segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Notas soltas legislativas 2009

Os portugueses estão a começar a acordar um bocadinho ao brindarem o CDS com uns 10,46% dos votos. Aquela história do CDS subir na contagem das últimas freguesias urbanas onde tem sempre resultados fracos contém um batalhão de mensagens reveladoras. Mas é ainda um acordar pequeno. A população, ainda com muito sangue socialista, ainda se atira muito ao PS e PSD. Mas há muita socialite que grassa por aí e que começa de facto a revoltar as pessoas. O slogan “Há cada vez mais pessoas a pensar como nós” é muito verdadeiro e vai trazer muitos dividendos no futuro. Isso vai ser cada vez mais visível porque a realidade que vamos viver vai evidenciar isso até à última.

O BE foi a (minha) desilusão. Embora tenha sido claramente um vencedor, esperava-se mais quando tinha tudo a seu favor. Crise internacional brutal, enorme descontentamento, e muito jovem excitado com o seu Bloco. Mas tudo isto com demagogia de primeiro quilate não foi suficiente. Seja como for continua, e continuará, em crescimento. Só que talvez a um ritmo mais lento do que pensava.

A CDU vai entrar num novo processo de definhamento. Mas desta vez é o BE, e não o PS como até agora, quem vai receber os votos. O efeito de feedback positivo vai-se iniciar. É fatal, e a demografia, madrasta para este partido, vai dar uma ajuda pois daqui a 4 anos há muitos que só chegaram a envelhecer menos que esses 4 anos.

O PS foi uma surpresa (para mim). Ganhou e por muitos. Cilindrou mesmo face às circunstâncias. Mas a continuação de políticas socialistas e meio suicidas (deficits públicos e dívida total + continuação de “mesadas” a torto e a direito) vai ser muito evidente (e insuportável) daqui a 4 anos. E por isso vai perder mais votos nas próximas eleições. Enquanto o PSD definhou pela mão “dos que saltam para a Comissão”, “dos que andam por aí” e dos que “andaram a brincar aos bancos”, o PS vai definhar pela mão da incompetência. O BE e o CDS (mais este) agradecem.

O PSD está em coma profundo e de lá não vai sair. Temos um doente vítima de grandes abusos do passado recente. O partido queima. Não me parece que este partido venha a repetir cotações anteriores, pelo contrário. O projecto social-democrata (seja lá o que isso for) confunde-se com o projecto socialista (seja lá o que isso for). Por simplificação direi que são todos socialistas (daí a socialite de que padecemos). Este partido arrisca um esvaziamento. Tornou-se óbvio que a sede de poder inata deste partido resultou em Barrosos, SLs, Oliveiras e Costas, Dias Loureiros, Valentins e Isaltinos. Este partido, de difícil posicionamento quando comparado com figurinos partidários de outros países europeus, suportava a noção de que qualquer cidadão competente, e independentemente do seu meio sócio económico-social, poderia influenciar politicamente o seu país. O resultado não tem sido famoso.

O “centrão” esvazia-se aos poucos. Com a renovação da geração pós 25 de Abril começa-se a observar que os partidos vão perdendo estigmas a que sempre foram associados, o que de certa forma ajudou a que sempre houvesse clubismo partidário. Isto está em extinção. As novas gerações vão estar mais abertas a seguirem as ideias de cada partido (não necessariamente os programas, coisa que ninguém lê) ao mesmo tempo que vão sendo menos susceptíveis de pertencer “clubisticamente” a um partido. Cumulativamente, e talvez por inconsciência, a noção de governabilidade não é tão relevante para estas gerações. Esta noção sempre decorreu do facto de se pensar que as maiorias absolutas são necessárias para praticar boa governação, o que outrora forçou o voto útil que escaldou o CDS. Ora a Europa civilizada, a tal que ambicionamos, pensa de outra forma. Não por inconsciência, mas por pura racionalidade. Decorrente deste facto, e no limite, no futuro teremos a inconsciência a prestar um bom serviço à democracia ao pressionar os partidos a entenderem-se. Preferiria o móbil da racionalidade, mas cada um move-se com o combustível que tem.

O CDS vai ser o grande beneficiário. Aos novos eleitores é mais complicado associar o CDS ao antigo regime. Isso, para além de falso, pode até vir a ser contraproducente para o acusador. O CDS quer ser poder e tem um projecto para o país. Paulo Portas está hoje com muito mais discernimento, e acima de tudo, humildade. O partido surge descomplexado e com mensagens claras. Nota-se também boa qualidade no argumento, quase desarmante perante os adversários. Seja como for PP continua a não colar muito nos eleitores, mas que este partido deve muito a esta pessoa, não se duvide. Quanto mais não seja pelo dito discernimento, bem cada vez mais escasso nos nossos dirigentes. Conselho para PP: dissemine no CDS discernimento, que é como quem diz, trate de distribuir juízo e modéstia a muita mentalidade de rapazote iluminado que por lá deve reinar.

Nota final: no futuro, e para efeitos de previsão de resultados eleitorais, aconselha-se a consulta de outro blogue que não este

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