domingo, 1 de dezembro de 2013

Acredito em Portugal

Está por aí a nascer um Portugal novo. Eu sei que é frequente encontrar-se no passado vozes a veicular movimentos em curso que tudo iriam mudar. Essas “visões” mais não são do que interpretações convenientes de uma ou outra manifestação avulsa que, ao gerarem sinais ténues que mal se compreendem, servem para se imaginar logo grandes correntes de mudança. Por cá, os que não percebem o momento histórico que ocorre em Portugal (aliás, nunca vão perceber), e após as primeiras manifestações de descontentamento, imaginaram logo “a rua”, movimentos sociais descontrolados, hordas de descontentes num permanente desaforo, etc. Esqueceram-se que essas fezadas revolucionárias do passado necessitam de determinadas condições que hoje não se verificam.
 
Em Portugal, o movimento actual em curso não vai de encontro a um qualquer processo revolucionário que faria as delícias de um qualquer engenheiro social. O movimento que ocorre é geograficamente disperso, lento, emanado das empresas, e extraordinariamente silencioso. Por tudo isto é tremendamente poderoso e impossível de parar. Tudo ingredientes para fazer desesperar qualquer radical mais temperado.
 
Há quem por aí diga com convicção, ou conveniência, que não existe nenhum conflito entre os Portugueses, e que todas as dificuldades que se vivem se devem somente aos bancos, aos políticos, ao neoliberalismo, enfim, aos culpados do costume. Sem negar uma parcela de verdade sobre estas acusações, eu permito-me ir mais longe. As enormes dificuldades por que passamos são grandemente explicadas pelo puro egoísmo dos pendurados da nossa sociedade que viveram a sua vida adulta participando numa sociedade que mais não fez do que consumir mais do que produziu e que se serviu de défices directa ou indirectamente como um modus vivendi, consolidando assim crenças e verdades que a história veio provar que mais não são do que um enorme logro e mentira.
 
Neste momento de choque, porque o que está em curso é um choque, cada lado faz a sua parte. Dos pendurados nada mais se espera do que berros, de que a reunião da Aula Magna é um belo exemplo, pois que cuidar sobre a averiguação das causas do problema é assunto de somenos importância pois implica racionalidade. Aliás, utilizar argumentos é algo incómodo pois dada a sua falta por parte dos pendurados faria com que a disputa cedo terminasse. Do outro lado, os cavalos que puxam pelo país, não há berros. Há simplesmente o trabalho do dia-a-dia, silencioso e invisível, mas com um poder brutal sobre o rumo dos acontecimentos.
 
A inflexão na economia que se iniciou no início do segundo trimestre de 2013 veio demonstrar que existe um Portugal feito de empresários e trabalhadores que produz, inova, exporta, não teme a concorrência, não se queixa pelos quatro cantos, emigra, imagina novas formas de conquistar mercados, ultrapassa obstáculos, não depende tanto do Ministro A ou do Secretário de Estado B, só pede que o não atrapalhem, não consome tudo o que ganha, não fala em “direitos adquiridos” nem em “legítimas expectativas”, olha com um desdém de piedade benevolente para os pendurados, é solidário com o desafortunado, sabe tomar o futuro nas suas mãos, acha abjecto políticos engomados de prosa ardilosa e redonda, e vê no mérito próprio a fórmula natural de subir o seu nível de vida.
 
Este Portugal é o que está a emergir e a obter mais vitórias. E é aquele que vai ganhar, que não haja dúvida sobre isso. Assim eu posso dizer, muito ponderadamente, com muita frieza e calculismo, que acredito em Portugal.

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