TERÇA-FEIRA, 15 DE MARÇO DE 2011
É voz corrente que a confiança é um factor fundamental para o desenvolvimento de uma economia. Sem dúvida que o é. A questão não passa pelo debate onde todos estão de acordo. Passa antes pelo que cada um entende e extrai do conceito. Parece óbvio que o entendimento do mesmo difere bastante quando confrontamos diferentes perfis de pessoas mediante um mesmo cenário.
Portugal precisa de muita confiança. Carece dela em elevadíssimo grau. Não tanto no que a auto-estima diz respeito (tratarei do conceito adiante). Carece de confiança porque esta só aparece quando são apontados caminhos que as pessoas reconhecem como sendo possíveis de levar a algum lado perante as circunstâncias em vigor, ainda que para isso os mesmos apresentem dificuldades em ser alcançados.
Ora é esse o problema de Portugal. A governação não consegue apontar um caminho porque não entende bem o mundo de hoje, não entende bem a realidade em que Portugal se encontra, está muito provavelmente mal aconselhada, e não tem perfil e arrojo para elaborar e executar os necessários planos de ataque. Quem governa está bastante manietado por grupos de interesse, facto que, associado à miopia de análise e inépcia na acção, só potencia o desespero e exasperação dos agentes económicos. Se a isto adicionarmos a estrutura ética da maioria do pessoal governativo não restarão dúvidas que reunimos todo o leque de condições conducentes à falta de confiança em Portugal.
O pontapé de saída para fornecer confiança à economia é enfrentar o problema de frente. E para isso há que:
1. Identificá-lo. Isso é fácil e já foi feito por muitos proeminentes economistas da nossa praça.
2. Veiculá-lo abertamente a todos os Portugueses sem o temor absurdo de quem não pode transmitir uma mensagem desagradável.
3. Apresentar soluções claras onde se identifiquem claramente opções que sustentem uma estratégia (como por exemplo, privilegiar abertamente a produção relativamente ao consumo, nomeadamente no que a actividades exportadoras diz respeito; ou ainda implementar um sistema onde o corpo da administração pública não esteja promiscuamente dependente dos desvarios partidários, e que não seja fornecido de pessoal originário desses mesmos partidos).
4. Libertar a governação dos grupos de interesses e assisti-la com grupos intelectualmente mais evoluídos e com provas de não perseguirem o interesse próprio ou de grupo.
Os agentes económicos não são tolos quando confrontados com determinados estímulos. Por norma o erro está no estímulo, não nas decisões individuais. A apresentação de um plano muito claro de prioridades, quer ao nível sectorial, quer ao nível dos mercados (interno versus externo), facilita a selecção de investimentos e o seu escalonamento temporal. Só isso é factor de germinação de confiança ao nível do empresariado. A indecisão, que não é mais do que o ambiente em que hoje se vive em Portugal, inibe e congela investimento, gerando desconfiança.
A população em geral, por norma mais desinformada que o empresariado, ganhará confiança numa fase posterior, ou seja, quando for evidente que as medidas tomadas provarem ser transformativas. No caso específico de Portugal, perante a realidade actual, isso só ocorrerá quando o sector exportador começar a contratar pessoas em elevado número, absorvendo tanto quanto possível os desempregados de hoje e os que aí ainda vêm (drenados em parte pelo sector público).
No momento em que nos apercebêssemos que nos estaríamos a transformar numa economia maioritariamente voltada para o exterior, então um outro tipo de confiança apareceria. Será aquela a que associamos com o conceito de auto-estima. Ou seja, aquela decorrente de sermos ganhadores por natureza nos recintos em que “combatemos” nos mercados internacionais. Sabemos que presentemente já há vitórias. Mas as mesmas são celebradas por uma reduzida percentagem do mundo de trabalho português. Quanto mais voltada para o exterior for a nossa economia (uma fatalidade ditada pelo nossos desequilíbrios macro económicos), maior será o nosso número de vitórias em ambiente internacional (assim o espero, e acredito), potenciando esta outra “confiança” muito esquecida entre nós.
Este último tipo de confiança conduzirá aquilo a que chamo “nova maioridade” do povo português. É aquela que nos fará reencontrar como povo voltado para o mundo, sabendo que aquilo que deste rectângulo brota é para no mundo singrar positivamente, resultado de ideias e trabalhos excelentes, e não de pequenos jogos de interesse e mesquinhez de paróquia mal estruturada onde a exiguidade do terreno onde decorre a acção nos condena a definhar na ideia e no zelo por contrapartida da intriga e mediocridade.
Este último patamar de confiança está ainda muito longe, mas é perfeitamente alcançável. Para que isso ocorra, temos que lutar em primeiro lugar pela confiança que no início invoquei, a ditada pela verdade e pela indicação do caminho claro a seguir. O correcto escalonamento dos degraus de confiança, e a humildade no seu reconhecimento, é por si outro factor germinador de confiança, aquela que decorre do nosso conhecimento enquanto corpo social capaz de evoluir.
Tudo aquilo que nos têm estado a vender nos últimos 25 anos poder-se-á também chamar de confiança. Mas de outro calibre e com um nome bem conhecido: a confiança “banha da cobra”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário