QUINTA-FEIRA, 11 DE MARÇO DE 2010
Portugal, tens de uma vez por todas de passar a pensar que não é a medida A, B, ou C que te vai salvar. Pensas sempre que existe algo que vai sair da cartola e que, num ápice, vai resolver todos os teus problemas. Essa é uma atitude pouco madura, e penso mesmo ser bastante acriançada. Faz-me lembrar o jogo da “apanhada” onde o último “salva todos”, fazendo com que os outros jogadores nem precisem de se esforçar muito. E os teus cidadãos vivem mais ou menos nesta circunstância, pensando que se podem dar ao luxo de andar a fazer isto e aquilo sem se incomodarem muito com as consequências, e sempre na esperança que no fim venha o Estado e que diga: 1,2,3 Estado salva todos. Os exemplos mais ilustrativos dos dias de hoje são o TGV e o novo aeroporto de Lisboa.
Portugal, esse mundo onde algo na esfera do poder do Estado vai resolver os teus problemas não existe. Esse é um erro onde governantes e governados insistem em cair. Das forças que movem os governados nada se pode fazer no curto prazo. Já no que toca aos governantes há solução. E essa passa por abandonar esses projectos megalómanos e cumulativamente dizer aos Portugueses que a solução para Portugal depende dos Portugueses e da sua capacidade em realizar projectos, bem como dos estrangeiros que quiserem investir em Portugal. E deverão ser os próprios governantes a dizerem aos governados que a sua função como governantes é atrapalhar o mínimo possível nas acções empreendedoras da iniciativa privada (desde que isso não colida com o bem comum; penso, por exemplo, na questão ambiental).
Os governantes devem, na sequência do abandono da quimera das grandes obras, emitir os sinais de que todos os recursos arrecadados pelos impostos deverão estar ao serviço de toda a economia, e não só de uma parcela desta. A economia é de uma natureza tal que funciona tanto melhor tanto quanto tiver todos os seus elementos num nível de funcionamento mínimo, sem o prejuízo da falência de quem tem, e deve, falir. As grandes obras, pela sua natureza, são limitadas no seu alcance no tecido económico por não abrangerem uma grande parte de sectores, e por serem geograficamente discriminatórias. Existe um lóbi da construção que vai veiculando a ideia de que a construção mexe com muita coisa. Portugal, isso é conversa de construtor civil que, por natureza, só vê o elemento “hard” da economia, não vê o elemento “soft”. Aliás, não se conhecem países desenvolvidos cujo principal sector seja o da construção.
Portugal, precisas é de ter muitos projectos de dimensão média. Projectos de 10 milhões a 250 milhões de euros de investimento espalhados pelo País. Um País mede-se pelo grande número de projectos médios, não pelo pequeno número de grandes projectos. Quanto mais não seja pela dispersão do risco, argumento útil para o caso e muito pouco utilizado. Muitos projectos significam também maior oportunidade para os trabalhadores por conta de outrem, pois o maior número de empregadores é o melhor amigo do trabalhador mais produtivo. Este aspecto em muito beneficiaria a meritocracia pois evita que os melhores fiquem entregues a um oligopólio de meia dúzia de empregadores.
Portugal, reitero ainda um argumento de particular importância. Se abandonares os grandes projectos sobra mais dinheiro para emprestar a todos os outros projectos, e a um preço mais baixo. A “torneira” de dinheiro disponível jorra numa quantidade limitada, e é importante garantir que sobra em quantidade suficiente para todos os projectos que não o TGV e NAL, e já agora, a um preço (juro) que não seja leonino. Por isso é conveniente que não existam distúrbios na canalização de dinheiro para onde ele é mais produtivo, e em quantidade que respeite o equilíbrio entre a oferta e a procura.
Portugal, nada como serem os empresários a dizerem que projectos devem ser financiados. Quando os Governos são metidos ao barulho as opções saiem enviesadas, nomeadamente quando é muito acentuada a tendência para a corrupção e para o mexerico, características que tens mais do que devias. A tua história recente mostra como é podre a relação estreita entre governantes e as chefias das maiores empresas. Isto prova que o caminho das tuas grandes empresas deve ser independente dos arbítrios resultantes das relações entre o poder político e económico. As tuas grandes empresas só deverão, doravante, pensar nos mercados internacionais e servir-se do mercado nacional como mero local onde amadurecem o seu “core business”.
Portugal, espero que percebas que só existem vantagens nos projectos mais pequenos. Se não encontrares empresários lusitanos adeptos de projectos entre os 10 e os 250 milhões de euros, então busca-os lá fora. Eu até talvez começasse mesmo além fronteiras de modo a irrigar este País com outras gentes e com outras mentalidades. Mescla de culturas ao nível dos empreendedores é um excelente tónico para contagiar os outros segmentos da população. Isso não é coisa que se faça com grandes empresas de construção civil polvilhadas de ex-governantes. Faz-se com gente simples, de ideias simples, com um mínimo de visão, sem agendas pessoais, amantes do esforço, e com projectos transparentes debaixo do braço. E estes elementos são indiferentes à cor da pele e à cultura, e até são de uma natureza tal que acharão por certo graça irem empreender para locais aprazíveis desde que os não atrapalhem em demasia.
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