quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O quinteto

Ei-los, estes são o quinteto maravilha da nossa terra, as almas que nos deviam inspirar.

José Sócrates

Já desde os primórdios esta personagem prometia com os seus extraordinários projectos artísticos. Tudo projectos com assinatura. Acontecia porém que só uma parte do país tinha a felicidade de conhecer a genialidade arquitectónica deste cidadão. Mas este jovem, a quem umas deambulantes passagens universitárias terminaram numa universidade de exigências ímpares, e entretanto extinta, queria ir mais longe, e por não virar costas à adversidade tratou até de fazer cadeiras ao Domingo como prova de abnegação e fervor em seguir os caminhos próprios dos que hoje são considerados os caminhos dos "Grandes". Este moço de espírito ambivalente, respira todo ele de um pluralismo democrático a que nos já tínhamos desabituado. Conhecedor profundo dos meandros partidários, de extrema fidelidade às regras que determinaram a sua ascensão, pensa no seu pequeno inconsciente que um país de sucesso se deve projectar segundo as mesmas regras que lhe sorriram.

Moço irredutível, é no entanto astuto ao ponto de reverter teimosias se estas demonstrarem ser nocivas a obstáculos de curto prazo, como por exemplo umas eleições. Neste ponto, e aconselhado por essa coisa a que se chama "spin doctor", que é como quem diz, uns sabichões que nos dizem como nos devemos comportar perante as circunstâncias, faz gato sapato da sua personalidade errante. Assim, em periodo pré eleitoral vai-se parqueando, deixando-se mostrar benovelente com uns, cordato com outros, pluralista com todos, e tudo na esperança de, colhidos os boletins em seu favor, sentir a legitimidade de puder explodir toda a sua provisoriamente contida génese por mais 4 gloriosos anos.

Esta pessoa personifica a ideia geral de que dificilmente se engana um povo mais do que uma vez. Pessoa de perfil mesquinho e provinciano, têm-se demasiado em consideração, motivo pelo qual durante estes 4 anos não tivesse o decoro em resguardar os seus defeitos, confundido muitas características suas como sendo virtuosas quando mais não eram do que o vómito do seu espírito torpe. Os ares de enfado quando em desvantagem, a agressividade expontânea perante a argumentação e a dificuldade óbvia em lidar com opinião contrária, são as evidências mais visíveis de alguém que nunca se devia ter sentado onde se sentou.

Cego pelo espelho e irritado pela realidade, vai esta alma embora. Para aonde? Não se sabe. Duvida-se que vá produzir mais arte arquitectónica. O mais certo, e porque as regras se vão mantendo, é talvez dedicar-se ao salto à Vara, modalidade indígena muito popular. Honrosa e generosa para os participantes, desdenhosa e cara para a assistência.

Manuela Ferreira Leite

Claramente a pessoa certa no local errado e no momento errado. De boa formação pessoal, seguramente com muita qualidade profissional e de espírito dedicado, é pessoa para não andar por aí cheia de agendas pessoais. Esta cidadã de sucesso está cheia de qualidades adversas daqueles que vivem das "novas regras" partidárias. Humilde e sem se julgar mais do que é, dá aos outros a impressão de que eles julgam precisar. Com muita experiência acumulada, ia estando no partido como o último recurso para um lugar onde mais ninguém "normal" queria ir (menos SL que anda sempre por aí de bicos nos pés). É que à luz das figuras de maior gabarito este partido queima.

Vendo-se lá por ter sido empurrada, vê-se a braços com o partido à frente, e terror dos terrores, com o país. Esta futura PM está no entanto a prazo. Este partido rodeado de "maltosa" não poupa ninguém. Andantes por aí por natureza, essa "malta" esfomeada e convencida não vacila às suas ambições. E assim a nossa Manuela vai-se confrontar a prazo com aquilo que, quer queira quer não, a vai atormentando. E isso é visível na sua falta de entusiasmo.

Esta mulher pertence a uma geração que talvez tenha sido a melhor do século XX, ou pelo menos aquela que sentia que o crescimento pessoal andava de mãos dadas com o forte crescimento do país dos anos de 1960 a 1973 e que prometia continuar. Esta geração, de boa capacidade técnica quando ia a estudos, herdou solidamente outros princípios em voga na altura, como a modéstia, o sentido de dever, e ainda o interesse por áreas extra profissionais. Cumulativamente, e por nesses tempos ainda se considerar que a família era uma instituição sagrada, pode-se dizer que essa geração, mesclando muitas virtudes, poderia ter dado muito a Portugal não fosse esse fenómeno obsceno das nacionalizações. A bem vinda democracia misturada com um forte sector privado e com esta geração em plena pujança e liberta dos constrangimentos da ditadura poderia ter dado outro caminho a Portugal.

