Este texto
divide-se em cinco capítulos:
1. Em que ponto nos encontramos
2. Porque nos encontramos neste ponto
3.
Para onde
deveremos ir
4.
O que fazer
de modo a caminharmos para onde deveremos ir
5. Seis aspectos a colocar no topo da
agenda
1. Em que ponto nos encontramos
Portugal é
em 2016 um país:
i)
Sobre endividado
a todos os níveis (empresas, famílias, Estado)
ii)
Dependente
da boa vontade de terceiros (credores e parceiros internacionais)
iii)
Mentalmente
dependente do Estado
iv)
Que valoriza
pouco a iniciativa empresarial
v)
Que acredita
pouco no valor do trabalho como modo de melhorar o rendimento económico
vi)
Com uma
economia desequilibrada ainda excessivamente voltada para o consumo interno
vii)
Muito
desiludido tal a discrepância entre o “El
dourado” prometido e a realidade que nos caiu em cima
viii)
Demasiado
mal governado até 2011 e neste momento
ix)
Sem
estratégia
2. Porque nos encontramos neste ponto
i)
Porque
acreditámos em vendedores de ilusões durante demasiado tempo
ii)
Porque direcionámos
a nossa economia para o consumo interno e para actividades com fracos
crescimentos de produtividade
iii)
Porque nos
endividámos e nos desmiolámos (incontornável a utilização desta expressão tão
forte)
iv)
Porque
criámos e acreditámos em modelos de sucesso que se revelaram perversos (vide as
fraudes bancárias, Portugal Telecom, excesso de PPP, etc)
v)
Porque
acreditámos que a simples adesão à CEE e a entrada na zona Euro por si só nos
garantiria acesso a um nível de vida nórdico
vi)
Porque exigimos
mais direitos face aos deveres que estamos dispostos a praticar
vii)
Porque o
interesse das corporações fala mais alto que o interesse nacional
viii)
Porque os
partidos falharam na produção de elite política. Neste particular convém
referir que os aparelhos ganharam vida própria e impuseram uma dinâmica onde o
debate de ideias se encontra subalternizado ao interesse das conveniências dos
diversos grupos de interesse
3. Para onde devemos ir
Portugal
deverá lutar por todos os meios para atingir o objectivo de se tornar um país
independente e num país de referência na economia do conhecimento.
Para isso
Portugal deverá:
i)
Tornar-se
num país exportador. As exportações deverão representar um mínimo de 60% do
produto
ii)
Tornar-se
num país com crónicos excedentes da balança corrente. Não esquecer que para
equilibrar o elevado stock de défice externos acumulados há ainda muito
excedente pela frente a alcançar.
iii)
Um país que
se globalize tanto quanto possível pois a Globalização é um palco onde o
Português tem inegáveis vantagens relativamente aos outros.
iv)
Ser um “player” de referência no mundo ao nível
da logística, montagem de produto e aplicação de conhecimento
Se
progredirmos nestes pontos conseguiremos ajustar as expectativas face ao que a
economia produz, indo ao encontro da realidade ao mesmo tempo que abandonamos o
mundo da fantasia, mundo esse onde a ilusão, a verdadeira doença que grassa
em Portugal, encontra terreno fértil.
4. O que fazer de modo a podermos caminhar para onde deveremos ir
Três pontos,
a saber
1. Libertar
Portugal do jugo corporativista e colocá-lo no mundo a jogar no campeonato da
Globalização com uma aposta clara e inequívoca nas exportações. Há que dar sinais
claros à sociedade de que ir de encontro à Globalização é uma opção ganhadora
porque:
·
É aí que
estão as oportunidades.
·
É aí que se
vence e que se prospera no século XXI.
·
É aí que
tomamos o futuro das nossas mãos
·
É aí que nos
libertamos dos vendedores de ilusões que invadiram o espaço político
·
É aí que nos
libertamos dos grupos de interesse que querem passar por referência
·
É aí que
interiorizamos que há outros modelos de sucesso baseados no mérito e na
avaliação, estes sim saudáveis e bem mais arejados
·
É aí que nos
tornamos mais competitivos, mais fortes, com maior capacidade de realização, e
por isso maiores
·
É aí que a
mobilidade económica acontece
·
É aí que o
mais esforçado e o mais produtivo se libertam dos “pendurados”
·
É aí que se ganha
auto estima com vitórias em ambientes mais competitivos, exigentes, e mais
transparentes
·
É aí que se
ganha a verdadeira humildade ao aprender a crescer com as derrotas
·
É aí que
temos vantagens comparativas. A Globalização é o nosso meio natural. Fomos nós
que a iniciámos há mais de 500 anos. Não há pois que temer em jogar num terreno
que é o nosso.
