quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Portugal, fotografia (10)

SÁBADO, 9 DE JANEIRO DE 2010

Portugal, as tuas deficiências organizacionais são desesperantes. Quando se ouve por aí iluminados a dizer que “temos enormes deficiências organizacionais” temos que concordar que há todo o fundamento nisso. É que tu não entendes bem o conceito de Organização. Parece que é algo que é contra-natura com o teu ser. Mas francamente, nem é coisa por aí além. Claro que mete o factor humano, e isso complica sempre tudo, mas também não é o fim do mundo. O diabo com o factor humano é resolver conflitos como os existentes no médio oriente. Isso sim é complexo. Agora, uma Organização!

Por experiência própria tenho tido a oportunidade de lidar com a mudança em muitas organizações em Portugal e em diversas na Europa (sim, para mim isso é ainda coisa que fica acima do Pirinéus; eu encaro Portugal como pertencendo ao mundo). E a experiência que adquiri corrobora a 100% o “temos enormes deficiências organizacionais”.

E porquê? Porque basicamente a qualidade geral dos nossos gestores é fraca. Com uma agravante nada despicienda, que é julgarem-se melhores do que aquilo que são. A gestão é uma disciplina ainda pouco conhecida. Confundimo-la com a actividade do homem de negócios ou com o empresário, o que é errado, não sendo estes inclusivamente necessariamente bons nessa matéria. O faro que têm para o negócio secou-lhes as qualidades organizacionais. São uns nabos, com uma agravante: não gostam dos gestores porque estes lhes podem fazer sombra pelo facto de o vulgo confundir um e outro.

A imensa massa de Portugueses vai ainda fazendo jus daquela saída de Gaius Julius Caesar quando diz “Há nos confins da Ibéria um estranho povo, que não se governa, nem se deixa governar”. É impressionante como isto é verdade. Como se vê o casamento entre gestores e geridos não é bem sucedido. E isso nota-se pelo ódio mudo entre a classe dirigente e a classe dirigida.

Mas as coisas são como são, e a natureza das coisas diz-me que o ónus cabe a quem comanda. São estes a quem recai a obrigatoriedade de mudar a realidade deste casamento. Deverão ser os dirigentes a fundar novas realidades, pelo exemplo, pela abnegação, pela seriedade, pelo esforço, pela perspicácia, pela inteligência, pela forma como comunicam, e acima de tudo pelas qualidades organizacionais. Por isso Portugal, trata de arranjar um meio de mudar esta situação.

Dir-me-ás que não te posso exigir isso porque sou um grande defensor da iniciativa privada. É verdade, mas respondo-te que tens uma miríade de serviços públicos onde poderias praticar com excelência as melhores práticas organizacionais. E mais, até há muito bom gestor por aí à solta saídos recentemente de muitas faculdades de economia e com muita pós-graduação às costas. Aproveita isso. Eu sei que é difícil porque inventaste essa coisa do “cargo de confiança política”, que mais não é do que o “Job for the boys”. Segredo-te: livra-te do “boys” e arranja bons gestores públicos que queiram fazer carreira na gestão pública. Dá um ar da tua graça e manda uns pioneiros às grandes Écoles Publiques. Não é nada que um “shake hands” com o Sarkozy não resolva.

Portugal, não tenhas medo de te organizar. Vais ver que não dói, e até dá brinde no final. E olha, se levares isso como moda, conceito que adoras, aconselho-te a não te livrares do desenrascanço. Isso de mão dada com a disciplina organizacional faz o pleno.

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