Um dos temas mais relevantes para
a economia portuguesa e um dos menos abordados respeita à taxa de poupança
relativamente ao rendimento disponível. Desde o início dos anos 60 que este
valor vinha crescendo tendo posteriormente estabilizado em valores próximos de
20%, sendo 1987 o último ano que se verificou um valor desta grandeza. Desde
essa altura que a taxa de poupança vem demonstrando uma tendência continuada de
diminuição, chegando a atingir 6,8% em 2008. Em 2009 e 2010 o valor subiu de
novo, ao que não será alheio a natural reacção à crise financeira
internacional. O mesmo aconteceu em 2012 e 2013, o que também será explicado
pela reação ao programa da Troika. No entanto em 2014 e 2015 a taxa de poupança
retomou a sua anterior tendência descendente.
1960
|
4,9%
|
1970
|
17,9%
|
1980
|
18,4%
|
1990
|
17,1%
|
2000
|
10,5%
|
2010
|
9,2%
|
1961
|
5,5%
|
1971
|
20,8%
|
1981
|
19,4%
|
1991
|
15,5%
|
2001
|
11,1%
|
2011
|
7,5%
|
1962
|
7,3%
|
1972
|
24,3%
|
1982
|
21,7%
|
1992
|
15,2%
|
2002
|
11,0%
|
2012
|
7,7%
|
1963
|
9,9%
|
1973
|
22,1%
|
1983
|
20,5%
|
1993
|
14,2%
|
2003
|
10,0%
|
2013
|
8,7%
|
1964
|
11,4%
|
1974
|
18,1%
|
1984
|
18,8%
|
1994
|
11,2%
|
2004
|
10,1%
|
2014
|
6,9%
|
1965
|
8,6%
|
1975
|
21,4%
|
1985
|
20,3%
|
1995
|
12,5%
|
2005
|
9,2%
|
||
1966
|
13,3%
|
1976
|
21,0%
|
1986
|
18,8%
|
1996
|
11,5%
|
2006
|
8,0%
|
||
1967
|
15,1%
|
1977
|
16,2%
|
1987
|
20,0%
|
1997
|
11,0%
|
2007
|
7,1%
|
||
1968
|
13,9%
|
1978
|
18,6%
|
1988
|
14,4%
|
1998
|
12,1%
|
2008
|
6,8%
|
||
1969
|
17,6%
|
1979
|
19,5%
|
1989
|
17,0%
|
1999
|
11,4%
|
2009
|
10,4%
|
Fonte: Pordata
Nota: a Pordata não possui dados
para 2015 pelo que se recomenda:
1.
A análise do Indicador de Poupança da Universidade
Católica em https://www.clsbe.lisboa.ucp.pt/pt-pt/faculty-knowledge/consulting/indicador-de-poupanca-apfippuniversidade-catolica
2.
A análise do INE em https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=224676904&DESTAQUESmodo=2
onde se diz que a taxa de poupança foi de 5,8% no 1º trimestre de 2015
e 5% no 2º trimestre de 2015
Na zona Euro a taxa de poupança é estável e ronda os 12,5%.
Nos EUA é cerca de 5%. Consultar dados do Banco de Portugal em http://www.bportugal.pt/Mobile/BPStat/Serie.aspx?IndID=826846&SerID=2027398&sr=2027407-2027389&View=graph&EndYear=2015&IniYear=1999&SW=1349&Show=1
A questão que se coloca é: qual deverá
ser a taxa de poupança de referência? A dos EUA? Ou a dos países da zona Euro?
Creio bem que a taxa de 12,5% da zona Euro será bem mais consentânea com as
melhores práticas de quem pensa assegurar o seu futuro, nomeadamente em tempos
de incerteza que vieram para ficar. Creio também que o desnorte consumista que
tomou conta das almas lusitanas desde 1987 levou Portugal por maus caminhos.
Parte da nossa independência terá que ser reconquistada através do aumento
poupança, pois só com mais poupança poderemos: i) pensar em substituir em maior
grau a dívida pública existente nas mãos de estrangeiros, ii) aumentar a
capacidade de investimento de cidadãos nacionais, iii) dar mais capacidade ao
decisor político de melhor interpretar a mudança que terá de ocorrer no nosso
modelo de segurança social, iv) ter mais portugueses a viver em estabilidade.
Um bom indicador sobre padrões de
consumo menos adequados é o recente aumento da venda de automóveis. Segundo
dados da ACAP temos os seguintes valores para vendas para ligeiros de
passageiros e todo-o-terreno desde 2005:
2005
|
206399
|
2006
|
194607
|
2007
|
201700
|
2008
|
213294
|
2009
|
160947
|
2010
|
223399
|
2011
|
153404
|
2012
|
95309
|
2013
|
105921
|
2014
|
142826
|
2015
|
183674
|
Fonte: ACAP
Nota: para 2015 só existem dados
até Agosto, pelo que o valor que se extrapolou para 2015 considera o crescimento
acumulado até esta data relativamente a 2014 (+28,6%).
É sabido que as exportações têm
tido um bom comportamento recentemente, mas será avisado seguir de perto a
evolução da taxa de poupança e a venda de automóveis. As três intervenções
externas que tivemos desde 1974 tiveram na sua base desequilíbrios na balança
de pagamentos. A história de Portugal em democracia não pode ser marcada por
constantes intervenções externas, pelo que urge monitorizar o início das bolas
de neve consumistas que cedo ou tarde nos conduzem a profundos desequilíbrios macroeconómicos.
Como facilmente se compreenderá
este é um tipo de matéria demasiado denso para ser levado a debate numas
eleições. Mas é impossível não registar a insensatez do PS quando fala em
choque de consumo interno dadas as circunstâncias acima descritas. É de quem
não percebe nada sobre como governar um país. Quanto à Coligação pede-se que
reflicta muito seriamente sobre esta matéria.
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