quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A realidade chegou ao sector público

O Governo de Portugal anda a tratar das finanças e da credibilidade externa. Louvável, desejável, imprescindível e obrigatório. Este orçamento para 2012 ataca onde é possível atacar no curto prazo: no volume da massa salarial dos funcionários públicos. Para o ano esperamos eliminar todos aqueles institutos públicos que mais não são do que excrescências sebáceas do nosso tecido económico. Mas isso demora tempo a analisar e a resposta a dar neste momento é de curto prazo.

Mas este corte do 13º e 14º mês tem muito mais vantagens do que um mero corte da despesa. Tem o mérito de colocar os funcionários públicos em sentido face ao que produzem e de colocar Portugal e os Portugueses face à realidade, que mais não é do que se ter andado a consumir muito mais do que se produzia durante demasiado tempo consecutivo e com isso se ter vivido no mundo da ilusão. Mas tem ainda um outro mérito, ainda não visível, mas que será muito importante na próxima etapa. É forçar os funcionários públicos a desejarem ardentemente a adopção de mecanismos que promovam a discriminação positiva. Ou seja, trata-se de organizacionalmente criar mecanismos de pressão interna que viabilize expelir os incompetentes em prol do bem-estar e progressão dos competentes. É bom que por todas as repartições deste país os funcionários públicos competentes comecem a olhar de lado os funcionários públicos incompetentes e discriminarem-nos. Os incompetentes têm que ser despedidos de modo a se poder remunerar devidamente os competentes.

Mas para além destes despedimentos, há ainda que colocar os competentes a prestarem os serviços de que a sociedade necessita e para os quais está disposta a pagar impostos. Por exemplo, existirão dúvidas de que todos queremos polícia mais bem equipada, formada, e mais bem remunerada?

Por fim há também que rever os processos em vigor na prestação de serviços. Nada pior que colocar pessoas competentes a produzirem serviços através de processos errados (e obviamente mais caros). É fundamental trabalhar este ponto e criar com isso mais excedentários.

O exposto implica muita drenagem de pessoas para o desemprego. Isso é tão verdadeiro quanto necessário. Há então que colocar a pergunta: e quem é que vai empregar todos esses excedentários? A resposta é: o sector exportador e a nossa capacidade de emigração. Somente o sector exportador da nossa economia e a nossa capacidade de emigração podem resolver o problema do “necessário” desemprego futuro. Não há maneira de dar a volta ao assunto por mais que exercitemos o nosso raciocínio.

Ao governo compete a criar todas as condições ao seu alcance que potenciem as nossas exportações. Aos empresários do sector exportador compete fazer o resto. Aos desempregados compete perceber que nas actuais condições há que aceitar os trabalhos que existem e não os que se querem. Aos novos emigrantes deseja-se que sintam que irá valer a pena voltar a Portugal.

A realidade chegou ao sector público. Parte do sector privado sempre viveu com ela, nomeadamente o sector exportador e todo aquele que sempre dependeu pouco do orçamento de estado e das benesses do poder central e local. Agora a realidade resolveu abranger também o sector protegido, glutão e maroto da nossa economia porque o endividamento crescente que ia encobrindo a realidade ultrapassou em muito o limite permitido pelos credores. Pior, estes andam a proceder a reavaliações desse limite e a cobrar mais pelo refinanciamento da dívida existente.

Todo este fenómeno irá ter grandes impactos na nossa sociologia. Serão interessantes os próximos tempos para avaliar a fibra do nosso povo. Será que iremos definhar numa torpeza típica de alma torpe que se desenvolveu numa funesta repartição? Ou iremos descobrir a intrepidez de que somos feitos e demonstrar a este mundo que nos movimentamos bem em ambientes conturbados? Tem para mim que ambas as situações se verificarão. Curioso contar as espingardas de um lado e do doutro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário