quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O cerco externo começou à séria

TERÇA-FEIRA, 27 DE ABRIL DE 2010

Os mercados estão num processo de reavaliação. Portugal está no radar há já um tempo, mas só agora os mercados tomam o pulso da verdadeira capacidade dos nossos políticos. A história não é complicada e basta senso comum e a 4ª classe para perceber o que se passa.

Genericamente andamos a consumir 10% mais do que produzimos por ano. O desejo de reduzir o consumo é nulo. A dívida acumulada pública já vai nos 80% do que se produz por ano (não conto com a dívida privada que é para ter um dia mais sossegado). O nosso produto não aumenta porque não somos suficientemente competitivos. Os políticos não têm a mínima coragem para fazer o que tem de ser feito no curto prazo, ou seja, aumento de impostos (nomeadamente IVA, aí para 25 ou 26%) e redução de 10 a 15% dos vencimentos dos funcionários públicos. Entendamo-nos, a massa de que é feita os nossos políticos não combina com o que é necessário fazer.

Os nossos credores começam a percepcionar risco em Portugal, e como nós temos que renegociar a dívida corrente e o nosso défice, então de cada vez que vamos ao mercado pedir dinheiro os credores pedem-nos mais dinheiro por isso (sim, o juro). Relembro que a crise financeira actual deveu-se, e em muito, ao facto de os mercados não diferenciarem o risco entre as diferentes pessoas / entidades que pediam dinheiro emprestado. Por isso tenhamos cautela quando apontamos o dedo aos especuladores.

Especulador é figura que merece todas as antipatias. Concordo. Mas os Alemães não se queixam deles. Pudera, portam-se bem e são de boas contas. E parece que esses especuladores arrepiaram caminho com a Irlanda. Pudera, deram sinais de que iriam controlar a sua dívida (por enquanto, pois só o tempo o dirá). Especulador serve para duas coisas: 1. Dar liquidez ao sistema, e 2. Servir de bode expiatório.

Apontar o dedo aos especuladores e aos mercados é assobiar para o lado. O mal está em ter uma dívida pública acumulada de 80% do produto (sem contar com a dívida privada), um defice a rondar os 10% do produto, e também assobiar para o lado.

Reitero, ou somos nós que tomamos conta de nós, ou somos corridos do euro a prazo. Até lá vamos ter que começar a interiorizar, através de juros mais altos, que o filme afinal é para maiores de 18 anos. Está nas nossas mãos.

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