quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Descubramos a nossa Alma e sejamos felizes

In "Tratado da Política" de Aristóteles

“Ninguém contestará a divisão habitualmente feita pelos filósofos dos bens em três classes: os da alma, os do corpo e os exteriores. Todos esses bens devem encontrar-se nas pessoas felizes.

Nunca se contará entre as pessoas felizes um homem que não tem nem coragem, nem temperança, nem justiça, nem prudência; receia até o voo das moscas; que se entrega a todos os excessos no comer e no beber; que, pelo mais vil interesse, mataria os seus melhores amigos; que se mostra tão provido de razões como as crianças e os furiosos.

Mas, embora se esteja de acordo nestes princípios, há sempre opiniões divergentes em maior ou menor número de pontos. A maioria, pensando que lhes basta ter um pouco de virtude, desejam imenso ultrapassar os outros em riqueza, em poder, em glória e noutras vantagens semelhantes. A esse respeito é fácil saber em que ponto se deve ficar; basta para isso consultar a experiência. Todos vemos que não é pelos bem exteriores que se adquirem e conservam as virtudes, mas que é, antes, pelos talentos e pelas virtudes que se adquirem e conservam os bens exteriores; e que, quer se faça consistir a felicidade no prazer ou na virtude, ou em ambas as coisas, os que têm melhor inteligência e melhores costumes atingem-na mais cedo com uma fortuna medíocre do que aqueles que têm mais do que o necessário e que não possuem outros bens.

Por pouco que queiramos dar atenção a isto, a razão é suficiente para nos convencer. Os bens exteriores não são mais do que úteis instrumentos, se são proporcionados ao seu fim, mas semelhantes a qualquer outro instrumento cujo excesso prejudica necessariamente ou é, pelo menos, inútil àquele que o emprega. Pelo contrário, os bens da alma, não são somente honestos, são também úteis, e quanto mais ultrapassam a medida comum mais utilidade têm.

… a alma, pela sua natureza e relativamente a nós, é dum valor muito diferente do do corpo e do dos bens, os seus bom hábitos ultrapassarão os das outras substâncias. Tais bens só são desejáveis para ela e todos os homens os desejam para a alma e não a alma para eles. Tenhamos, pois, como pacífico que não há felicidade para qualquer senão na medida em que tem virtude e prudência e em que age em conformidade com elas. Temos disto o exemplo e a prova em Deus, que é feliz, não por qualquer bem exterior, mas por si próprio e pelos seus atributos essenciais. A felicidade é muito diferente da fortuna. É da fortuna que nos vêm os bens exteriores; mas ninguém é justo ou prudente em razão da fortuna nem por seu intermédio.

Dos mesmos princípios depende a felicidade do Estado. É impossível que um Estado seja feliz se dele for banida a honestidade. Sem a virtude e sem a prudência nada de bom se pode esperar dele…”

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