terça-feira, 23 de outubro de 2012

O Sporting e o modelo de gestão

O Sporting anda há dez anos a fazer o que não sabe: compra e venda de jogadores. O clube contrata quase sempre mal e raramente consegue valorizar os jogadores. Entre contratações falhadas e jogadores desvalorizados, um exemplo sintomático é o de Bojinov: custou 3 milhões, ganhava 1 milhão por ano, fez oito jogos, sete dos quais a suplente, e foi cedido a custo zero para a segunda divisão italiana. O panorama geral é assustador: desde a criação da SAD o Sporting gastou 229 milhões em jogadores e conseguiu encaixar apenas 166, perfazendo um saldo negativo acumulado de 63 milhões. Pelo meio o fracasso desportivo é evidente.

O problema não está tanto na estratégia, mas sim na inadequação dos recursos e capacidades do clube com a estratégia. O FC Porto também tem uma estratégia apoiada em compra e venda de jogadores e é um caso de sucesso. Antero Henriques, dirigente do FC Porto, explicou as razões à revista France Football: um sector de recrutamento mais rápido que o dos adversários, com mercados-alvo definidos, apoiado em 250 olheiros espalhados pelo mundo, com vários níveis de observação. Uma estrutura sólida, métodos de trabalho bem implementados e o resultado está à vista. Exemplo sintomático: Cissokho, contratado por 300 mil euros, vendido por 15 milhões.

No Sporting, no entanto, não existem esses recursos: não há nenhuma estrutura de recrutamento, não há estabilidade para valorização dos jogadores, não há capacidade de negociação, etc. E é por esta falta de recursos para a compra e venda de jogadores que o modelo dos últimos anos tem sido um fracasso em Alvalade. Existe, no entanto, um recurso que distingue o Sporting de todos os outros: a formação. Aí sim há estruturas. Olheiros, métodos de treino, apoios aos jovens, a academia. É preciso mudar de estratégia e capitalizar aquilo que o clube faz melhor que os outros.

Assim, o modelo que eu defendo para o Sporting é um modelo apoiado na formação. Um grande treinador, de créditos firmados, para potencializar os jovens saídos da formação, dois ou três jogadores de nível internacional e sete ou oito jogadores da cantera no onze inicial. E estes não precisam de ter 18 anos, uma vez que o modelo acaba por se tornar sustentável, com os jogadores a ficarem várias épocas no clube. Os mais espetaculares, aqueles que têm mesmo quer ser vendidos, equilibram as finanças do clube e vão brilhar para outros palcos europeus e para a selecção nacional.

Estamos a perder a guerra porque estamos a lutar no campo de batalha errado. É uma evidência: este modelo de compra e venda de jogadores está completamente falido. Chegou a altura de apostar verdadeiramente na formação.

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