Francisco Louçã

Eis a vedeta. Este é o homem que sabe que chegou o seu momento. Inteligente e de raciocínio muito rápido, anda antecipadamente entusiasmado. E tem motivos para isso, a começar por um Sócrates desacreditado, uma MFL sem fibra e um Jerónimo que mais cedo do que tarde lhe vai começar a ceder quota de mercado. Quase desmedidamente ansioso e excitado por este cenário generoso, acompanhado de muito jovem histérico que está mortinho por botar uma cruzinha no seu Bloco, já começa a sonhar com as próximas legislativas, aquelas que, quer sejam daqui a 2 ou 4 anos, vai jogar com o desemprego a 11% e com um país que não descolou economicamente.

Mas de que massa é feita esta personagem? Este ser é invulgar e encerra alguns paradoxos. Evoluido intelectualmente, deverá ter sido precoce no que ao domínio do pensar diz respeito, o que no pós 25 de Abril em muito se devia distinguir da imensa massa estúpida. E devia senti-lo. Ainda excessivamente novo na altura, deverá ter estado de alguma forma perdido no meio da barafunda do PREC, talvez até sem saber bem para onde se voltar. Onde o necessário discernimento ainda lhe faltava, sobrava-lhe o tino para não se desviar, nem por um milímetro, dos estudos e das experiências que sabia serem necessárias para o seu futuro. Assim desde cedo sentiria que iria percorrer um caminho, o seu caminho. Não que soubesse bem qual ele seria, o que, em rigor, pouco importava para pessoas que se julgam que uma missão lhes há-de ser destinada na sua passagem terrena.

E quis o destino que esta alma perturbada encarnasse um combate "moderno", cheio de temas conflituosos e ditos fracturantes, e a quem talvez o confronto duro decorrente dos temas excite mais que o desenlace dos mesmos. Tendo descoberto o seu nicho repara que o mesmo se alimenta das fornadas de jovens que a revolução produziu. Tudo gente que cresceu no meio de uns iniciais "amanhãs que cantam", depois de um verdadeiro Socialismo para todos, depois da CEE e dos seus fundos, depois dos juros baixos e da expansão do crédito, e por fim das promessas fáceis, e que tem agora uma conta grande por pagar. Tendo assistido a isto tudo, compreendendo isto tudo, observou como ninguém a matéria de que se ia fazendo os novos portugueses pós 25 de Abril. E fez juntar assim o "seu caminho" ao caminho destes novos portugueses sedentos do "el dourado" que afinal não chegou.

O Portugal democrático andou gerar "gerações moles"*. Gente a quem se deve tudo e a quem nada se pode exigir, gente para quem uma obrigação é conceito do antigamente e que morreu na revolução, gente que tem uma dificuldade tremenda em lidar com a afluência aparente, gente a quem o dever passou a ser conotado como conceito adoptado pelos estúpidos e o facilitismo como o conceito dos melhores. Esta massa materialmente descontente não se revê no antigo Comunismo arcaico, a quem uma longíqua revolução nada lhes diz... e lhes traz. Esta massa necessita de uma intervenção menos dura mas mais atrevida e arrogante. Chocante até, de modo a chegar onde não chega o argumento. A turbulência em que estas mentes se encontram, desancoradas intelectualmente e sem rumo, sentido-se materialmente mais pobres que o prometido e com uma dívida que vai rolando e os vai encontrar no futuro, encontram no líder do BE um consolo. E é numa relação de consolo que vão respirando. Não um consolo paternal, mas um consolo de albergue que abandonamos logo que chega a luz. Só que esta vem tardando.

Pelas irresponsabilidades passadas e pelas alternativas presentes, este é dos poucos portugueses a quem corre tudo a seu favor, ou quase tudo. Tudo se conjuga para que o número dos que precisam de consolo cresça. No entanto eis que pela direita vem uma coisa chamada CDS e que lhe vai dar um sinalzinho nestas eleições de que qualquer coisa vai surgir de onde menos se espera. Nervoso por isso, Louçã vai sentir como que uma pedrinha no sapato. Ficará perplexo quando este ainda pequeno mas sólido CDS pedir explicitamente aos adeptos clubisticos do PSD que estes lhes confiem o seu voto daqui a 2 ou 4 anos ao melhor jeito do um enorme "voto útil". Será cínico ao anúncio, mas quebrará todo o verniz aos sinais contrários, o que gerará um efeito contrário ao desejado pois verá debaixo dos seus olhos muito bloquistas mudarem de intenção de voto... para CDS. Isto ocorrerá se o CDS for muito forte. Se este não o for o BE continuará a subir. Mas como vivemos o presente demos agora os parabéns a Louçã por um 27 de Setembro que nunca esquecerá.

