O Presidente da República adopta a política dos afectos. É legítimo?
É. Não ocultou o facto antes das eleições, bem pelo contrário. Está
carregado de legitimidade para isso.
Aparece a toda a hora e em toda a parte! É legítimo? É. Era expectável? Era.
Comenta tudo e mais alguma coisa! É legítimo? Humm, algumas doses de contenção seriam bem-vindas. É prudente? Não, longe disso.
Apoia o Governo de Portugal contrário à sua família política de
origem e de onde obteve a maioria dos votos que o elegeu. É legítimo? É,
e ainda bem que o faz. Exijo respeito pelo Governo da Portugal que,
diga-se, tem tanta legitimidade política quanta fraqueza democrática e
incompetência. Acima de tudo não espero, tão pouco quero, que o
Presidente faça de oposição. Compete à oposição essa práctica. É o
Presidente de todos os Portugueses.
Parece que por vezes se intromete no governo, chegando por vezes a
parecer que faz parte dele. Deve fazê-lo? Não. Mas como está em sintonia
com o Primeiro-Ministro só espero que haja mais cuidado para não abrir
maus precedentes. É que Portugal continua.
Pessoalmente não concordo com este estilo de presidência, mas como
democrata aceito, respeito e tolero tudo isto, embora com muito
incómodo.
Agora vejo o Presidente da República regozijar-se perante as câmaras
da TV que Portugal emitiu dívida a juros negativos. Perdão!
Primeiro, e muito objectivamente, exijo que não me tome por parvo.
Não existe legitimidade para tomar as pessoas por parvas. Sabe muito bem
o significado de emissões de curto prazo e emissões a 10 anos, pelo que
valerá a pena recordar que são estas últimas a referência para estados
de espírito, que já agora adianto, convêm ser de discrição por parte da
Presidência, ainda que a evolução das taxas no mercado secundário fossem
favoráveis, o que está muito, muito longe de ser o caso.
Segundo, não existe legitimidade na ilusão com que se pretendeu
encharcar o espaço público. Este aspecto, embora subjectivo por
natureza, é na minha opinião crucial nesta fase da vida de Portugal. A
ilusão, como muitas vezes tenho dito, é a maior doença que grassa em
Portugal, e embora sabendo que não é legítimo esperar que venha da
Presidência acção directa para a cura, considero ilegítimo que de lá
surjam sinais para manter os Portugueses amarrados à maleita, senão
mesmo em agravar a mesma.
Porque é este assunto tão importante? Porque este é o indicador que
nos conduz, ou não, a pedir outro resgate. Aqui não se brinca, é o
ringue dos crescidos. É onde deixou de haver espaço para ilusões,
intrigas e outros esquemas (embora antes de 2008 não fosse assim). O
escrutínio nos mercados secundários de dívida a 10 anos agora fia
demasiado fino. É para peixe graúdo. Champions League.
Quando recentemente emitimos dívida a 10 anos a cerca de 4% vi o
Presidente contente com a cotação dos juros a 3,8% no mercado secundário
logo após essa emissão! Agora que cotam a 4,3% vejo regozijo sobre
emissões de curto prazo! Não nos iluda.
Nota final: A espuma do dia-a-dia é o terreno da politiquice do
político de segunda linha mais fracote. Os bons políticos de primeira
linha falam de tendências. Do presidente espera-se que se esforce para
que os últimos não sejam tentados a ir para o terreno dos primeiros.
Muito menos que monte lá arraiais.
Publicado em 20.03.17 http://corta-fitas.blogs.sapo.pt/nao-nos-iluda-6507218
Nenhum comentário:
Postar um comentário