sábado, 28 de abril de 2012


E Agora Vai Começar a Doer a Sério

A culpa é da bruxa, que dá pelo nome de anjo, diz a maioria: Angela Merkel. Por mim, acredito que devemos evitar a todo o transe, quer no exercício da vida privada, quer na da vida nacional, realizar transferências de culpas. Se nas cosmologias orientais se acredita que, na reencarnação das almas, o «karma» nos faz com que a vida mortal   que hoje temos é o resultado da vida que levamos na nossa encarnação anterior – na minha idéia acredito que não precisamos de entrar no plano metafísico para explicar que a vida que hoje temos é o resultado das asneiras que cometemos há uns anos.

A Srª Merkel terá os defeitos e conterá os perigos que o século XX inteiro nos mostrou que podem advir da Alemanha, mas nem ela nem o seu povo têm culpa do desgoverno endémico do povo português. Já ficou escrito noutro «blog» em que colaborei – mas fica a título de exemplo o Euro 2004, lançado no mandato do Engenheiro Guterres: a UEFA falava na necessidade de 8 estádios para realização da prova, mas admitia a possibilidade de fazer a prova somente em 6. O país, que era rico, resolveu construir 10 estádios. Na altura, até a Madeira e a Covilhã (sic) quiseram participar da festa, e edificar o seu estádio de 30.000 lugares. Se tomarmos em conta que esta última não alcança os 35.000 habitantes, já se fica com uma idéia mais precisa da megalomania do assunto!!!

Em Leiria, o suave e discreto Estádio Municipal, com Castelo em fundo, deu lugar a um monstro da autoria de Tomás Taveira. A ausência de escala do «bicho» e o profundo mau-gosto da sua concepção aterrorizam quem passa ao seu lado, em circulação pela Estrada Nacional nº 1. A brincadeira serviu para encenar somente 2 partidas da prova, na Fase de Grupos respectiva: um Croácia-França e um Suiça-Croácia. Creio que, até hoje, ainda não foi acabado na íntegra, achando-se por terminar um topo do Estádio, que leva o nome de Magalhães Pessoa.

8 anos depois, a realidade apresenta-nos com toda a crueza a factura: a Câmara de Leiria quer alienar o Estádio, que está sem uso. Há uns tempos atrás, até houve uma brilhante idéia de usar o recinto para diversos propósitos, entre os quais o aluguer para realização de casamentos! O clube local deixou de usar o Estádio, cujos custos não queria pagar, e passou a disputar os seus jogos no pequeno campo de desporto da Marinha Grande. Culpas têm-nas todos os agentes que montaram o disparate, desde a autarquia leiriense até ao governo da Nação, passando pela Federação Portuguesa de Futebol. Hoje, já são forçados a encarar a realidade de que se tivessem os cuidados da Srª Merkel, tinham previsto a tempo e desistido da asneira: mas são os políticos que temos.

Como o país, e o seu desporto profissional, andaram anos a viver acima das suas possibilidades, já começam a notar-se os contornos da crise que aí está a bater-lhes à porta: antevê-se a demolição do monstro de Taveira e a falência do clube da cidade, que não paga salários há 5 meses. Na mesma semana em que a equipa de Basquetebol CAB Madeira, apurada para a meia-final (sic) do campeonato nacional da modalidade desistiu da prova, porque não tem dinheiro para custear as deslocações ao Continente, dando passagem administrativa ao Futebol Clube do Porto à final respectiva.

Repete-se: estavam as coisas periclitantes ANTES da crise no desporto profissional – mas agora é que vai começar a doer a sério.

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