segunda-feira, 21 de maio de 2012

Importam-se de deixar os outros fazer o seu trabalho?

A questão do Euro não é tão complicada quanto isso ao nível da decisão política. Existe um clube, existem regras, existem compromissos, existem programas acordados entre todos, existem deveres e direitos, e já agora existem vontades efectivas (não daquelas para Inglês ver). Está bom de ver que o povo Grego não percebeu bem que está num clube onde não se pode nem se deve brincar. E o que o povo Grego anda a fazer é precisamente brincar com os outros membros do clube. Pessoalmente não me move nada contra o povo Grego, e inclusivamente respeito a sua revolta, não por concordar com a mesma, mas por ela me fornecer indícios claros de que o lugar da Grécia é fora da zona Euro. E isso deve ser respeitado enquanto um possível figurino, o que, em rigor, é a melhor opção para todos.
A distância entre a vontade e a vontade efectiva pode ser enorme. Claro que os Gregos querem estar na zona Euro quando somente os direitos concorrem para a formulação da opinião. Quando atentamos para a vontade efectiva, então os deveres saltam para a balança, e consequentemente a porca começa a torcer o rabo. Nesta fase, e após alguns anos a serrar presunto, chegou o momento de avaliar o assunto pela bitola da vontade efectiva. Chegado a este ponto, ainda podemos esbarrar com o facto de os Gregos inverterem de um momento para o outro essa mesma vontade efectiva. Resta então passar o teste da possibilidade técnica.

Considero que no ponto onde nos encontramos os Gregos não têm vontade efectiva, coisa que as eleições de 17 de Junho irão validar devidamente. Daí já nem se colocar a questão da possibilidade técnica. Consequentemente trata-se agora de preparar a saída da Grécia da Zona Euro e ao mesmo tempo acautelar que essa mesma saída não prejudique aqueles países onde as duas vontades invocadas andam de braço dado. E que os distúrbios financeiros esperados não impactem em demasia nas suas possibilidades técnicas.
Por isso sugiro aos Gregos que pensem um bocadinho nos outros, e que por respeito a esses outros membros do clube não prejudiquem os outros trabalhos existentes no clube e que estão em curso. O centro do mundo não é a Grécia, nem nenhum País merece mais do que aquilo a que deixa de estar disposto a fazer. Por isso, e como Português, exijo que o meu país e os responsáveis políticos legitimamente eleitos que assinaram os acordos com a Troika tenham a possibilidade de levar por diante a execução dos seus compromissos cuja prossecução são, obviamente, do interesse de todos os membros do clube.
Por isso direi que num breve prazo há que tomar decisões muito importantes e aclarar com que cenários trabalharemos no futuro. Até para que os azimutes do pessoal internacional consigam estar mais afinados e permitam melhor perceber que nesta Europa há países com ideias muito diferentes sobre como pertencer a clubes.
Tudo o mais respeita a questões técnicas de como executar o change over. Embora do domínio técnico, o facto não é de menor importância. É do senso comum e dos ensinamentos históricos, que o devido controlo dos mecanismos de feedback e precipitação de acontecimentos, cuja velocidade é perniciosamente sempre mais rápida do que os antídotos, deve ser assegurado. E aí os políticos membros do clube têm que estar muitíssimo bem sintonizados e superiormente assessorados tecnicamente. È que, acaso não se saiba, e para os mais distraídos, que já não os há para além da esquerda irresponsável e nos desmiolados que ainda por cá existem, a finança é um brinquedo muito perigoso.

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