Como julgo já ser consensual, a doença profunda de que Portugal
padece chama-se ilusão. Ela manifesta-se de múltiplas formas. Dívida,
baixa taxa de poupança, arrogância, desproporção entre direitos
adquiridos e deveres practicados, amanhãs que cantam, fuga para a
frente, incapacidade de racionalizar e argumentar, e acima de tudo
negação. Com esta listagem creio que, qual psicólogo, o primeiro passo a
interiorizar é perceber que não é com pura racionalidade que se
convence o doente, nomeadamente se utilizarmos um estilo assertivo
recheado de argumentos. Adoptar esta postura só leva a que o iludido se
feche e adopte uma atitude defensiva, tornando impossível a sua cura.
Preferível é deixar o doente falar e facultar-lhe espaço suficiente para
se espalhar, algo que só o tempo e as circunstâncias que a realidade
vai impondo conseguem fazer valer. Sobra assim ao lúcido socorrer-se da
paciência que este exercício impõe, o que convenhamos não é a atitude
mais fácil para o actor político que no dia-a-dia é chamado ao combate
político.
A prova de que a racionalidade é ineficaz pode ser encontrada na forma leviana como o nosso (des)governo* encara a evolução da taxa de juro a que Portugal se financia nos mercados. Não admite que a mesma possa reflectir a opinião racional de inúmeros agentes que, embora outrora não tenham dado mostras de total racionalidade, têm tido nos anos mais recentes atitude bem mais alerta perante as diferenças entre cada devedor. Quando confrontado com o facto o ilusionista de serviço desorienta-se e responde de modo ludibrioso e por vezes até acintoso, tal é a diferença entre o que é e o que deveria ser. Com a agravante de que na cabeça de um socialista é uma contradição dos termos o facto de serem os mercados a regularem governos desmiolados e não o seu contrário. Direi pois que mais vale flanquear o ilusionista não o confrontando directamente, uma absoluta perda de tempo, antes falando para o povo sobre as consequências das ilusões. No caso das taxas de juro, e só relativamente à última emissão, é bom ter presente que a ilusão vai ter um custo adicional para os portugueses de cerca de 660 milhões de euros (ME), ou seja, 3000 ME * 2,2% * 10 anos. Simpaticamente para as luminárias de serviço assume-se que 2,2% é a diferença entre o que pagaria um governo de qualidade mediana em comparação com o actual (des)governo. Para isso recordamos que em Fevereiro de 2015 Portugal financiou-se a cerca de 2%.
*Para o BE e PCP isto nem sequer é tema porque as dívidas para estas cabeças não devem ser pagas
Publicado em 17.01.17 http://corta-fitas.blogs.sapo.pt/psicologia-para-lidar-com-ilusionistas-6477768
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