SÁBADO, 16 DE JANEIRO DE 2010
Portugal, só recentemente os teus habitantes perceberam um erro que acumularam durante 20 ou 25 anos: as pessoas têm que escolher actividades que o mercado quer e não aquelas que as pessoas querem. Pode parecer violento este tipo de castração, mas a experiência tem vindo a mostrar que a não observância desta máxima é bem mais violenta.
Portugal, culturalmente herdaste a ideia de que um canudo bastava. Esta ideia, válida na época dos teus ascendentes, formatou quase sempre as decisões das tuas gerações mais recentes. Agora a realidade provou-te que o pressuposto deixou de ser válido há muitos anos. Ainda assim, subsiste a ideia geral de que uma actividade meritória e de reconhecimento social deverá estar associada a profissões historicamente proeminentes, tais como advocacia, medicina ou até económicas (recuperando um termo pomposo). Mas o mundo mudou e hoje existe uma extensa lista de outras actividades que, embora sejam de difícil catalogação social, podem ser compensatórias no actual quadro económico.
Portugal, sabemos que estás mais atento nesta matéria, mas nos últimos 25 anos muitos dos teus habitantes mais esforçados nos estudos experimentaram frustrações perfeitamente desnecessárias. Isto provou-te que a cultura te pode trair se não estiveres atento. Canudo aliado a um bom fato e gravata já não são garantia de nada. As valências possuídas direccionadas para uma(s) actividade(s) concreta(s) são nos dias de hoje a fórmula para o sucesso. Que o digam muito informático com barba por fazer, de barbicha e piercing. E isto é válido para muitas outras áreas, mesmo aquelas que são, absurdamente, socialmente desprestigiantes (canalizadores, carpinteiros, etc). Por isso Portugal, trata de romper com estereótipos perfeitamente desajustados da realidade actual e trata de direccionar os teus residentes para aquilo que o mercado quer.
Mas Portugal, e porque às vezes te baralhas com as modas, não fiques cego. Pensa que por detrás de um trabalhador existe uma pessoa. Disciplinas não práticas são muito importantes na formatação do indivíduo, não numa óptica decorativa, mas no sentido de potenciação das valências centrais e na aquisição de outras valências relevantes no futuro na cada vez mais longa vida profissional. Não arrumes a um canto a matemática, a filosofia ou o português com base no argumento falacioso de que não são necessárias. Empacotar pessoas com standards mínimos com 20/21 anos não é a solução, principalmente quando a esperança de vida já vai para os 80 anos e isto das reformas não ser bem como no passado.
Portugal, como vamos ter que trabalhar cada vez mais anos tens que tratar bem da formatação das pessoas até aos 23/24 anos que é para puderem voar muitos anos sem sobressaltos desnecessários (já não bastam os sobressaltos ditados pela mudança, que é nos dias de hoje o estado natural das coisas).
Portugal, a mensagem é clara e sintética: adapta-te profissionalmente ao que o mundo quer e não aquilo que tu queres.
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