TERÇA-FEIRA, 14 DE DEZEMBRO DE 2010
Por vezes questiono-me se os Portugueses percebem o que se está a passar em Portugal e no mundo. Quando vou falando com as pessoas vou ficando com a sensação que não querem perceber o que se passa e não querem ouvir atentamente quem percebe o que se está a passar. Suspeito que se trata de um mecanismo defensivo onde o medo de encarar uma realidade fatalmente correctora dos dislates financeiros em que nos enfiamos nos últimos 25 anos impele-nos para uma negação da própria realidade. É um desligar e deixa andar muito típico dos espíritos amolecidos e atordoados pela ilusão inculcada por perfis de meia tigela. É uma recusa no enfrentar da mediocridade por que se optou, no buraco em que se caiu por escolha própria.
Por vezes questiono-me até que ponto o argumento é útil. Será que a entrada da realidade pela casa a dentro é o melhor dos remédios, ainda que isso implique viver sob o pior dos cenários. Será possível o espírito tolher-se a um nível muito superior à grandeza da razão? Será que o espírito e a razão são aspectos inconciliáveis do nosso ser individual e colectivo. Que esquizofrenia é esta de “lutar” pelo status quo na função pública quando isso significa que o que se propõe de sacrifício é muito inferior relativamente às consequências de nada se fazer. Pois não há muitas pessoas a quem se tem que amputar algo de modo a salvar o corpo?
Por vezes questiono-me porque ainda se acredita que o modelo do emprego para a vida é o melhor modelo de sociedade. Será que não se percebe que as sociedades mais dinâmicas são aquelas onde o nervo, a aventura, o querer, o derrubar ideias pré-definidas, a compreensão, a persistência, a inovação, o engenho, a discriminação positiva, a solidariedade, a competição, são os valores que se pretendem estimular. Será que ainda se acredita que se pode querer ter um nível de um Alemão, Sueco, Americano, Japonês, Sul Coreano num ambiente super corporativo onde todos são recompensados da mesma forma independentemente da sua performance?
Por vezes questiono-me porque fomos tão estúpidos em acreditar que poderíamos ser tão desenvolvidos como os países nórdicos e não nos organizarmos como eles, não estudarmos como eles, não ter o mesmo nível de senso sobre o endividamento como eles, não perceber que primeiro produz-se e depois é que se goza o que se ganhou com isso. Popularmente diz-se, e muito bem, “não pôr a carroça à frente dos bois”. Por vezes questiono-me porque é que pensávamos que conseguiríamos convencer os Alemães a desatar a consumir mais de modo a estimular as economias do Sul da Europa. Será que ainda não percebemos que estávamos a convidar um povo a cair precisamente no erro que parte do mundo Ocidental caiu? E será que não percebemos que o Alemão entendeu isso perfeitamente? E que ainda por cima essa atitude vai no sentido contrário do seu perfil.
Por vezes questiono-me se não merecemos bem o que agora nos tocou à porta e que ainda mal começou. É mau e vai doer muito a muita gente. Mas para quem votou constantemente mal, para quem se recusa simplesmente a ir votar, para quem acreditou que poderia viver à mama dos outros, questiono-me se não merece apanhar com o que está a acontecer. Eu sei que nos países nórdicos também há muita abstenção. Mas também sei que os partidos de esquerda não têm 20% dos votos e que a direita está muito bem representada. Votar é uma responsabilidade muito grande e maus governos em muito nos podem afectar.
Por vezes ainda me questiono, quando é que mudaremos de atitude?
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