Parece que o Governo de
Portugal se anda a precipitar na prescrição a aplicar e nas dosagens da
medicina. Começa a ser evidente que a austeridade anda a ser um pouco aplicada
à toa. Tão evidente quanto a evidência de que precisamos de austeridade. Todos,
ou quase todos, sabemos que precisamos de austeridade, mas só alguns parecem entender onde é que a mesma deve ser realmente aplicada. Aos outros, a grande
maioria, é-lhes reservado um lugar na bancada onde, por direito, podem escrutinar
da competência da medicina a aplicar. E à falta de competência para efetuar o
julgamento, o feeling e o benefício
da dúvida poderão ser bons substitutos do discernimento sobre a matéria macro económica
em causa.
O problema nesta fase é
que as mais recentes medidas não estão em sintonia com nenhuma estratégia que
antecipadamente se deveria ter explicitado aos Portugueses. Ou seja, são
medidas a martelo. E isso preocupa, com fundamento, as pessoas. Se desde o
início houvera o Governo explicitado que haveria que montar uma economia
voltada para a exportação por contraponto de uma economia montada para o consumo
interno, seria bem mais fácil de implementar todas as medidas em prol desse
objectivo. Por exemplo, a população aceitaria muito mais políticas de aumentos
de impostos sobre o consumo e alívio de impostos sobre a produção, ainda que
isso prejudicasse, pela ordem natural das coisas, alguns segmentos específicos
da população.
Por o Governo não ter
delineado uma missão específica sobre a economia, ficamos agora ao sabor do livre arbítrio de
medidas financeiras avulsas e desconexas com uma estratégia. Ora isto
perturba a população, tal como um paciente ficaria perturbado por ver que o seu
médico não persegue nenhuma estratégia para a cura da sua maleita. Fatalmente o
curador começa a errar nas prescrições e nas dosagens, o que deteriora a
confiança do doente.
Mais uma vez os Governos não
compreendem que deverão, à semelhança de qualquer organização, ter missões
específicas, objectivos claros, e estratégias calendarizadas que conduzam ao
alcance desses objectivos. Este Governo sabe muito bem qual a sua missão:
tornar Portugal um país viável dentro da zona euro. Sabe razoavelmente bem que
estratégias seguir: é o documento da Troika. Só anda um bocadinho falho nos
seus objectivos, que de entre outros, tem como dos mais importantes o construir
uma economia voltada para a exportação, construir uma sociedade meritocrática e
positivamente discricionária.
Uma vez bem definidos, compreendidos,
e explicitados estes objectivos, será muito mais fácil a população aceitar as
medidas correspondentes para alcançar esses objectivos. E em paralelo será
muito mais fácil ao Governo acertar as medidas adequadas e as dosagens
correctas.
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