quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Uma nova fase da crise vem aí

SEXTA-FEIRA, 26 DE FEVEREIRO DE 2010

Desde os mínimos atingidos em Março de 2009 as bolsas recuperaram bastante. No entanto, neste último mês verificou-se uma pequena correcção. Faço a seguinte leitura dos factos:

1. A descida vertiginosa das bolsas entre 2007 e Março de 2009 deveu-se ao facto de o mercado descontar uma descida significativa dos resultados, perspectiva de falências de muitas empresas, perspectiva de colapso financeiro, e queda abrupta da confiança entre os agentes intervenientes.

2. A paragem da descida vertiginosa deveu-se à feliz e competente intervenção dos agentes públicos (FED, BCE, governos, etc.). A história saberá premiar essa intervenção, coisa que nós, no meio do turbilhão, só com dificuldade o sabemos fazer. Basicamente estancou-se o sentimento de pânico e o consequente mecanismo descontrolado de feedback negativo (George Soros discorre bem sobre o tema da reflexibilidade)-

3. A recuperação das bolsas terá que ver, muito provavelmente, com a perspectiva de melhoria das condições económicas derivadas dos estímulos públicos (com o dinheiro dos contribuintes de hoje… e dos contribuintes de amanhã). Também não será alheio especular sobre uma recuperação técnica após semanas de pânico total.

4. Após o efeito dos estímulos, sobra a economia como ela é. E esse é o ponto em que nos encontramos actualmente. A partir de agora são as empresas que vão jogar o jogo como ele deve ser jogado, ou seja, competindo com naturalidade. Começa agora o verdadeiro campeonato.

Como já referi noutros textos, a velocidade com que ocorrem os ajustamentos é, em regra, o melhor antídoto para ultrapassar uma crise. Esta crise financeira, que vai durar uns 10 a 15 anos (vamos a caminho do terceiro) na Europa, e talvez uns 20 a 25 anos em Portugal, obriga a profundos ajustamentos, e de uma natureza que ninguém quer enfrentar a não ser que a isso seja obrigado. Quem quererá hoje voltar ao campo? Quem quererá hoje fazer os trabalhos executados pelos imigrantes? Sim, trabalho de serviço doméstico, de engomar e coser nas lojas da especialidade e servir à mesa. Quem quererá hoje voltar ao Mar para pescar? Quem quererá voltar à manufactura depois de tomar o gosto pela delícia do cafezinho com os colegas num escritório? Como convencer pessoas que há pouco tempo só perspectivavam ir de férias ao Brasil em proceder a estes ajustamentos no caso ser necessário?

Até ao momento o subsídio de desemprego vai dando, mas ele vai-se esgotar a prazo. O drama do parágrafo anterior vai ocorrer daqui a um ou dois anos. Mas temos ainda outra questão. O do aumento dos juros, coisa que lá para o fim do ano ocorrerá. A tão falada poupança de 300 euros mensais para quem tem empréstimo á habitação a 30 anos para um valor de 150.000 euros vai aos poucos esfumar-se. E isto toca a muitos. Por isso perspectiva-se um aperto geral do cinto. O governo já decidiu que não haverá aumentos na Função Pública. Medida correcta, mas ditada pelo argumento errado, ou seja, a pressão externa. Tudo isto encaminha-nos para o cenário real, ou seja, para o cenário onde para termos o que queremos teremos que produzir e vender mais ao exterior.

Este é o drama de um povo que nos últimos 35 anos se habituou a ser mais do que as habilitações que possui e que tem uma endémica dificuldade em exportar bens e serviços e que ainda por cima é desdenhoso para com o conceito de organização. É a face da crise que teremos que enfrentar em Portugal. Pertence a uma fase que ainda não chegou mas que já está aí ao virar da esquina. E posso garantir que será a fase mais longa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário