QUARTA-FEIRA, 6 DE JANEIRO DE 2010
Tenho com frequência produzido posts com os títulos de "Portugal, acorda" e "Portugal, fotografia". Tenho ainda mais umas poucas "fotografias" na agenda. Posteriormente passarei às "soluções". Tem sido minha ideia perceber o que se anda a passar em Portugal e de tentar produzir soluções. Poucas pessoas ligam ao nosso País e quase ningém para ele olha sem ser pelo seu prisma individual. Tenho desgosto no facto, mas tenho muita esperança que isso mude. Por exemplo, é impressionante como pouco ou nada se liga à hecatombe demográfica em curso. Já nos dias de hoje saio e reparo que existem pouquíssimas crianças / bébes. Isto vai ter impactos brutais em Portugal. Terá ainda impactos psicológicos no futuro no nosso sentir a sociedade que nem suspeitamos hoje em dia.
Embora seja um optimista, tenho fundadas razões estar pessimista para Portugal se nada for feito. Não existem evidências nenhumas de mudança de rumo, seja a que nível for. A nível económico e financeiro a situação vai rebentar daqui a 2 ou 3 anos. Hoje Martim Avillez Figueiredo falou em "situação explosiva" na TV2. O discurso recente do Presidente da República também o mencionou. O défice corre à razão de 2 milhões de euros por hora, e penso que este número subirá, pelo que vai haver mesmo turbulência (e já nem invoco o desemprego crescente).
A atitude do tipo "ora, crises sempre existiram" vai ter uma surpresa. Temos um problema como nunca tivemos. Eu sei que quem vive as situações no momento tende sempre a sobrevalorizar o seu momento histórico face a outros já ocorridos. Mas realmente há uma vaga (já discorri sobre isso em diversos posts) forte e profunda de corrosão que vem a caminho. Vai ser como que um terramoto social prolongado no tempo. Terramoto, muito, muito poderoso, e todo ele fabricado por nós. Não vamos gostar dele e vamos sentir amargamente o real absurdo que é conhecermos as suas causas e toda a história da sua formação. Impressionante como quase todos os responsáveis se recusam a reconhecer a realidade e lutar contra ela.
Sei que por defeito de formação dou muita ênfase à área económica e financeira nos posts que tenho produzido. Defendendo a minha dama, direi que sem a economia e as finanças devidamente afinadas não podemos carburar adequadamente nas outras áreas (embora isto não seja válido a 100%). Infelizmente o sector social vai-se ressentir bastante com os nossos desiquilibrios económicos e financeiros.
Paralelamente, e naquilo que é independente da carteira, não vamos marcando pontos. Esta história do casamento homossexual é demasido nauseabunta para ser verdade, não só pelo dislate da matéria, como pela total inoportunidade. O navio afunda-se e está-se a discutir a decoração do convés. Isto é um clássico do comportamento humano. Quem tem medo da adversa realidade em que se encontra inventa outros assuntos menores para manter aquela em boa distância e conservar uma triste e falsa ilusão. Cambada de fracos.
Existe uma característica que não tenho visto nas pessoas: altruismo. Como disse, sinto que têm pouca apetência em se preocupar com Portugal. É impressionante como as pessoas vivem mergulhadas nos seus "eus". Parece que o mundo acaba nas suas fronteiras físicas. Hoje não é permitido tomar medidas para o bem comum pelo simples facto de as mesmas puderem perturbar um qualquer interesse instalado. Nesse momento solta-se a berraria. A fórmula, bem atestada de adeptos, tem provado funcionar, pelo que o argumento tem sido invariavelmente batido pelo nível sonoro. E quando este está de mãos dadas com a "moda" até o melhor argumento é visto com total desdém. Enfim, são os tempos de hoje, "modernos", claro, onde a "modernidade" servida por um sorriso ardiloso e de esguelha é o melhor substituto do argumento.
É impressionante como as pessoas têm certezas sobre tudo e sobre nada e emprestam pouca argumentação ao diálogo. Há muito expediente para tomar posições imediatas sobre tudo e sobre nada, e pouca substância no argumento que suporte ideias sólidas. Os homens sábios funcionam ao contrário. Francis Bacon dizia que a sabedoria simulada é quem dá por adquirido aquilo que não sabe bem explicar, e quem passa muito rapidamente de um tema para o outro sem se deter muito sobre um mesmo tópico. Noto isso em inúmeras conversas em que o outro tem uma tremenda dificuldade no argumento, mas está sempre ciente da sua razão. E já nem falo ao nível da contra argumentação. É uma brutal falência do diálogo.
A busca da verdade pelo diálogo é coisa difícil de alcançar nos dias de hoje. Mas como a verdade é daquelas coisas que insistentemente vem ao de cima, e como quando se fala, por exemplo, em medidas difíceis para reduzir o défice e a dívida total do País vêm logo os "modernos" e seus acólito defensores com risinhos e encolheres de ombros ocos e ignorantes (juntem-se aqui quase todos os funcionários públicos que vivem, e para quem não sabe, no mundo dos desenhos animados), esperemos democraticamente pela realidade que vem aí.
Temos a espera como substituto - efémero - do argumento.
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