No início da década de 90 explodiu
em Portugal um tipo de perfil que faleceu no decorrer do programa de
ajustamento. Circulavam pelos corredores das grandes empresas dos mercados não transacionáveis
(obviamente…), pelos ministérios, bancos, ou ainda por uma qualquer autarquia
mais atrevida. Consideravam-se o arauto e a referência do melhor que a gestão e
a ambição podiam dar ao país (ou em rigor, a si e aos seus), projectando-se na
sociedade como a nata e como sendo aqueles a quem todos deviam dar as graças
pelos seus valorosos e inquestionáveis méritos postos ao serviço da Nação.
Falavam de alto, mais pelo que
julgavam ser do que pelo que eram. Ele era milhões para aqui e para ali. Discorriam
sobre estratégia e negócios com aquele à vontade próprio do parolo que brilha
perante uma plateia mais desinformada. Cegos sobre os cenários que iam imaginando
e quase sempre muito resolutos, viam-se como aqueles a quem a providência se
lembrara para tomar em mãos os destinos estratégicos do país, e, por inerência,
aqueles a quem o topo lhes deveria pertencer como consequência da sua condição.
Para muitos representavam aquilo
que, erroneamente, muita esquerda sempre quis fazer acreditar como sendo a
Direita. Desmedidamente ambiciosa, arrogante, inculta, impreparada, e sanguessuga.
Nem faltava o fiel séquito que costuma gravitar à volta destes círculos, sempre
bajulador e refém da sua ambição mais pequenina, embora útil. Desfilava também uma
meia gente agachada que aceitava a troca do princípio pela prebenda, ao que não
seria alheia a influência do sabor dos amendoins para a indistinção entre
miragem e realidade.
Quis pois a realidade, esse
incómodo dos ilusionistas, desmontar os mitos que andavam à solta. Com o baixar
da maré muitos daqueles que outrora se passeavam alteados e davam entrevistas
passaram a viver ou detidos, ou a solicitar perdões de dívida, ou ainda a fazer
figuras tristes em comissões de inquérito.
Eram a Direita? Não. Eram Pendurados.
Ou numa família, como Ricardo Salgado, ou num partido, como José Sócrates, ou
num monte de dívida, como Nuno Vasconcellos, ou numa empresa leiteira, como
Zeinal Bava e Henrique Granadeiro. A lista é infindável.
Esta matéria mal organizada e
desacreditada sugou muito ao país. Até naquilo onde provavelmente os próprios nunca
se darão conta. Subtrairam à Direita, onde por perfil eles não cabem, argumentos
para convencer a maioria dos Portugueses que existe uma Direita consciente, responsável,
recta, que responde pelos seus actos, livre no pensamento, pouco dada a ilusões
e outros jogos, e que pode ser bastante útil para a libertação de Portugal.