Está por aí a nascer um
Portugal novo. Eu sei que é frequente encontrar-se no passado vozes a veicular
movimentos em curso que tudo iriam mudar. Essas “visões” mais não são do que interpretações
convenientes de uma ou outra manifestação avulsa que, ao gerarem sinais ténues que
mal se compreendem, servem para se imaginar logo grandes correntes de mudança. Por
cá, os que não percebem o momento histórico que ocorre em Portugal (aliás, nunca
vão perceber), e após as primeiras manifestações de descontentamento, imaginaram
logo “a rua”, movimentos sociais descontrolados, hordas de descontentes num
permanente desaforo, etc. Esqueceram-se que essas fezadas revolucionárias do
passado necessitam de determinadas condições que hoje não se verificam.
Em Portugal, o movimento actual
em curso não vai de encontro a um qualquer processo revolucionário que faria as
delícias de um qualquer engenheiro social. O movimento que ocorre é geograficamente
disperso, lento, emanado das empresas, e extraordinariamente silencioso. Por
tudo isto é tremendamente poderoso e impossível de parar. Tudo ingredientes
para fazer desesperar qualquer radical mais temperado.
Há quem por aí diga com
convicção, ou conveniência, que não existe nenhum conflito entre os Portugueses,
e que todas as dificuldades que se vivem se devem somente aos bancos, aos
políticos, ao neoliberalismo, enfim, aos culpados do costume. Sem negar uma parcela
de verdade sobre estas acusações, eu permito-me ir mais longe. As enormes
dificuldades por que passamos são grandemente explicadas pelo puro egoísmo dos
pendurados da nossa sociedade que viveram a sua vida adulta participando numa
sociedade que mais não fez do que consumir mais do que produziu e que se serviu
de défices directa ou indirectamente como um modus vivendi, consolidando assim crenças e verdades que a história
veio provar que mais não são do que um enorme logro e mentira.
Neste momento de choque,
porque o que está em curso é um choque, cada lado faz a sua parte. Dos
pendurados nada mais se espera do que berros, de que a reunião da Aula Magna é
um belo exemplo, pois que cuidar sobre a averiguação das causas do problema é
assunto de somenos importância pois implica racionalidade. Aliás, utilizar argumentos
é algo incómodo pois dada a sua falta por parte dos pendurados faria com que a
disputa cedo terminasse. Do outro lado, os cavalos que puxam pelo país, não há
berros. Há simplesmente o trabalho do dia-a-dia, silencioso e invisível, mas
com um poder brutal sobre o rumo dos acontecimentos.
A inflexão na economia que
se iniciou no início do segundo trimestre de 2013 veio demonstrar que existe um
Portugal feito de empresários e trabalhadores que produz, inova, exporta, não
teme a concorrência, não se queixa pelos quatro cantos, emigra, imagina novas
formas de conquistar mercados, ultrapassa obstáculos, não depende tanto do
Ministro A ou do Secretário de Estado B, só pede que o não atrapalhem, não
consome tudo o que ganha, não fala em “direitos adquiridos” nem em “legítimas
expectativas”, olha com um desdém de piedade benevolente para os pendurados, é
solidário com o desafortunado, sabe tomar o futuro nas suas mãos, acha abjecto políticos
engomados de prosa ardilosa e redonda, e vê no mérito próprio a fórmula natural
de subir o seu nível de vida.
Este Portugal é o que
está a emergir e a obter mais vitórias. E é aquele que vai ganhar, que não haja
dúvida sobre isso. Assim eu posso dizer, muito ponderadamente, com muita frieza
e calculismo, que acredito em Portugal.
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