Portugal perdeu uma excelente oportunidade de proceder a mais uma
parcela do total de ajustamento de que necessita. No caso da já famosa
administração da CGD ficou demonstrado que a nossa classe política
funciona ainda no modelo de circuito interno ao não entender que
Portugal necessita para certos lugares de uma classe dirigente mais
independente e arejada. Não teria sido bem mais avisada a escolha de uma
equipa internacional, distante da poluição que anima a nossa vida
nacional, descomprometida com o sistema de produção de “cozinhados” que
historicamente resultaram em incontáveis imparidades, e com um olhar
mais distanciado e mais livre tão útil para um país que carece de mais
discernimento?
Imaginemos por momentos a administração da CGD povoada de suecos,
alemães, ingleses, dinamarqueses, franceses, etc, (presidente incluído).
Não estaríamos mais seguros no rompimento daqueles elos e processos que
tão bem têm assistido ao modelo promíscuo entre os poderes político e
económico que tão brilhantemente nos atolou e que teima em não sair da
frente? Não que o simples facto de ter estrangeiros ao comando na CGD
nos garanta gestão de excelência. Mas a história das imparidades da CGD
não é famosa e espelha bem o perigo da promiscuidade entre política e
negócios, suporte onde nos habituamos a medrar toda uma teia de
dependências e, pior, que passámos a tomar como referência. Algumas
familiaridades, frequências conjuntas nas salas de aulas, salões e
outros círculos, ainda que saudáveis, podem ser perniciosas se não
impedirem o desenvolvimento do viciado modelo de circuito interno onde a
racionalidade económica e análises de risco acabam por se subordinar a
outros critérios menos transparentes, o que, aliado à fraca apetência
lusitana para o confronto e forte apetência para a acomodação em nada
vêm ajudar à prevenção do florescimento de problemas devido a excessos
de decisões desastrosas.
O ajustamento necessário em Portugal está longe de se confinar às
finanças. Finanças constantemente desequilibradas são o sintoma de
modelos de governação adoptados e os credos que lhe servem de suporte. A
crise em que nos arrastamos tratou somente de expor a podridão do
modelo de circuito interno e os podres a ela associados. Não atacar este
modelo e os perfis dos seus intérpretes é não resolver o problema em
toda a sua extensão. Ter uma administração estrangeira na CGD ajudaria à
transparência e racionalidade que a coisa pública reclama e sinalizaria
até que ponto o Estado português estaria disposto a ir para resolver
pela raiz este e outros problemas que assolam Portugal.
Publicado em 22.11.16 http://corta-fitas.blogs.sapo.pt/estrangeiros-na-administracao-da-cgd-6450244
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