quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Portugal, fotografia (12)

QUINTA-FEIRA, 21 DE JANEIRO DE 2010

Portugal, os teus melhores membros não se sentem atraídos para a política. O resultado numa palavra: desgraça.

Portugal, todos nós conhecemos pessoas que nos habituámos a considerar como elementos proeminentes e com grande valor acrescentado nas áreas em que se movem. Quando questionadas essas pessoas sobre uma veleidade no mundo da política com frequência ouve-se “Deus me livre”, “Nem pensar”, “É tudo uma malta que não interessa”, “O que é que lá vou fazer”, “Nisso não me meto”, etc.

Portugal, lembro-me de ler em 1999 um artigo sobre um proeminente líder empresarial onde o mesmo dizia: “a lógica dos políticos escapa-me totalmente”. Na altura fiquei um pouco aturdido e ainda pensei que se tratasse de um exagero. Hoje penso que não. Muitos outros empresários e outras pessoas proeminentes vêm demonstrando estupefacção sobre a nossa vida política. E no ponto em que estamos penso já não ser necessário ser-se muito iluminado ou informado para se concluir que a nossa lógica política e partidária é um absurdo enorme.

Portugal, a política é importante, quer queiras quer não queiras. Precisas com urgência de pessoas de qualidade na política. Tens que arranjar maneira de eles lá irem parar e de vingarem. Vingar não no sentido pérfido corrente do “safaram-se” ou “abotoaram-se”, fenómeno comprovadamente associado ao caciquismo e ao interesse individual. Digo vingar no sentido de os melhores elementos te darem o melhor que as suas capacidades permitirem através da política. O que se passa é que os teus políticos se servem de ti. E quando pontualmente te servem é com o objectivo primário de se servirem a si e ao grupo a que pertencem. E tratam sempre de manter contactos que sirvam outros interesses à posteriori, sejam estes interesses individuais ou de grupo (nunca os teus). São umas autênticas sanguessugas que te sugam e espremem eternamente. Enquanto os mecanismos partidários não forem alterados e estas prioridades não forem invertidas os melhores não se metem no covil dos traficantes de influências.

Portugal, nota bem, no actual cenário económico e social esta tendência maligna tende a piorar. A exiguidade da tua economia associada ao definhamento da mesma acelera o processo do “salve-se quem puder”. Isto misturado com o conceito de “nobless oblige” indígena acentuará a solidificação dos mecanismos pérfidos dos teus partidos políticos, criando-se desta forma barreiras ainda maiores à entrada na política dos teus melhores membros em virtude da atitude defensiva dos membros já instalados nos partidos. E não será fácil desmontar o esquema depois deste se ter solidificado.

Portugal nota o seguinte, as sociedades têm sempre um determinado volume de interesse, quer de grupo, quer individual. O mercado é um óptimo local onde se liberta o “interesse”. Se o mercado definha esse volume de interesse tratará de escolher outras vias para se saciar. O teu orçamento que o diga. Percebes o que quero dizer? Por isso é importante quebrar o actual retrato partidário e fazer jorrar lá para dentro outras gentes e outras motivações.

Portugal, talvez este retrato até já esteja a ser mudado. Muitos da geração dos quarenta, ou seja, os quarentões de sucesso que acharam mais graça ao chamamento do mercado há 20 anos atrás, sentem que descuraram muito a política. Não propriamente ao nível de se arrependerem de não terem seguido uma carreira política, mas acabam um pouco por olhar uns para os outros a pensar “porra, deixámos isto um bocadinho entregue aos bichos, deveríamos ter feito qualquer coisa”. Portugal, este sentimento existe, é genuíno, é sério, é puro, é humilde, e é emanado por pessoas que te amam. Sim Portugal, não te espantes, existem mesmo pessoas que te amam. E posso-te dizer que são bem diferentes dos políticos que tu andas a premiar.
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Nota: impossível escrever este pequeno texto sem uma palavra de atenção aos actuais políticos que são sérios e bons. Existirão e merecem um grande bem-haja. É de herói.

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