QUINTA-FEIRA, 4 DE MARÇO DE 2010
Sempre me questionei porque este tema de neo-esclavagismo nunca tenha sido levantado nestes termos nos debates anteriores às eleições. Se calhar faz parte do pacote de um olhar "moderno" sobre como deve ser uma sociedade.
Existe muita dor escondida em muitas mulheres resultante da luta entre o relógio biológico e a carreira, no sentido de que esta para ser um sucesso obrigará a uma carga de trabalho de 12 horas por dia. No entanto verificaremos que a psicose de ter atingido o pleno sucesso aos 40 anos é um mito face à realidade do trabalho nos dias de hoje e no futuro. A geração actual que tem 40 anos, bem como as gerações seguintes, terão que trabalhar muitos mais anos do que a gerações passadas.
Para uma mulher que decidir iniciar uma carreira aos 40 anos ela deverá pensar que tem ainda 30 anos pela frente. E 30 anos é muito. Claro que há o argumento de que o rendimento aos 60 ou 70 não é o mesmo do que aos 30 ou 40. Pois eu não estou nada certo. Depende da actividade. Admito que aos 30 ou 40 anos fazemos as coisas mais rapidamente, mas aos 60 e 70 distinguimos muito melhor o que deve ser feito e o que não deve ser feito.
Vivemos numa transição onde nos regemos ainda pela mentalidade herdade. Temos muita dificuldade em tomar como normal o início de uma carreira aos 40 anos. A mentalidade será dobrada a prazo pelas exigências do mercado e pela realidade demográfica. Ainda me lembro que há 15 ou 20 anos era frequente os anúncios de trabalho nos jornais pedirem pessoas até os 27 anos (sim, 27!!!, nunca vou perceber se havia ou não algum acordo tácito). Há 5 anos atrás já era frequente ver limite de idade até os 35 anos. E garanto-vos que em 2030 o acordo tácito será 45 ou 50 anos.
A demografia tem destas coisas. Nunca me esquecerei que P.Drucker dizia no seu "Inovação e Gestão" que a demografia no futuro é de fácil previsão mas que raramente é tomada em consideração no presente para interpretar como será a realidade futura.
E porque gosto de apresentar soluções práticas a mensagem para todas as mulheres é, quer tirem os seus cursos ou não os tirem. Casem, tenham filhos e trabalhem sem a paranóia da carreira. Mantenham-se em actividade para manter um ritmo mínimo e um pé dentro dos assuntos da vossa área profissional, embora não enquanto tiverem a gozar as licenças de parto. E lá para os 40 ou 45 anos, e se o quiserem, então tenham a paranóia da carreira e então trabalhem muitas horas se o entenderem (até porque o marido já poderá estar mais maçador). Tenham sempre cuidado com aquelas mulheres muito “eficientes” e “modernas” que as olharão com um misto de desdém e inveja por não “abraçarem” a carreira pelo facto de andarem sempre grávidas. Sim, nos eventos sociais elas talvez façam mais furor, mas isso não importa. A vida é longa e vão ver que aos 50 ou 60 anos também poderão apresentar credenciais laborais, se é que isso vos entusiasmará. E com um requinte: o aplauso da prole.
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