Por duas vezes num curto
espaço de tempo o nosso ilustre Conselheiro Acácio, residente no Primo Basílio de Eça de Queiroz, veio à
berlinda em textos lúcidos do Professor César das Neves (DN de 5 de Novembro) e
do historiador João Ramos (Expresso 29 de Dezembro). Os Acácios terão vivido algures
na viragem para o século XX, mas os seus espíritos transcenderam as suas vidas
terrenas e ainda hoje fazem furor em muitos domínios da nossa política, embora
sobre um prisma diferente. As gentes de hoje não veneram os políticos, sendo
prova disso os mimos com que os mesmos são apupados amiúde. Mas têm ainda uma
fé inabalável que o seu futuro depende de algo exterior a si, e, consequentemente,
verem nas políticas despesistas a sua tábua de salvação. Um pouco como aquele
filho que está naquela fase em que só sabe dizer mal de quem o sustenta mas que
é incapaz de se sustentar a si próprio.
Muitos Portugueses, e não
só os de esquerda que só sabem andar pendurados nos outros, só vêm a realidade
desde que a mesma se lhes apresente expurgada de responsabilidades, ou seja,
carregada de direitos e de exigências em total desproporção com os deveres com que
se está disposto a contribuir. Não que haja problema em pouco se contribuir em
termos de deveres. Somente não se pode exigir mais do que aquilo que se está
disposto a dar.
Portugal está como aquele
jovem urbano conhecedor dos modos mais sofisticados de como viver
cosmopolitismo, com imensas capacidades e discernimento sobre as melhores
escolhas da infinita e sugestiva panóplia de bens e serviços existentes, com
uma pré-disposição sem freio para exprimir a sua opinião como um verdadeiro connaiseur, e que olha com desdém o
passado e todas as dificuldades a ele associadas. Somente lhe falta saber produzir
em conformidade de modo a acompanhar toda a sua desenvoltura quando se trata de
consumir. E para isto não há Acácios que nos valham, venha o mesmo sob a versão
século XIX ou XX (versão século XXI não chegou a haver, coisa que a esquerda
ainda não percebeu).
Falta a este Portugal
começar a fazer uma coisa que tudo faz mudar: pagar contas. E nada como pagar
as próprias contas e responder pelos próprios actos para passar a ver o mundo
de outra maneira. Assim vai Portugal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário