quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Todos cumpriram o seu papel

SÁBADO, 3 DE JULHO DE 2010

O caso da oferta feito pela Telefónica sobre a Vivo demonstrou o papel de cada actor e o que se pode esperar deles.

A Telefónica, ambiciosa e ciente de querer ser uma das grandes empresas de telecomunicações do mundo, tentou comprar o pedaço mais interessante da PT e onde já tem uma posição significativa. Natural a sua intenção, mas, por agora, desastrada a forma dura como decidiu jogar. Não alcançou o objectivo a que se proponha, embora o jogo só agora tenha começado.

A gestão da PT fez o que lhe competia. Defendeu a sua dama e fez valer perante o mercado que a oferta inicial era muito baixa face às capacidades de gestão da PT em potenciar o crescimento da Vivo. Aparentemente o mercado acreditou no seu discurso. Após a Telefónica decidir aumentar o preço passou a bola aos accionistas.

Os accionistas da PT fizeram o que lhes competia, ou seja, decidir em função do seu interesse pessoal. Outrora o seu interesse pessoal tinha muito poucas condicionantes de necessidades de capital, pelo que o seu jogo era sempre todo ele voltado para o ataque. Mas nos dias que correm o capital é um bem muito, muito escasso. E isso obriga a outros raciocínios. O BES e a Ongoing, referências muito importantes na PT, estiveram do lado da venda após o segundo aumento da oferta. Não é de estranhar face às dificuldades em obter financiamento nos dias de hoje. Encaixar todo aquele dinheiro (ainda que indirectamente via PT, seja através de amortização de dívida, seja através de pagamento de dividendos, ou ambos) significaria passar a possuir uma almofada que o futuro próximo vai demonstrar ser coisa bem necessária. O BES já percebeu muito bem o estado da economia portuguesa e está bem ciente da questão delicada do financiamento às PMEs (para o seu Presidente mudar o discurso sobre as grandes obras públicas...). A racionalidade económica falou alto, e, felizmente, bem.

O Estado também esteve bem. A atitude da Telefónica não parece ter sido muito polida em todo o processo, pelo que o Estado fez muito bem em marcar a sua posição. E desenguenem-se quem pensa que esta atitude prejudica futuras privatizações. Somente prejudica aquela parcela quem tem o intuito de tomar atitudes muito agressivas. E estas nem sempre são as mais aconselháveis para os bons negócios. Se há empresários / gestores / fundos de investimento que não sabem isto até acredito. Mas a maioria sabe destas regras e são estes que acabam por ser determinantes no sucesso ou insucesso numa privatização. Mas o futuro próximo o dirá.

A pergunta que se coloca a seguir é: qual a cena dos próximos capítulos? A resposta parece ser simples. Vai-se tudo sentar à mesa para negociar porque o actual figurino em nada deve beneficiar a parceria existente na Vivo. Ambos os Estados, PT, Telefónica, e accionistas da PT (nomeadamente o BES) vão ter que falar muito.

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