partidos
políticos estão muito atrasados no processo, senão mesmo em contraciclo com as
melhores práticas que já se observam no mundo empresarial português. Os líderes
dos partidos políticos, ou por vontade própria, ou pela circunstância de
escassez de massa cinzenta que os próprios partidos trataram de expulsar do seu interior,
navegam isolados, e, consequentemente, Portugal tem ficado refém dos dislates ou (in)disposições
deste ou daquele político. Experimentámos disso recentemente.
Quem
liderar um partido no futuro tem necessariamente de perceber que há muito trabalho a levar a cabo na
captação de massa cinzenta disposta a pensar Portugal. Isso passa por criar um ambiente que estimule não só a livre expressão, mas também o gosto em lidar com quem pensa a realidade por um outro prisma ou ainda de uma forma diferente. Evita-se assim que um partido não dependa unicamente da capacidade de produção intelectual de um indivíduo ou de uma
tendência, ao mesmo tempo que se criam anticorpos ao aparecimento de modelos de seguidismo e de apoio cego ao indivíduo ou à tendência do momento, aspectos fundamentais para trazer competência à
vida política de Portugal. Daí a necessidade de pessoas humildes que saibam reconhecer as suas limitações, de carácter que saibam respeitar o outro, educados para que saibam ouvir o que o outro tem para dizer, e estruturados para que saibam incorporar as diferentes parcelas de valor. Numa palavra, Homens fortes com elevado sentido do colectivo e de entendimento mútuo. Assim se protege o interesse comum e se serve a comunidade.
O quadro de Rembrandt “Os
síndicos da guilda dos fabricantes de tecidos” é especialmente feliz porque
transmite precisamente a imagem de Homens fortes que conjuntamente
zelam por um interesse comum, um interesse superior e que se encontra ao
serviço da comunidade. Curiosamente o quadro transmite ainda a sensação de que o
desaparecimento de um elemento em nada abalaria o objectivo a que todos se propõem. Neste
aspecto lembra-me Max De Pree no seu livro Leadership
is an Art quando diz que um líder trabalha para a sua própria inutilidade.
Ainda acerca do quadro, e de
acordo com a ENCYCLOPEDIA OF ART EDUCATION “...It is a group portrait of the officials of the Clothmakers Guild -
more precisely, they were controllers of cloth-samples. They were appointed by
the Mayor of Amsterdam to regulate the quality of cloth sold in the city, and
held their meetings, in private...”. “...Rembrandt has created a universal
symbol for prudence and rectitude. Their various temperaments are focused on
the single purpose of looking after the interests of an important trade, in
effect a public service. It is their sense of togetherness, of mutual
understanding, that is the emotional heart of the The Syndics of the
Clothmakers Guild”
Um comentário:
Faz-me lembrar este livro: http://silabo.pt/livros.asp?num=490!
Postar um comentário