A agremiação do BE é um fenómeno
que espelha bem um certo tipo de diletantismo que invadiu a sociedade
portuguesa. Vida facilitada, com poucos constrangimentos do género “levar
filhos à escola”, com acesso abundante a informação processada na mecha e a
muita oferta cool disponível por aí,
esta desarranjada mole urbana permite-se emitir doutrina à velocidade dos
acontecimentos. Na abundância destes com a arrogância daqueles medra um imenso
ruido e confusão que serve bem o diletantismo de quem ousa tudo julgar sem nada
ter de provar, o que, aliado à condescendência como são tratados, resulta num
grupo demasiado curto no argumento e excessivamente largo no berro. A desvinculação
na prestação de contas e correspondente falta de escrutínio que aos outros se
exige não é mais do que a zona de conforto onde o BE respira.
Assim como certas crianças urbanas
mal-educadas a quem tudo se permite, não é de estranhar que o tom arrogante e
estridente de que o bloquista se socorre sejam o seu norte, pois que à escassez
de Nãos (não vá o petiz traumatizar-se) por oposição abundam infinitos Sins.
Para tentar acalmar o rebelde, mesmo que fugazmente, há que o fornecer com
muitos brinquedos e satisfazer todos os seus caprichos sempre que a reclamação
emirja. Como resultado, a malta do Bloco, como qualquer ser a quem pouco se
exige e tudo pode, moldou-se para a satisfação do imediato e efémero, olhando
para o “sistema” que o criou mas que ele desvaloriza como um pote sem fundo que
deve estar sempre disponível para saciar o apetite do momento, ainda que este
esteja em conflito com as melhores prácticas ou com o desejo da maioria. No
fundo o bloquista é uma criança estragada.
O momento de ouro do BE já foi.
Corria o ano de 2015 aquando da vitória do Syriza e a grande ascensão do
Podemos. Aquela imagem de Marisa Matias na primeira fila da grelha a bater
palmas a Tsipras quando este entrava em palco na sua primeira aparição pública
após a sua vitória nas eleições simbolizava para o BE o início de uma nova era
que afinal não o foi: submeter as decisões dos crescidos à vontade das
crianças. Perdendo um aliado de peso, e vendo o outro mesmo aqui ao lado perder
gás e representatividade, o BE tarde percebeu que só fora do Euro terá espaço
para respirar e poder brincar às revoluções. E é aqui que o BE pode ser
perigoso.
Como na transição de um
adolescente para a vida adulta se desembrulham algumas questões, é
incontornável saber agora se o BE se syriza ou se bloqueia? E o BE já respondeu,
bloqueia-se. Por ter visto que a Europa não cedeu ao Syriza e que este cedeu, logo
interiorizou que dentro da zona Euro nunca poderá dar largas aos seus dislates.
Só com escudos e máquinas que os possam imprimir a seu bel-prazer o BE tem
futuro no recreio a que se destinou, tendo até já consultor no Banco de
Portugal para o efeito.
Até à geringonça o BE tinha o seu
raio de acção muito limitado, mas agora tem influência significativa no
orçamento. Lá encontra-se de tudo numa pérfida união de interesses. Para além destas
crianças que se estão nas tintas para o défice, encontramos os ilusionistas do
PS que procuram maquilhá-lo o melhor que podem para não seguirem o caminho do
PSOE e PASOK, passando pelos jurássicos do PCP que há muito só querem o escudo
e que só se preocupam com os redutos sindicalistas mais arcaicos de que se
alimentam. É nesta união egoísta e estroina que o BE pode fazer valer o seu
objectivo. Por isso a geringonça serve o BE na perfeição, por isso o BE se agacha
a tudo a que outrora berraria. E é por isto o BE pode ser perigoso. A tudo está
disposto para sairmos da zona Euro.
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