·
É aí que os
excedentes acontecem. Realce-se que só por si, enterrar a palavra défice trará
ânimo a Portugal.
Evidentemente
que quanto mais sucesso tivermos neste campeonato global das exportações mais
esperança deverão ter os outros portugueses que se movimentam nos mercados do
consumo interno. Para pequenas economias como a portuguesa é o sucesso nos
mercados externos que pode viabilizar mais sucesso e melhores condições de vida
a quem trabalha no mercado interno. O contrário não é validado pela nossa experiência,
aliás, como infelizmente andamos a experimentar há muitos anos. Dúvidas hajam
que se encontre a devida resposta nos bons exemplos de países como a Irlanda,
Holanda ou Bélgica.
2. Porque é
importante relegar para um plano secundário a “psicose” do consumo interno.
·
Porque esta
psicose é o terreno fértil dos modelos duvidosos que funcionam em circuito
fechado e menos transparente, com tendência a premiar quem melhor se move nos
intrincados circuitos do poder, de que são exemplo os escândalos bancários, Portugal
Telecom, as PPP, e que envolvem ainda uma série de consultoras e escritórios de
advogados.
·
Porque contribuiremos
para o desmantelamento de um tipo de economia que só trouxe endividamento,
questiúnculas judiciais, e outros fardos.
·
Porque
ajudamos Portugal a libertar-se um pouco mais de Lisboa.
·
Dar
prioridade ao consumo interno em lugar das exportações é colocar a carroça à
frente dos bois. Primeiro exporta-se e consolidam-se os mercados externos,
depois dedica-mo-nos aos consumos intermédios, e por fim, como brinde, tratamos
do consumo interno (1). Esta é a sequência seguida pelos países de sucesso e
mais desenvolvidos. O seu contrário é o charco onde se movem os vendedores de
ilusões.
·
Percalços
como aquele iniciado desde meados de 2014, com a reentrada do “consumo interno”
no léxico da agenda política nacional, são um mero sinal onde até na direita
este processo não é ainda compreendido na sua plenitude
3. Ajustar
os partidos políticos.
·
Portugal foi
demasiado mal governado durante demasiado tempo até ao pedido de resgate em
2011.
·
Para nossa
infelicidade os partidos políticos criaram desde há muito uma dinâmica que teve
como resultado o repúdio de muitos portugueses de valor em entrar na política.
·
O modelo
seguido pelo “centrão”, de uma sociedade socialista e maioritariamente
subserviente e dependente do Estado, gerou e desenvolveu toda uma sorte de
teias de relações promiscuas e de influências perniciosas ao são
desenvolvimento de Portugal, ao mesmo tempo que sugava talento e outros
recursos às empresas exportadoras mais expostas a mercados de concorrência pura.
·
Uma
sociedade mais aberta, onde a livre iniciativa encontre mais espaço para criar
riqueza, está em melhores condições de libertar Portugal do jugo da dependência
do poder económico do poder político. Não é preciso muito argumento para se
perceber que o CDS é o partido em Portugal melhor posicionado para operar a
transformação que se impõe nas relações entre o poder político e o poder
económico.
·
No entanto,
e porque virar à direita não é por si só o garante da eliminação das relações
funestas entre o poder económico e o poder político, compete ao CDS a melhor
interpretação da relação mais saudável entre estes dois poderes.
·
Uma
excelente forma de o fazer passará pela constante e obstinada busca dos
melhores quadros, trazendo ainda mais competência, mais ética, e mais espíritos
livres para dentro do partido, assegurando ao mesmo tempo a capacidade virtuosa
de bem acolher quem pensa diferente do líder ou da tendência do momento.
·
Deixemos o
culto da facção para os outros partidos, e que se se dote o CDS de maior
capacidade de distinção a este respeito relativamente aos outros partidos de
forma a torná-lo o partido mais arejado e o principal partido do futuro em
Portugal, e naturalmente aquele onde mais portugueses podem confiar o seu voto.