* eterno agradecimento ao meu ilustre amigo Saldanha

Jerónimo de Sousa

Esta personagem carrega consigo outro tempo e outra realidade. Respirando bondade e afecto pelos outros, lutador eterno, inofensivo e completamente falho na ideia, combina tudo para granjear a simpatia de todos os portugueses. Não concorrendo para a mudança por estar completamente fora da realidade, e concorrendo agressivamente para o actual estado de paralesia, está em sintonia com muitos. Os expressivos 10% do eleitorado que tem representam infinitamente mais do que a ideia que possui, mas estão fortemente sintonizados com a apreciada imobilidade de um vasto sector lusitano.

Demais resta somente dizer que corporizando um corpo inerte no nosso aparelho partidário, está para a política como para o mercado se encontram aquelas empresas grandes, antigas e obsoletas na sua estratégia e que actuam em mercados mais dinâmicos. São para os modernos, irrequietos, dinâmicos, e com estratégia bem definida, um bem inestimável pois vão jorrando quota de mercado com uma constância que muito agrada aos ganhadores. O BE, receptáculo dessa quota de mercado, lá vai canibalizando devagar e alegremente este morbido cadáver. É o Millenniumbcp da política, com uma única diferença: enquanto o PCP vai sempre dernando quota de mercado, o Millenniumbcp foi comprando quota de mercado para a ir perdendo.

Paulo Portas

Ora aqui temos um rapaz que anda num conflito muito complicado e inglório. A abarrotar de discernimento, com firmes ideias de combater as verdadeiras causas dos problemas do nosso Portugal, cheio de propostas óbvias com as quais Portugal concorda, e com energia e motivação para governar, não vê ser-lhe conferido o benefício da dúvida no momento do voto. Um pouco desesperado, tenta por todos os meios achar "A fórmula".

Residindo num partido orfão, com um passado de muita turbulência e eternamente ferido com Cavaco e o PSD que o esvaziou nos anos 80, tem evidentes dificuldades em lidar com outros, especialmente quando esses outros também não demonstram facilidades na relação. Pessoa de amuos, joga um jogo individual em sintonia com a sua agenda. E ai de quem ouse pisar os seus domínios. Julgando-se dono e senhor do partido em resultado do seu vivo discernimento sobre Portugal, sente que só ele o pode liderar. E neste ponto encerra consigo um conflito que lhe há-se bater à porta um dia: se por um lado é pessoa de confiar nos outros desde que se trate de áreas onde ele não esteja à frente, de modo nenhum confia em quem quer que seja para o substituir na área em que ele se encontra à frente. É como um felino na selva, tendencialmente respeita área alheia mas é feroz se invadem a sua. E assim lá vai marchando quase sozinho e acompanhado de zelosos "Portistas" que o vêm mais como um símbolo do que como um líder.

Os portugueses, que obtusamente ainda vão conotando no íntimo o CDS com a ditadura, vão mantendo uma aversão íntima com este partido. Partido de perfil ainda um pouco "betinho" na sua base, alimenta-se um pouco de uma visão "nós e os outros". Necessita, urgentemente, de ter comportamentos bem mais consentâneos com a expressão eleitoral que procura (e que é lógica, pois estes partidos na Europa são governo). Refém ainda de alguns conservadorismos, este partido necessita de se libertar de muitos caracteres que o mantêm pequeno. Exemplos destes caracteres são as relações de proximidade algo paternalistas desenvolvidas por Portas. Necessárias para o Portugal do século XX são impróprias para o Portugal do século XXI. Ou a associação com temas do foro da consciência individual, como o tema "aborto".

Um partido que abuse em adoptar um género (como o BE e o PCP o fazem) e que emita doutrina de consciência está-se a desviar da sua missão: gerar ideias e governar o seu país. Como qualquer país, Portugal está hoje minado (no sentido positivo) de pessoas diferentes. Conferir a possibilidade de expressão individual a cada um dos seus cidadãos é o bem mais precioso que se pode dar a um país pois isso fará emergir a diversidade e o melhor de cada um. Um país é o resultado da imensa miríade de elementos, géneros, ideias, projectos e ideais. No quinteto actual Portas é quem mais carrega discernimento nas ideias e projectos. Nos quintetos do futuro (ou sextetos, etc.) não sei se é quem melhor convive com os diferentes géneros e ideais. Se o é, não sei se quem o rodeia tem o mesmo pensamento.

Resumindo: partido de ideias certas mas povoado de demasiada homogeneidade está limitado no crescimento.

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