quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Portugal, fotografia (8)

SÁBADO, 2 DE JANEIRO DE 2010

Portugal, no teu rectângulo é o diabo cobrar dívidas e assumir responsabilidades. Portugal tens uma percentagem demasiado elevada de devedores desavergonhados que não têm um mínimo de pudor em não pagar o que devem. Há uns anos ia-me questionando sobre os motivos pelos quais os bancos queriam sempre segurar-se por todos os meios quando concediam empréstimos. Entendia ser um exagero toda a panóplia de meios de que os bancos se socorriam para se salvaguardar, facto que originava sempre inúmeras experiências e consequentes histórias. E, claro, nessas histórias os maus eram sempre os bancos. Agora, já mais vivido, e com melhor conhecimento da massa de que se fazem alguns lusitanos, dou muito desconto à atitude dos bancos.

Não é fácil compreender este fenómeno. Ele não se verifica necessariamente onde existam pessoas com poucos rendimentos. Claro que quem não tem não pode pagar. No entanto, este argumento tem, muitas vezes, costas largas. Mas quem pode e se recusa a pagar dívidas já talvez pertença ao clube dos doentes (conclusão com base empírica, obviamente). Entre um extremo e outro, caiem talvez a maioria das pessoas. E diria que aqui temos os casos mais graves pois evidenciam defeitos nada abonatórios para quem não cumpre e que talvez caracterizem outros segmentos da população. São eles o desleixo nas contas e respectiva incapacidade de viver dentro de orçamentos, e o viver constantemente acima das possibilidades.

Estes dois defeitos combinados são nefastos ao pagamento de dívidas. Por serem talvez congénitos, por darem boa assistência a quem quer fugir da realidade, por ligarem bem com o sol e o clima temperado, muitos Portugueses de bom coração viverão até em conflito pelo facto de não saberem como lidar com a situação de querer cumprir e não o conseguir por inépcia. E, cereja em cima do bolo, quando a coisa atinge o insuportável sacam de outro conceito da cartola que não vem nada dar boa assistência. Chama-se orgulho, que não sendo propriamente um defeito, pode-o vir a ser se utilizado inoportunamente. E é-o amiúde, pois recusando-se o devedor a ver as causas da situação a que chegou, torna a sua situação insolúvel pelo orgulho de que se cercou. E assim nasce a irresponsabilidade.

Nas empresas ocorre o mesmo fenómeno. É quase de bom tom pagar fora de horas, como se isso fosse consequência de um sentimento de poder de uma parte relativamente à outra, uma demonstração de força de que muitas vezes os nossos gestores sentem vontade de demonstrar. Pagar a horas é coisa para “bimbos” e para “patós”. Como isto deve ser de difícil compreensão a um saxónico ou a um nórdico.

Sabemos hoje que este fenómeno é funesto para a economia. Perturba a gestão financeira das empresas e desvia o esforço de recursos humanos para assuntos sem nenhum valor acrescentado para a actividade "core". O abalo ao normal funcionamento de algumas tesourarias pode ser mesmo motivo de falência. Todo este odor de desconfiança na atmosfera económica pode, no limite, até desincentivar alguns projectos.

Portugal, seria de supor que o teu Estado, espectador de eleição, e também actor da economia, pelos seus bons exemplos viesse corrigir de alguma forma esta chaga. Só que o teu Estado é um dos maiores desleixados nos pagamentos. Isto é, obviamente, inconcebível, não só pelos transtornos causados às empresas / indivíduos credores, como também pelos sinais que emite para todo o tecido social.

Portugal, este tópico começa-te a prejudicar muito, não só enquanto elemento perturbador da vida económica corrente, mas também como factor que prejudica na captação de investimento estrangeiro de que urgentemente precisas. E o pior Portugal, é que para além de seres um mau intérprete nesta cena, ainda por cima não a contornas adequadamente na via judicial. Consta que executar dívidas judicialmente só lá para as calendas.

Portugal, cuida bem deste assunto, que é bem mais importante do que julgas. Se ainda dúvidas, então a crise financeira que te vai chegar ao longo dos próximos 5 anos vai dizer-te porquê.

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