DOMINGO, 28 DE FEVEREIRO DE 2010
Ando por Lisboa e questiono-me quase sempre sobre a razão de existirem tantos carros. O automóvel é um elemento muito agressivo numa cidade. Quando andamos numa cidade com poucos automóveis sentimos de imediato o fervilhar, o rumor, a vibração, o respirar próprio dessa mesma cidade. Por não existir a invasão automóvel sobra espaço para sentirmos a pulsação da urbe.
Continuo a pensar que Lisboa tem condições para ser a cidade mais agradável para se viver na Europa. Estou longe de conhecer muitas cidades europeias, mas talvez a combinação do clima, da geografia e da luminosidade de Lisboa sejam algo de único. Gozando de todos os atributos próprios de uma capital, está nas nossas mãos moldarmos Lisboa para um nível de beleza e atractividade ímpar. E para que isso seja conseguido, de entre outras coisas, isso passa por inverter as prioridades no que toca à mobilidade, ou seja, efectuar investimentos muito agressivos ao nível dos transportes públicos (nomeadamente metropolitano, eléctrico e autocarros) acompanhado de penalização forte do transporte privado.
Penso nomeadamente na demarcação clara dos locais onde se pode estacionar, com a respectiva redução de espaço disponível para estacionamento, penso em taxa de utilização automóvel para residentes, e penso em aumento do preço do estacionamento. Se estas medidas forem acompanhadas de maior, mais frequente, e melhor oferta de transporte público, penso que teremos uma cidade bem mais agradável.
Isto não é exotérico nem especialmente ambicioso. Inúmeras cidades europeias o fazem. Sabemos que somos comodistas no feitio e que temos trejeitos de novo riquismo na atitude, sinais que em muito explicam a nossa predilecção pelo carro. Está na altura de friamente pensarmos bem no assunto e modificarmos as prioridades.
O que poderá ser exotérico é pensar que Lisboa poderia angariar uns 100.000 ou 150.000 estrangeiros para lá residirem. Tudo gente que por norma gosta de preservar património e que gosta de esplanadas e restaurantes, dando especial ambiente e animação à vida na rua. Tudo coisas que precisamos, ou porque não somos bons (preservar património), ou porque não temos dinheiro e tempo para tal (frequentar restaurantes).
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