quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Experiências sobre despedimentos e segurança no trabalho (2)

QUINTA-FEIRA, 30 DE JUNHO DE 2011

No ano de 2005 resolvi ingressar numa das grandes consultoras internacionais pois surgira uma boa oportunidade para um determinado projecto. O departamento onde eu me inseria era no entanto pequeno, quer comparando a mesma unidade de negócio com outras empresas, quer comparando com as outras unidades de negócio da dita consultora. O meu grupo de amigos ao tomar conhecimento ia enaltecendo o feito afirmando que a tal consultora era uma empresa “sólida” onde potencialmente eu poderia fazer “carreira” e ter alguma “segurança” no futuro. Cedo compreendi que era mais o nome e a fama que fundamentavam aqueles juízos, ou seja, a arquitectura mental em vigor conseguia vislumbrar futuro naquilo que culturalmente herdámos como verdadeiro. Ainda expliquei que não estava nada seguro nos votos que iam confiando à minha decisão. No mínimo o que esses votos sustentavam em nada coincidiam com o que me fizera tomar a opção.

Sete meses mais tarde resolvi sair da dita consultora e abraçar a carreira de free-lancer no estrangeiro. Socialmente ainda ouvi uns zuns-zuns de que talvez não fosse boa opção sair de uma empresa tão “sólida”. Soube que um ano mais tarde a dita consultora desfez-se da unidade de negócio onde eu estivera por falta de vocação. A dita “solidez” esfumou-se num ápice e a suposta "segurança" afinal não o era.

A grande lição que aprendi é que a segurança não se adquire por convicções ditadas pela história e que pode não morar numa empresa / departamento para sempre. A segurança adquire-se por estarmos conscientes de qual a melhor opção num determinado momento perante determinadas circunstâncias e da capacidade e coragem de tomada de decisões. E aprendi também que o que herdámos como verdadeiro, e que fora cimentado durante décadas, pode não funcionar nos dias de hoje. Isso tem implicações ao nível da capacidade de discernimento e de como pode ser útil possuirmos o estofo de ir contra aquilo que é considerado uma verdade universal.

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