quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Muita paciência

DOMINGO, 27 DE FEVEREIRO DE 2011

Quando se diz que consumimos mais do que produzimos isso quer dizer que vivemos em constante défice. Durante um longo período de tempo isso significa dívida acumulada significativamente superior ao que se produz. Isso conduz a um cenário insustentável a prazo.

É mais do que evidente que os últimos 25 anos foram um festival de défice (os primeiros 10 não foram tão explícitos, mas prepararam a função pública para aquilo que ela é hoje). Agora temos que alinhar o consumo por aquilo que produzimos. Mas há mais. Há que pagar a dívida. Que tenhamos isso bem presente.

A política pode servir este propósito equilibrista e até tem meios para o fazer. Como já foi dito neste espaço, há que, fiscalmente, penalizar o consumo e estimular a produção. Uma das formas de penalizar o consumo é subir a taxa do IVA, nomeadamente do IVA mais alto, do imposto automóvel, e do imposto sobre o tabaco. E uma das formas de beneficiar a produção é a redução do imposto sobre o rendimento. Neste ponto há um duplo efeito. Não só se premeia o trabalho como também se permite flexibilidade extra na redução dos custos de trabalho quando comparados com o nível de produtividade dos mesmos. E a verdade é que os custos de trabalho subiram mais nos últimos anos quando comparados com a performance desse mesmo trabalho. Que não restem dúvidas, os custos do trabalho têm que diminuir.

O futuro está em produzir mais e melhor e em vender bem o que produzimos. É discurso corrente, e correcto, falar-se em alto valor acrescentado, inovação de qualidade, possuir circuitos de distribuição eficientes, e em que não podemos mais apostar numa política de vender produtos de baixo valor acrescentado. Está tudo de acordo sobre o facto. Mas tudo isso tem de custar barato. Começa-se pelo princípio e não pelo fim. Roma e Pavia não se fizeram num dia. Ainda temos um longo caminho a percorrer. A nossa mão de obra é ainda de baixa formação quando comparada com os mais elevados standards e consequentemente temos que acautelar os nossos níveis de exigência. Por isso há que ter cuidado e jogar defensivamente. Até porque nos dias de hoje há mais “gente” no mundo a jogar no campeonato onde estamos. Por isso tudo quando sirva o propósito e concorra para baixar os custos de produção deve ser arma a ser utilizada por Portugal.

Até ver o consumo tem que esperar. O consumo só deverá ser reanimado após as exportações terem um bom comportamento durante uns dez a quinze anos consecutivos e depois de ser ter amortizado parte significativa da nossa dívida acumulada (até para trazer os juros da dívida dos incomportáveis e loucamente actuais 7% para 3%; ter em atenção que os mesmos vão ainda subir mais). Parece muito tempo, mas a realidade económica não se muda de um dia para o outro. Estimular consumo é muito fácil, mas estimular produção já demora mais tempo. Conquistar mercados no exterior e substituir importações é bem mais complicado do que vender carros ao vizinho. Montar uma economia voltada para a exportação demora muito tempo. Fatalmente teremos que ter paciência. Muita paciência.

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