Que se
compreenda e que se interiorize bem que a sociedade portuguesa está a esgotar,
ou já esgotou, a sua paciência para os grupos de pressão e para a forma como os
partidos se apresentam. Partido que melhor perceber este facto e melhor souber
fazer o trabalho de casa será o partido que merecerá a maior confiança do
eleitorado. A realidade sociológica já mudou, está órfã, e desejosa de brindar
quem melhor praticar virtude.
5. Seis aspectos a colocar no topo da agenda
1. Pensar no porto de Sines como
plataforma de referência na entrada de mercadorias na Europa e como principal
porto de transhipment dos novos super barcos.
2.
Decorrente
do ponto anterior criar na zona circundante a Sines uma verdadeira plataforma
de logística e de montagem de produto com o selo "Fabricado na Europa”. O
sucesso de um projecto desta natureza pode projectar Portugal no mundo como um player de referência no transporte e
montagem de produto. O impacto na criação de trabalho directo e indirecto pode
significar uma transformação de grande magnitude em Portugal.
3.
Criar
estímulos fiscais ao nível do IRS para atrair talento estrangeiro com
carteira própria de clientes e desde que o mesmo não vá competir
directamente com talento português existente (2).
Objectivo deste incentivo passa por:
3.1.
Criar
receita fiscal. Decorrente desta criação de receita fiscal "financiar"
a redução das taxas de IRS.
3.2.
Criar mais
trabalho directo qualificado em Portugal decorrente da importação de actividade
económica voltada para a exportação.
3.3.
Promover
outro nível de centralidade do talento português na rota do talento mundial.
3.4.
Envolver de
uma forma agressiva as universidades neste processo e com isso dar-lhes maior
visibilidade a nível internacional.
3.5.
Facilitar a
geração de centros de excelência
3.6.
Mitigar o
suicídio demográfico em curso
4. Recapitalização das empresas. Existe
uma genérica falta de capital próprio nas empresas portuguesas. Esta é a
parcela mais complicada do ajustamento total de Portugal, e estamos ainda muito
longe dos mínimos aconselhados. Há ainda muito caminho para diminuir o excesso
de alavancagem existente no nosso tecido empresarial.
5. A taxa de poupança anda a níveis de
3%, um nível muito longe da média europeia - 12,5%. Numa economia
excessivamente endividada uma taxa de poupança de 3% coloca-nos numa posição de
puder perder a pouca soberania que ainda nos resta. Urge substituir parte do
stock de dívida pública nas mãos de estrangeiros, com claros benefícios ao
nível das taxas a que podemos rolar o stock de dívida, e com claros benefícios
negociais relativamente aos nossos parceiros para cenários de maior stress na
zona euro.
6. Estar integrado na Zona Euro implica
deveres e respeito para com os nossos credores. Uma estratégia de pura
confrontação com os nossos credores é:
6.1.
Pouco digna para
Portugal e de muito desrespeito para com os nossos parceiros e para com os outros
povos.
6.2.
Uma opção muito
pouco inteligente pois só serve para aumentar a taxa de juro com que teremos de
rolar o stock de dívida.
6.3.
Consequentemente
é uma opção irresponsável. Querem-nos “vender” muitos direitos, mas seria
inédito venderem-nos a ideia de que a irresponsabilidade é um direito. Não o é,
e Portugal e o CDS saberão dizer que não.
Notas:
(1)
No caso particular de uma empresa a sequência
tende a ser a inversa, embora na economia do conhecimento não seja raro os
projectos que se iniciam logo voltados para os mercados externos.
(2)
Muito há a explorar para
produzir um pacote atractivo e com benefícios para o talento português:
i)
Estímulo fiscal a incidir
unicamente naquela parcela de matéria colectável decorrente do valor exportado.
ii)
Limitar o benefício a
empresários em nome individual.
iii)
Poder-se-á pensar também em
condições como a obrigatoriedade na subcontratação de pelo menos um parceiro do
mesmo ramo de actividade e que se verifique o menor dos seguintes valores para
cada parceiro decorrente da relação comercial: rendimento não inferior a 20.000
euros para o sub-contratado ou 25% do rendimento do sub-contratante.
Um comentário:
Sei bem como é... Possuo um micro empresa atuo basicamente só no mercado interno, a quantidade de burocracias e o IVA excessivo está a afogar todo o trabalho que é realizado.
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