E Agora Vai Começar a Doer a Sério
A culpa é da bruxa, que dá pelo
nome de anjo, diz a maioria: Angela Merkel. Por mim, acredito que devemos
evitar a todo o transe, quer no exercício da vida privada, quer na da vida
nacional, realizar transferências de culpas. Se nas cosmologias orientais se
acredita que, na reencarnação das almas, o «karma» nos faz com que a vida
mortal que hoje temos é o resultado da vida que
levamos na nossa encarnação anterior – na minha idéia acredito que não
precisamos de entrar no plano metafísico para explicar que a vida que hoje
temos é o resultado das asneiras que cometemos há uns anos.
A Srª Merkel terá os defeitos e
conterá os perigos que o século XX inteiro nos mostrou que podem advir da
Alemanha, mas nem ela nem o seu povo têm culpa do desgoverno endémico do povo
português. Já ficou escrito noutro «blog» em que colaborei – mas fica a título
de exemplo o Euro 2004, lançado no mandato do Engenheiro Guterres: a UEFA
falava na necessidade de 8 estádios para realização da prova, mas admitia a
possibilidade de fazer a prova somente em 6. O país, que era rico, resolveu
construir 10 estádios. Na altura, até a Madeira e a Covilhã (sic) quiseram
participar da festa, e edificar o seu estádio de 30.000 lugares. Se tomarmos em
conta que esta última não alcança os 35.000 habitantes, já se fica com uma
idéia mais precisa da megalomania do assunto!!!
Em Leiria, o suave e discreto
Estádio Municipal, com Castelo em fundo, deu lugar a um monstro da autoria de
Tomás Taveira. A ausência de escala do «bicho» e o profundo mau-gosto da sua
concepção aterrorizam quem passa ao seu lado, em circulação pela Estrada
Nacional nº 1. A brincadeira serviu para encenar somente 2 partidas da prova, na
Fase de Grupos respectiva: um Croácia-França e um Suiça-Croácia. Creio que, até hoje, ainda não foi acabado na íntegra, achando-se por terminar um topo do Estádio, que leva o nome de Magalhães Pessoa.
8 anos depois, a realidade apresenta-nos
com toda a crueza a factura: a Câmara de Leiria quer alienar o Estádio, que
está sem uso. Há uns tempos atrás, até houve uma brilhante idéia de usar o
recinto para diversos propósitos, entre os quais o aluguer para realização de
casamentos! O clube local deixou de usar o Estádio, cujos custos não queria
pagar, e passou a disputar os seus jogos no pequeno campo de desporto da
Marinha Grande. Culpas têm-nas todos os agentes que montaram o disparate, desde
a autarquia leiriense até ao governo da Nação, passando pela Federação
Portuguesa de Futebol. Hoje, já são forçados a encarar a realidade de que se
tivessem os cuidados da Srª Merkel, tinham previsto a tempo e desistido da
asneira: mas são os políticos que temos.
Como o país, e o seu desporto
profissional, andaram anos a viver acima das suas possibilidades, já começam a notar-se
os contornos da crise que aí está a bater-lhes à porta: antevê-se a demolição
do monstro de Taveira e a falência do clube da cidade, que não paga salários há
5 meses. Na mesma semana em que a equipa de Basquetebol CAB Madeira, apurada
para a meia-final (sic) do campeonato nacional da modalidade desistiu da prova,
porque não tem dinheiro para custear as deslocações ao Continente, dando passagem
administrativa ao Futebol Clube do Porto à final respectiva.
Repete-se: estavam as coisas
periclitantes ANTES da crise no desporto profissional – mas agora é que vai
começar a doer a sério.
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